quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A CAMISETA DO FIGUEROA!

Corria o ano de 1975 e nós colonos perdidos no asfalto, vivíamos em Campo Bom o período de ouro das exportações de calçados. Viemos da roça em busca de dias melhores movidos pelo sentimento dos retirantes: a esperança. Em Campo Bom após alguns anos a família Wingert conseguiu adquirir a tão sonhada casa própria no bairro Rio Branco. Neste bucólico bairro eu e meus sobrinhos vivenciamos os melhores anos de nossas vidas. Vivíamos com extremas dificuldades, mas na beira do fogão a lenha a família estava unida, ouvindo ao anoitecer as histórias contadas pela avó e pelos pais. Nossa família sempre teve uma tradição colorada, aliás, os Wingert são colorados e os que não são tem que verificar porque talvez não sejam Wingert. Na década de 70 o Inter tinha um dos melhores times do mundo com Falcão, Figueroa, manga, Flávio, Lula, Valdomiro e outros expoentes. Lembro que os natais em nossa casa sempre eram marcados pelo amor e união da família. Não fazíamos ceia com peru, mas o almoço de natal com bife, salada de maionese e uma “Coca família”, numa garrafa de litro era um verdadeiro manjar. Presentes eram raros em função das dificuldades, mas o natal de 1975 foi inesquecível, pois minha vó perguntou o que gostaríamos de ganhar e ouviu de mim e de meus dois sobrinhos (Laone e Everaldo) que queríamos muito uma bola número 5 e eu afirmei que gostaria muito de ganhar do Papai Noel a camisa número 3 do Figueroa, o Laone pediu a número 8 do Caçapava e o Everaldo a número 5 do Falcão. Lembro que minha avó disse que era preciso sonhar e que talvez Papai Noel trouxesse tais presentes. Na véspera de natal na casa dos Wingert o ritual era o mesmo, minha mãe retirava do forno de barro os doces de natal e na mesa da cozinha sentávamos para ajudar a pintá-los. Um prato repleto de merengue e um copo cheio de confeitos tipo chumbinhos coloridos. Minha mãe passava o merengue branquinho com uma colher nos doces e nós polvilhávamos os doces com confeitos coloridos. Para nós eram verdadeiras obras de arte tipo os quadros de Picasso ou Portinari salvo é obvio as devidas proporções. A seguir os doces permaneciam na mesa até o amanhecer para secar. Mas naquele natal observei que minha vó não estava participando do ritual de pintar os doces, foi aí que ouvi um barulho vindo de seu quarto, tipo uma máquina de costura trabalhando. Disfarcei e me esgueirando pelo corredor da casa de madeira na Tapajós, aproximei-me do quarto da Vó Guina e olhando por uma fresta da porta, a vislumbrei junto à máquina de costura manual e sob luz de lamparina a costurar uma camisa. Uma camiseta!!! Meu coração acelerou, pois o número era o 3 e a camisa era vermelha. Fiquei ali aguardando astutamente a velha matriarca virar a camiseta e costurar o distintivo do Sport Club Internacional. Naquele instante descobri que Papai Noel existia sim, e não era só um, era vários. Papai Noel era o meu pai, minha mãe, meus irmãos mais velhos, minha vó e minha cunhada, pois aqueles presentes eram fruto do sacrifício de cada um deles. Fui dormir feliz porque o natal de 1975 foi o melhor natal de todos os tempos, principalmente porque estávamos todos juntos. No dia seguinte munidos da bola número 5 e das camisetas do Colorado, eu e meu sobrinhos desafiávamos os meninos gremistas do Morro a um embate no campinho próximo a casa. A camiseta do Figueroa, a monumental número 3 tinha um sentido de natal que na verdade é o sentido de amor, esperança, fé e sacrifício de uma família.

Um comentário:

  1. O Jair
    Tenho uma camiseta assim, só que é a 9, do Claudiomiro. Te baba!
    Paulo Azevedo
    PS: Só prá ti saber: Meu 1º fardamento do Colorado tinha a meia cinza! E eu ia ao jogo com ele, nos Eucaliptos!

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