quarta-feira, 23 de março de 2011

TIO DINO E O PRESENTE

Já em diversas oportunidades escrevi e relatei sobre Morungava minha terra. É um recanto bucólico cercado de sítios num local exuberante onde a natureza foi muito complacente. Figueiras centenárias e seus frondosos galhos ornamentam a paisagem.  Lá no Morungava morava o Tio Dino um personagem pitoresco e cheio de histórias (todas verdadeiras).  Tio Dino morava num sítio lindíssimo, onde os passarinhos cantavam livres em verdadeiras sinfonias.  Outro dia escrevi sobre o Jorge Bogowsky e suas pescarias, mas lembrei que uma vez o tio Dino  desenvolveu uma parafernália tecnológica (Segundo o André Rapack lá do 25 de Julho também é usada pelo João da Corsan) implantou uma espécie de chip e colocou nas redes para pescar voga numa lagoa no interior do sítio. Quando havia em torno de 200 quilos de voga, o chip acusava lá no computador do meu tio que só tinha o trabalho de retirar as redes. Vogas pescadas, tio Dino fazia pastel de coração de voga e vendia para um restaurante famoso de Porto Alegre.   A briga por terras existe em toda parte e o latifúndio improdutivo gerado pela ganância fez e faz muito estragos na América Latina.  Num passado não raro os donos de grandes extensões de terras faziam uma proposta de compra dos pequenos sítios e o valor muitas era bem abaixo do preço de mercado. Caso  o pequeno agricultor não aceitasse a “oferta”, muitas vezes acidentes aconteciam.  Bois sumiam, cachorros envenenados, cercas eram quebradas, galpões incendiados misteriosamente e a noite muitas vezes balas perdidas acertavam  portas e janelas da casa. O medo fazia com que a área de terra do pequeno agricultor fosse vendida e a cerca da grande fazenda avançasse.  Esta política prevaleceu no campo gaúcho durante muitos anos.  Lá pelo final dos anos 60, um poderoso fazendeiro que possuía uma propriedade lindeira a do tio Dino “encafifou” de comprar o sitio de apenas 32 hectares, tudo em função da grande lagoa e do campo (pasto) bem cuidado. Depois muitas propostas tio Dino que nunca foi de meia conversa disse que o sitio não estava a venda. O velho Dino de guerra costumava a parafrasear: ”Só não me péla com a unha quem pretende me pelar. E depois que eu fico brabo não adianta me adular”. Depois das pressões e das ameaças, tio Dino que nunca afrouxou o garrão, nem envergava a espinha, agüentou no osso do peito. E aí é que o fazendeiro mais ladino que mascate forjou  bem na forma de alarife um documento de compra e venda com uma assinatura falsificada. Marcada a audiência, tio Dino contratou um advogado experiente para defendê-lo. Sabedor que o juiz era um dos melhores e um homem muito austero, dois dias antes numa conversa para definir uma estratégia para a audiência tio Dino perguntou ao advogado: “Seu doutor advogado o que é que o senhor me diz, dá gente mandar uma das minhas ovelhas de presente ao senhor Juiz?”. O advogado mais assustado que sapo em cancha de bocha avisou: “Seu Dino não faça uma coisa destas que o senhor é preso, pois o Juiz vai interpretar como suborno e a gente perde a causa”. Tio Dino que era ladino como as cobras e prudente como a s pombas observou: “Não tá mais aqui quem falou doutor”. No dia da audiência o arrogante fazendeiro e seus capangas no Fórum da cidade contavam certo com a vitória, mas para surpresa o Juiz deu ganho de causa para meu tio. Na saída do Fórum, tio Dino disse ao jovem advogado. “Vou confessar uma coisa doutor, mesmo contra sua orientação mandei de presente uma ovelha ao doutor juiz de direito e ainda junto enviei um bilhete”. O advogado teve calafrios, com os olhos esbugalhados  perguntou: “O senhor ainda enviou um bilhete seu Dino?”. “Sim dizendo que era um presente sem compromissos ao juiz e assinei o nome do fazendeiro”.  Tio Dino como todo morungavense não se apertava e os ladinos da cidade muitas vezes dando uma de espertos se dão mal. Tem gente que se faz de porco vesgo para comer em dois coxos.  

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