segunda-feira, 30 de maio de 2011

O SANTO HOMEM E A LEI DA GRAVIDADE

Na  época da “rebordosa” ou dos anos de chumbo onde o lema era: direita volver e o verde oliva a cor oficial nos carros a gente podia ler – Brasil – Ame ou deixe-o e os Incríveis cantavam “Eu te amo meu Brasil eu te amo, meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil... eu tem amo!” E  num porto não muito alegre um certo sargento Raimundo apareceu boiando no Guaíba morto com as mãos amarradas... Depois se descobriu que o sargento por não delatar seus companheiros foi levado para a beira do rio e torturado, porém num descuido dos trogloditas covardes, o sargento escapou e entrou rio adentro onde se afogou. E nos festivais da Record, Geraldo Vandré falava das flores vencendo os canhões. Em Porto Alegre nos altos da Borges, Jairo de Andrade, um herói enlouquecido de esperanças encenava Mokimpot no seu Teatro de Arena berço da resistência e ainda na terra Brasil, o Chico Buarque cantava apesar de você e ainda avisava ao Augusto Boal que “a coisa aqui está preta” e o rei foi na Inglaterra onde visitou Caetano no exílio e depois enrolou a censura cantando “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos...” E nossa pimentinha, Elis Regina com o “Bêbado e o equilibrista”, cobrava a volta do irmão do Henfil (Betinho) e denunciava  que muita gente sumiu  num rabo de foguete. Na America Latina inteira o “Condor” mostrava suas garras, exemplo clássico: Lilian Celiberty e Universindo Dias.  No planeta bola, o Inter formava um dos melhores times da sua história e contratava junto ao Penharol do Uruguai, o melhor zagueiro do mundo, Elias Ricardo Figueroa Brander, ou simplesmente Figueroa. Quando chegou diziam que o gringo era baixinho... Foram ao Aeroporto e descobriram que tinha 1,88, portanto era alto. Alguns diziam era extremamente feio, porém não era verdade, pois logo caiu no agrado da mulherada... Os mais céticos afirmavam que Figueroa era um zagueiro tosco que chutava para onde apontava o nariz... ( tipo Felipão). No primeiro treino todos comprovaram que era técnico, dominava a bola no peito, mas se preciso fosse endurecia e seu cotovelo ficou conhecido por muitos (Palhinha, Tarcisio...) E por último diziam que ele era um ignorante; um alienado. Um dia num jantar na casa de Érico Veríssimo em Petrópolis, Figueroa após uns vinhos olhou o céu porto-alegrense e citou um poema de Pablo Neruda. Pronto... Era alto, bonito, sabia jogar com elegância e ainda era um erudito! E no Morungava tinha gente que esperava pela volta do Brizola... Lá por 1976 havia apenas a Arena (base do regime militar) e o MDB que abrigava a todos os segmentos ideológicos que se opunham ao golpe que muitos teimam ainda hoje em dizer que foi revolução (foi golpe, pois a Constituição foi rasgada num quartelaço golpista, alías, o Brasil deveria aprender um pouco com a Argentina com relação a este passado que a gente não pode e não deve esquecer). E na minha Morungava havia um vereador da Arena chamado João de Deus, político astuto, daqueles que trocava pneu de avião no ar ou se fazia de porco vesgo para comer em dois cochos.  O João era uma versão tupiniquim do Antônio Carlos Magalhães (Toninho Malvadeza), resguardado é óbvio as devidas proporções. Conta-se que um dia lá pelas bandas do Passo da Caveira, em busca de votos, João parou a Rural Willys e chegou numa casinha humilde beira de estrada, onde perguntou a uma velha senhora “Como vai o seu esposo?” E a velhinha sorvendo um chimarrão, meio contrariada, retrucou: “Meu marido seu João, morreu faz três anos”. Disfarçando e tentando remendar o furo, o velho João de Deus com ar professoral lascou: “Morreu para a senhora, mas para mim que era amigo dele... O coitado continua vivo aqui dentro”, observou quase em lágrimas. A velha senhora de cabelo branco com a neve dos Andes já irritada disse: “Ainda bem que morreu aquela praga seu João. Ele só bebia e xaropeava todo mundo”; admitiu a quase octogenária senhora. Para não perder o voto, ainda tentando remendar, o político de olhar aquilineo argumenta olhando para dentro da sala da casinha humilde com as paredes caiadas “Mas não parece senhora... Tudo indica que ele era um homem bom... Veja só a foto dele neste quadro aí na parede da sala... Até parece um santo!” destacou João de Deus. E aí perdendo a estribeira a velhinha contrariada com a vassoura na mão em atitude ameaçadora observa: “Seu João aquele ali no quadro não é o meu velho... Aquele ali é um quadro do Padre Reüs”. Depois da furada João se despediu e seguiu com sua Rural pelo Morungava a fora em busca de votos.  Outra feita ele prometeu para um colono lá do Pituva a construção de um açude. Passados dois anos do pleito, o velho João de Deus chegou no sítio do colono que mais bravo que nenê cagado reclamou da não construção do açude prometido em troca do voto. “O pessoal da Prefeitura veio aqui, mas disseram que não dá para fazer o açude por causa de uma tal lei da gravidade” Mas o vereador João de Deus para não perder o eleitor garantiu: “Olha este negócio eu não estava sabendo, mas é coisa da oposição... Fica tranqüilo que vou criar um projeto para acabar com esta tal lei da gravidade e teu açude vai sair”, afirmou todo cheio de razão o atilado vereador do Morungava.

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