terça-feira, 10 de maio de 2011

100% MORUNGAVA

Nas bucólicas paragens de Morungava você sente o convívio fraterno entre homem e natureza. Já escrevi que em Morungava dificilmente alguém morre de problemas cardíacos, de derrame ou tão pouco alguém sofre de depressão. Morungava é lugar para ser feliz e viver. Sítios lindíssimos, cachoeiras, estradas vicinais com as laterais ornamentadas por flores do campo, tudo tendo como pano de fundo o morro do Itacolomi. Em Morungava ninguém tem pressa e após o almoço a “ciesta” até as 15 horas é certa. Êta  lugarzinho bom de se viver! E lá nesta terra encantada é que vivia o tio Dino com suas histórias fantásticas e todas verdadeiras. No sítio do tio Dino havia um açude pequeno que para atravessar de caico levava mais ou menos umas duas horas. Nesta região viveram num passado distante os índios que eram denominados de “bugres” e por lá muitas lendas são contadas. A cultura popular definiu muitas crendices que fazem parte do folclore. Inclusive este açude nas terras de tio Dino afirmavam os antigos que a noite se via uma embarcação fantasma. Como todos sabem meu tio era exímio pescador e numa de suas pescarias as margens do açude do tio Gomerço como é conhecido até hoje, o velho Dino todo apetrechado, mais faceiro que ganso novo na beira de taipa de açude, preparou a pescaria juntamente com seu amigo de pescaria, o velho Ancelmo. Depois de muitas horas ali naquele ritual de pesca, sentados a beira do barranco, tio Dino juntava estrume de vaca para manter acesa a fogueirinha espantando assim os pernilongos. Ancelmo sentiu que o peixe fisgou o anzol quase com chumbada e tudo e prendeu o grito “Dino corre cá... Home vem ver o que eu pesquei”. Para surpresa do seu Ancelmo havia uma traira com dois dentes de ouro. Metódico e sem ser assustado, tio Dino sentenciou: “Solta ela Ancelmo” O que foi repudiado pelo amigo “Tu tá louco são dois dentes de ouro”. Olhar atento, tio Dino pigarreou e lascou: “Outro dia eu pesquei esta traíra e ela tinha só um dente de ouro. Solta a bichinha que daqui um tempo todos os dentes serão de ouro e aí a gente tá rico Ancelmo”.  Em Morungava ninguém rasga dinheiro e pensando um pouco seu Ancelmo resolveu soltar a traíra nas águas do açude. Após o jantar, a base de carne de panela, feijão mexido, salada de tomate e cebola, os amigos sentaram novamente na barranca, degustando um café de cambona, enquanto preparavam as iscas.  Foi aí que tio Dino sentiu um puxão na linha e pela força o bicho era grande. Depois de na “manha do ganso”, cansar o peixe, tio Dino foi puxando lentamente e aí é que consiste o prazer da pescaria. Para surpresa da dupla, pescaram outra traíra. Imediatamente foram até a boca do peixe e verificaram que não havia nenhum dente de ouro neste peixe. Retirado o anzol ao colocarem a traíra no balaio o inusitado aconteceu, para surpresa dos dois, a traira falou: “Não me mata não, pois eu sou o dentista deste açude” Imediatamente tio Dino e seu Ancelmo devolveram o peixe odontólogo ao seu habitat natural.  Certa feita numa pescaria no banhado do Chico Lumã, tio Dino e seus dois parceiros enfrentaram um temporal e acabaram perdendo as iscas. Como todo morungavense não se aperta, tio Dino pediu uma caneta para o Ismael e de posse de um papel escreveu: Isca. Todos ali boquiabertos não acreditando aguardavam o desfecho. Anzol com o papel escrito isca é jogado na água e poucos minutos um puxão assinalava que um peixe  havia fisgado a isca virtual do tio Dino. Depois de mais três tentativas exitosas, novamente um puxão na linha e para surpresa de tio Dino havia um bilhete no anzol escrito: peixe!

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