quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A FONTE "DA JUVENTUDE" DO RIO BRANCO

O tempo passa e ele continua lá como um impávido colosso. Na junção das ruas Tomé Paz e São Cristóvão no bairro Rio Branco, outrora conhecido como Morro das Pulgas encontra-se a chamada bomba d’água que nada mais é que um poço artesiano. Este poço faz parte da história do Rio Branco e porque não dizer da história de Campo Bom. Quando ainda Distrito de São Leopoldo o então sub-prefeito, Arlindo Blos, carinhosamente chamado de Arlindão determinou que este poço artesiano fosse construído para fornecer água aos trabalhadores da Companhia Estadual de Energia Eletrica – CEEE que adentraram no então Morro da Pulgas como desbravadores singrando vielas, capões de mato para implantar a energia elétrica no promissor bairro que era habitado na sua maioria por trabalhadores nas fábricas de calçados com ênfase aos Irmãos Vetter e seu apito agregador. Os postes implantados trouxeram luz ao bairro e mais comodidade a comunidade que até então utilizava lampiões e velas. Os eletricitários partiram com a missão cumprida, porém o poço permaneceu e se tornou um componente da vida cotidiana dos moradores. Não raro suas águas eram utilizadas para lavar roupa e até mesmo para matar a sede da população. Nos tradicionais comícios dos partidos políticos em muitas ocasiões os candidatos se utilizavam das águas límpidas e geladas do poço para molhar a palavra e encantar os eleitores. Não obstante quantos namoricos aconteceram ao redor de tal poço. A água era apenas um pretexto para a troca de olhares e muitas vezes ao entregar a caneca de alumínio ocorria o toque de mãos entre os flertadores era inevitável. Foi neste poço que muitas e muitas vezes os sapateiros quase exauridos após o serão nas fábricas de calçados ao lado de suas bicicletas matavam a sede de água, mesmo que a maior sede fosse a de justiça social. Este poço chamado de bomba pelos moradores acompanhou o desenvolvimento do Rio Branco e ainda presenciou casais saírem dos bailes do Salão Pacheco, bem como, foi dele a água que tentou em vão apagar o sinistro que veio sucumbir com o referido salão. O poço também presenciou o “pam pam ram ram” dos meninos e meninas do Emilio Vetter que ensaiavam antes do 7 de Setembro, nas tardes ensolaradas dos dias que antecediam a primavera, comandados pelas professoras – Sally, Isolina, Dorinha, Gessy, Leilaine, e Lenira pelas ruas do bairro em especial pela São Cristóvão, época em que o educandário se localizava na Tapajós, onde hoje funciona o Posto de Saúde e a Creche Sempre Viva. O poço que chamam de bomba viu o caminhão Persinica e foi nele que muitas vezes o Rubão matou a sede após um dia exaustivo de catar papel, osso, ferro velho e vidro quebrado. Neste poço os integrantes do Circo do Lambari e do Gira Gira buscavam água para beber e para lavar roupa quando se instalavam no bairro. Este poço foi testemunha ocular da festa da torcida do Oriente quando em 1996 os juniores do clube do Morro conquistaram o inédito título de campeão gaúcho. O tempo passou e muita gente se foi como num rabo de foguete. O bairro mudou e a erva preferida já não é mais a de chimarrão e craque não tem só no Oriente. Muita coisa mudou, mas o poço que chamam de bomba continua lá como um monumento a resistência acompanhando a história. Hoje seu benfeitor é a família Soares que cuida do mesmo como se fosse um membro do clã. O progresso chegou ao Rio Branco e trouxe avanços evidentemente, mas o progresso trouxe consigo suas mazelas e contradições. O mundo vive o fenômeno da globalização e crise mundial. Nossa globalizaram tudo, mas esqueceram de globalizar a esperança! O poço do Rio Branco é um personagem da história. É testemunha ocular de um tempo bom que já se foi. E a vida? Ah, a vida é como uma velha doceira que nos deixou chupando o dedo com o tabuleiro vazio e parafraseando o pensador escritor “escreva sobre tua aldeia e serás universal”.

* O sub-prefeito Arlindo Blos “Arlindão” está vivo e reside na Rua São Paulo próximo ao edifício Arpoador.

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