quinta-feira, 24 de março de 2011

OS PORCOS DO TIO DINO

Quem conhece Morungava sabe de sua exuberante natureza, estradas de chão batidas repletas de flores do campo junto ao barranco. Não raro você poderá vislumbrar um casal de João-de-barro construindo sua casa num moirão da porteira ou quem sabe poderá ouvir o canto dos sabiás e o gado a pastar no campo.  Nas tardes de primavera  com paciência e silêncio a gente pode ver sobre as taipas as temíveis cobras cruzeira se aquecendo. Morungava é um local lindíssimo tendo como pano de fundo o Morro do Itacolomi. Quem conhece Morungava retorna, pois a hospitalidade é o ponto alto deste povo de sorriso fácil e de aperto de mão forte e firme.  Se tem algo que Morungava não tem, este algo é a pressa da cidade grande. Após o almoço, a ciesta é certa e pode ter certeza que faz bem, pois dificilmente sabe-se de um morungavense que morreu de ataque cardíaco, portanto dormir após o almoço faz bem! Se você chegar numa residência em Morungava por volta das 11 horas, rejeitar o convite para o almoço soará como desfeita, aceite. O almoço é simples, mas tem sabor de amizade – carne de panela, feijão, arroz soltinho, salada de tomate, alface, ovo estrelado e em alguns casos até feijão mexido com laranja, sem contar no feijão com couve, ou pirão com costelinha... Uma delicia. A sobremesa quase sempre é doce de abóbora ou de melancia. Não obstante em algumas casas você será contemplado a famosa ambrosia e se elogiar tem chances de ganhar um vidrão deste manjar de presente. Após o almoço café passado na hora e broa de milho. Assim é Morungava. Lá neste torrão é que viveu Tio Dino personagem que o Dr. Chicão e o Marcos Riegel teimam em afirmar que é fictício. Tio Dino sempre muito esperto, um dia decidiu apoiar um candidato a prefeito, porém o mesmo perdeu a eleição. O novo prefeito sabedor que Tio Dino havia apoiado o adversário enviou um fiscal da saúde (lá em Morungava a gente chama de o homem da higiene) O fiscal perguntou a meu tio o que ele dava para os porcos comerem. E prontamente ele disse: “Dou milho e lavagem”. O fiscal retirou um bloco e multou o mesmo em 125,00 reais dizendo que pela lei municipal 2.876  ele deveria dar ração também.  Duas semanas depois o fusquinha do “homem da higiene”, chegou ao sítio novamente e o fiscal foi logo perguntando: “O que o senhor vem dando para os porcos seu Dino?”. Tirando o chapéu o velho Dino de guerra disse: “Olha, dou lavagem, milho e ração”. O fiscal sorrindo questionou: “O senhor não dá complemento energético para os suínos?” Tio Dino que não mentia, afirmou: “Não”. O fiscal aplicou uma nova multa segundo o mesmo baseada no Código de Postura Animal. O velho Dino estava mais bravo que marimbondo estucado com taquara e estopa com querosene na ponta, mas pagou a multa. Um mês depois o fusquinha azul do “homem da higiene” chegou ao sítio. E o fiscal perguntou novamente: “E ai seu Dino e o que o senhor tem dado de alimento para seus porcos?”. Enquanto Tio Dino coçava a cabeça e preparava a resposta, o fiscal já tirou o bloco de multa da pasta, mas foi aí que Tio Dino respondeu: “Olha depois desta modernidade toda e de tantas leis, decidi evoluir e agora dou dez reais para cada um dos porcos e eles comem o que desejar e alguns inclusive vão até o centro nas lancherias”.  O  fusquinha azul nunca mais apareceu no sitio do Tio Dino.

quarta-feira, 23 de março de 2011

TIO DINO E O PRESENTE

Já em diversas oportunidades escrevi e relatei sobre Morungava minha terra. É um recanto bucólico cercado de sítios num local exuberante onde a natureza foi muito complacente. Figueiras centenárias e seus frondosos galhos ornamentam a paisagem.  Lá no Morungava morava o Tio Dino um personagem pitoresco e cheio de histórias (todas verdadeiras).  Tio Dino morava num sítio lindíssimo, onde os passarinhos cantavam livres em verdadeiras sinfonias.  Outro dia escrevi sobre o Jorge Bogowsky e suas pescarias, mas lembrei que uma vez o tio Dino  desenvolveu uma parafernália tecnológica (Segundo o André Rapack lá do 25 de Julho também é usada pelo João da Corsan) implantou uma espécie de chip e colocou nas redes para pescar voga numa lagoa no interior do sítio. Quando havia em torno de 200 quilos de voga, o chip acusava lá no computador do meu tio que só tinha o trabalho de retirar as redes. Vogas pescadas, tio Dino fazia pastel de coração de voga e vendia para um restaurante famoso de Porto Alegre.   A briga por terras existe em toda parte e o latifúndio improdutivo gerado pela ganância fez e faz muito estragos na América Latina.  Num passado não raro os donos de grandes extensões de terras faziam uma proposta de compra dos pequenos sítios e o valor muitas era bem abaixo do preço de mercado. Caso  o pequeno agricultor não aceitasse a “oferta”, muitas vezes acidentes aconteciam.  Bois sumiam, cachorros envenenados, cercas eram quebradas, galpões incendiados misteriosamente e a noite muitas vezes balas perdidas acertavam  portas e janelas da casa. O medo fazia com que a área de terra do pequeno agricultor fosse vendida e a cerca da grande fazenda avançasse.  Esta política prevaleceu no campo gaúcho durante muitos anos.  Lá pelo final dos anos 60, um poderoso fazendeiro que possuía uma propriedade lindeira a do tio Dino “encafifou” de comprar o sitio de apenas 32 hectares, tudo em função da grande lagoa e do campo (pasto) bem cuidado. Depois muitas propostas tio Dino que nunca foi de meia conversa disse que o sitio não estava a venda. O velho Dino de guerra costumava a parafrasear: ”Só não me péla com a unha quem pretende me pelar. E depois que eu fico brabo não adianta me adular”. Depois das pressões e das ameaças, tio Dino que nunca afrouxou o garrão, nem envergava a espinha, agüentou no osso do peito. E aí é que o fazendeiro mais ladino que mascate forjou  bem na forma de alarife um documento de compra e venda com uma assinatura falsificada. Marcada a audiência, tio Dino contratou um advogado experiente para defendê-lo. Sabedor que o juiz era um dos melhores e um homem muito austero, dois dias antes numa conversa para definir uma estratégia para a audiência tio Dino perguntou ao advogado: “Seu doutor advogado o que é que o senhor me diz, dá gente mandar uma das minhas ovelhas de presente ao senhor Juiz?”. O advogado mais assustado que sapo em cancha de bocha avisou: “Seu Dino não faça uma coisa destas que o senhor é preso, pois o Juiz vai interpretar como suborno e a gente perde a causa”. Tio Dino que era ladino como as cobras e prudente como a s pombas observou: “Não tá mais aqui quem falou doutor”. No dia da audiência o arrogante fazendeiro e seus capangas no Fórum da cidade contavam certo com a vitória, mas para surpresa o Juiz deu ganho de causa para meu tio. Na saída do Fórum, tio Dino disse ao jovem advogado. “Vou confessar uma coisa doutor, mesmo contra sua orientação mandei de presente uma ovelha ao doutor juiz de direito e ainda junto enviei um bilhete”. O advogado teve calafrios, com os olhos esbugalhados  perguntou: “O senhor ainda enviou um bilhete seu Dino?”. “Sim dizendo que era um presente sem compromissos ao juiz e assinei o nome do fazendeiro”.  Tio Dino como todo morungavense não se apertava e os ladinos da cidade muitas vezes dando uma de espertos se dão mal. Tem gente que se faz de porco vesgo para comer em dois coxos.  

JORGE BOGOWSKY: O PESCADOR

A vida é feita de episódios inusitados onde vivenciamos momentos mágicos. A amizade é um grande tesouro, conforme relata com sapiência o ex-vice-prefeito Delmar Teixeira de Moraes “Casquinha”, autor do livro A Menina do Rabicó Azul, na vida ter amigos é fundamental e necessário, segundo Casquinha até para morrer é preciso a presença dos amigos, do contrário quem carregaria o caixão?  Amigos são bênçãos dos céus e muitas vezes são anjos disfarçados que estão aqui para nos mostrar o caminho. Outro detalhe: amizade a gente não escolhe, elas surgem, se fortalecem e não é necessário estar sempre junto para ser um grande amigo, mas é certo que quando a gente necessita aquele amigo se faz presente na hora da tribulação. Aqueles com quem sorriste, estes poderás esquecer, mas com quem chorastes, estes jamais esquecerás! E por falar em amigo, quem não lembra do Jorge Bogowsky, exímio impressor da Caeté e depois da Papuesta. Aposentado, o Jorjão deixou os atropelos da cidade e se bandeou para o litoral, vivendo uma vida sossegada e de paz, ouvindo o barulho do mar, meditando e aproveitando o tempo caminhando na beira da praia, pescando, coçando e passando Hipoglós para não asssar. Ao amanhecer, Jorge é acordado pelo canto dos sabiás que numa sinfonia harmoniosa inundam o ambiente. O Jorge vive visceralmente aquilo que o filosofo Domenico de Mais apregoa: o ócio criativo.  Um dos passatempos prediletos do campo-bonense que vive próximo a Torres é pescar. Exímio pescador tanto na tarrafa como com rede e até com linha Jorge não se aperta. Segundo Ermelindo Gonzatto “Déco”, futuro prefeito de Araricá e cunhado de Jorge,  o último peixe que Bogowsky pescou era tão grande que só a foto pesou cinco quilos. Mas dois episódios protagonizados pelo nosso herói Jorge são inéditos e verdadeiros. O primeiro deles aconteceu aqui em Campo Bom. Nas férias Jorge visitando os parente se deslocou até a barranca do Sinos, ali próximo a parte das Bombas da Corsan no Recanto, mais precisamente na Rua João Goulart, onde juntamente com o Juliano Polidoro foram pescar de linha.  Não demorou muito para o grumatã puxar a linha e para surpresa da dupla, o peixe era enorme, mas o estranho era que não pesava muito, mas, no entanto o mesmo apresentava algumas anomalias, pois era enorme, com quase um metro de cumprimento por 70 centímetros de diâmetro. A dupla na barranca do Rio dos Sinos optou por limpar as vísceras do grumatã anômalo, quem sabe fruto da poluição química, mas para surpresa dentro do ventre do peixe havia duas garrafas (litrões pet) de refrigerante. Eles garantem que é verdade.  Outro dia Jorge chegou em Campo Bom e me presenteou com duas tainhas uma de dois quilos e meio e outra de quatro quilos e me contou a boca pequena que quando foi morar no litoral pensou que sua casa fosse mal assombrada. Toda noite a Eni esposa do Jorge ouvia barulhos embaixo do assoalho de cabriúva. Um dia Jorge ficou escutando e percebeu que a esposa tinha razão, estrondos tipo: toc...toc.. bum...bum... bum. No outro dia de posse de uma lanterna, espingarda, granada de fabricação caseira, celular e GPS, o super Jorge entrou embaixo da casa. Para surpresa, o inusitado aconteceu. O campo-bonense  constatou que por baixo de sua residência havia um canal de ligação direta com o mar e que o barulho que ouviam a noite embaixo do quarto, nada mais era que peixes migratórios maiores que se dirigiam quem sabe para a parte mais ao sul do Atlântico e que batiam no assoalho, perturbando o sossego dos Bogowsky.  Como bom campo-bonense, Jorge uniu o útil ao agradável, fez um alçapão no quarto e toda vez que precisa de peixes, abre o alçapão e os peixes pulam em cima de sua cama. Aliás, as duas tainhas presenteadas a este jornalista foram pescadas assim.  E tem gente que ainda não acredita em histórias de pescador.... Que povo incrédulo!