quarta-feira, 25 de maio de 2011

EMÍLIO VETTER: 60 ANOS CONSTRUINDO CARÁTER!

No mês de junho de 2011 (18.06),  a Escola Municipal de Ensino Fundamental Emilio Vetter completará seis décadas de existência.... E aí paro e viajo no túnel do tempo retornando ao ano 1974 quando chegamos ao bairro Rio Branco. Minha família formada por colonos perdidos no asfalto veio para Campo Bom em 1969 em busca de dias melhores no Vale que emanava leite e mel. Como milhares de famílias ajudamos a construir a riqueza do Vale do Sapato. Primeiro residíamos na bucólica Rua dos Gringos e depois veio à casa própria na Rua Tapajós no Rio Branco.  Eu e meus sobrinhos crescemos no Morro e ali aprendemos muitas lições sobre a vida, principalmente a da solidariedade e do partir do pão entre amigos. Neste período a escola ficava na Tapajós onde hoje funciona a creche Sempre Viva e o Posto de Saúde. O prédio antigo de madeira durante o dia ficava repleto de crianças em suas algazarras primaveris. Naquele tempo a gente era feliz e não sabia, fora uma dor de dente, um dedão destroncado nos embates futebolístico, tudo era calmo, tranqüilo e límpido como as águas do arroio Quatro Colônias que permeia o bairro. Neste arroio além dos banhos escondidos dos pais, a  gente não raro pescava. E que delicia lambari fritinho ou muitas vezes até uma trairazinha caia no anzol. Tempo bom que se foi e não volta mais. Hoje quase cinquentão (4.7) me pego pensando no “Emilio” e estufo o peito dizendo: que escola! Recordo o primeiro dia de aula, o medo de ficar sem a mãe por algumas horas e aquela angustia do “abandono”, mas tudo compensado pelo sorriso e o carinho da professora Vanéa Algayer que fazia seu estágio. Ainda lembro como se fosse hoje a professora descia de um táxi dirigido pelo seu esposo. Eles moravam em Canudos, porém a professora Vanéa conhecia a realidade sócio econômica e educativa do Morro das Pulgas com maestria, pois era filha do Pacheco que outrora possuíra um salão de baile na Rua Tomé Paz ( bem na frente do Lanche do Claudinho e da Rosí). O salão anos antes de morarmos no Rio Branco havia sido destruído por um incêndio, restando no bairro ainda a Sociedade Esportiva Rio Branco na Andradas com sua cancha de bolão e os famosos carteados (canastra, pife ou pocker). Aos poucos fui me adaptando na escola e descobrindo outro mundo. Por volta das 9 horas da manhã o momento era solene, pois participávamos da hora da merenda... Verdadeiros manjares eram feitos pela dona Ernesta (mãe da Leontina) e depois pela dona Dorciria ali da Santa Lucia (Mãe do Claudinho, da Carmen e da Eliana). Dona Ernesta vinha com um papelzinho e um lápis onde havia a tabuada , batia a porta da sala e avisava: “Crianças hoje é massa com carne moída” ou “ Hoje é sopa de legumes”. Quem desejasse participar da merenda levantava o dedo e dona Ernesta anotava. Depois descobri que para muitos dos meus colegas aquele lanche representava o almoço. Era a merenda da esperança.  E os recreios e as lúdicas brincadeiras de “Lex”, “esconde, esconde”, alguém ainda brinca disso? Caçador? “Ovo Podre está passando ninguém está olhando” E os jogos de carteira? Eram confeccionados espécies de notas tipo dinheiro com carteira de cigarros vazias e com uma telha quebrada jogava-se bem ao estilo do jogo de pinica ou bulita. Mas o bom mesmo para os guris eram as partidas de futebol que não raro terminavam a exemplo dos confrontos entre Brasil e Argentina. Fechava o pau nos clássicos entre a quarta e a terceira série, mas tudo se acalmava quando chegava de forma providencial o árbitro, digo a professora Isolina ou a dona Dorinha que levava uns três de cada time para a secretaria. Aula terminada e os brigões retornavam todos juntos para seus lares, íamos à escola sem qualquer medo da vida! Não havia necessidade de brigar na rua, pois já brigávamos para sobreviver. No meio do ano terminado o estágio a professora Vanéa nos deixou e aí passamos a ter aula com a professora Sally Stoffel que no começo impôs aquele estilo duro para a turma não derrubar a sala, mas com o passar dos anos tivemos a alegria de conviver de forma fraterna com uma das maiores educadoras que Campo Bom já teve. Tive a honra e o privilégio de ter sido aluno da dona Sally durante quatro anos no Emilio Vetter. Dona Sally literalmente amava o magistério e mais do que isto amava as crianças. (Professor que não ama as crianças tem que estar em qualquer lugar menos em sala de aula) Quando este jornalista que sempre detestou matemática (desde pequeno sempre gostei de sopa de letrinhas) apresentou problemas com frações, lembro que numa tarde de inverno, fria e chuvosa de julho, dona Sally bateu a porta de minha casa e passou no turno oposto, sem ganhar hora extra, uma hora tirando minhas dúvidas e auxiliando-me a entender o conteúdo passado pela manhã. Após o café com bolinhos ela seguiu pela Tapajós e foi até outros alunos que também apresentavam problemas semelhantes. Onde será que estão às donas Sallys modernas? Ainda existem?  E os ensaios para o desfile de 7 de setembro? A gente ensaiava pelas ruas ainda de chão batido do bairro de forma garbosa e alegre para fazer bonito na Avenida Brasil. Na metade de 1976 senão me falha a memória deixamos o velho prédio de madeira e fomos para as belíssimas instalações onde ainda hoje funciona o Emilio Vetter.  A obra do prefeito Werner Ricardo Bohrer abrigou alunos e sonhos. Em 1977 conclui minha trajetória pelo glorioso Emilio Vetter. Como tantos outros amigos e amigas do Rio Branco segui meu caminho, mas hoje ainda paro, penso e concluo: muito daquilo que sou devo a Escola Emilio Vetter e a seus professores. Sou um pouquinho da  – Lenira Lessa – Dorinha – Isolina – Vania Blos – Sally Stoffel – Angelica – Carminha Cornelly – Leilane Strunck – Rejane Roth Eloy,  Gessy Blos e outras. Voltando a nossa realidade e a inversão de valores na qual estamos inseridos fico a pensar será que as coisas mudaram mesmo? Ou será que estou ficando velho e piegas?  Naquele tempo no Rio Branco todos se conheciam e havia uma cumplicidade entre as famílias, ou seja, todos se protegiam, se respeitavam ....  Nós éramos as crianças do bairro.  Aos domingos a tarde a gente assistia aos clássicos entre Oriente e 15, ou Oriente e Americano de Canudos ou até mesmo Oriente e 7 de Dois Irmãos... E por falar em craque naqueles tempos os craques do Rio Branco existiam, mas ou jogavam no Guarani ou na Padaria... Craque naquele tempo era sinônimo de futebol e a droga mais temida era a cachaça. Tempos bons.  Quem não recorda das festas promovidas pelo CPM do Emilio para angariar fundos, com meio frango, pescaria, tiro ao alvo e reunião dançante. Como sentenciei anteriormente a escola Emilio Vetter deveria ter a alcunha de “Oficina de Cidadãos”.  Neste educandário os jovens recebiam dos educadores as mais belas e importantes aulas de ética e cidadania; disciplina esta que não estava ainda na grade de matérias. As mestres do Emilio Vetter na minha modesta avaliação foram formadoras de caráter. E agora chegou o momento de assoprar as velinhas deste sexagenário  colégio que ao longo de cinco décadas não perdeu a ternura e continua investindo no maior patrimônio do bairro e porque não dizer de Campo Bom que é justamente as crianças, ou melhor as nossas crianças! E confesso que em muitas oportunidades nas minhas divagações nas quais viajo sem sair do lugar, me pego menino andando pelas ruas do Rio Branco (na época todas de chão batido), com uma  sacolinha de pano branco onde se lia Moinhos Rio- grandense S.A, feita  pela vó Guina na qual havia um lápis, dois ou três cadernos, borracha, apontador e não raro dentro de um saquinho de cristalçúcar uma fatia de pão de milho com chimia e nata e as vezes até uma banana ou um ovo cozido. E não raro esta merenda era repartida com os coleguinhas que como eu às vezes não tinha merenda. No Emilio aprendi a solidariedade. Nesta simples “sacolinha de saquinha” de trigo eu levava mais que cadernos e merenda; carregava um ingrediente fundamental: esperança. Pelas ruas do meu bairro seguia feliz em direção aos Emilio Vetter. Sim porque na minha época todos os caminhos levavam ao Emilio; a nossa “Padaria D’Alma”. Hoje de forma poética e lúdica vislumbro um pouco de mim nos meninos que seguem pela ciclovia em direção a escola que completa 60 anos de puro comprometimento com a educação libertária, contribuindo para a formação do novo homem, um ser protagonista e agente de transformação do meio em que vive! Parabéns  ao atual quadro de educadores, direção, servidores, CPM e alunos, bem como, a todos que estudaram ou trabalharam no Emilio e que hoje se juntam numa só voz a dizer: Parabéns a você!  

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