quarta-feira, 25 de abril de 2012

O AMIGO

A amizade é uma das coisas mais importantes na vida, o ex-vice-prefeito e ex-vereador Delmar Teixeira de Moraes “Casquinha”, até para morrer é preciso dos amigos, pois do contrário quem carregará o caixão? Os amigos, aqueles que te são leais estes são anjos disfarçados que o criador enviou para iluminar nossos dias com suas presenças. Não são muitos, quem sabe não encham uma mão, mas são amigos. E amizade independe da distância.  Nas minhas muitas lembranças das férias que passava no sitio do tio Dino lá em Morungava, onde tomava banho na lagoa dos Schreiber, assistia as partidas do Morungava encostado do para-peito e quando terminava o primeiro tempo, tio Dino trazia uma sódinha cassel ou uma água da pedra; refrigerante de laranja produzido no Riozinho, acompanhando o refri sempre vinha um pastel ou o cachorro quente. Aos domingos era certo ou estávamos no campo do Morungava ou na cancha de carreira. A noitinha seguíamos para casa e a tia Miúda já esperava com o chimarrão pronto, depois um café daqueles, repleto de iguarias – pão, nata, ambrosia, salame, pedaços de carne assadas no forno, merengue, café, leite, queijo. Durante o dia corríamos pelo campo eu e meus primos, pagávamos carona na carroça carregada de pasto conduzida pelo tio Gomerço; negro velho, lenço vermelho maragato que morava lá por aquelas paragens. Andávamos a cavalo no lombo do bainho, cavalo mansinho e trote tranqüilo. À noite os empregados do tio Dino ficavam no galpão, mateando, contando causos de assombração, falando de política e da volta do Brizola. Numa destas noites o céu avermelhado e os prenúncios da chegada do inverno, com um ventito vindo da praia, me encostei próximo ao meu tio e ouvi dele uma história interessante que mostra o quanto a fidelidade entre os amigos é algo elogiável. Tio Dino após fazer a cuia roncar, encheu o mate e passou a cuia para o negro Osório um dos melhores esquiladores da região. Tio Dino contou que lá pelos anos 50 trabalhou numa Churrascaria em São Paulo onde durante meio ano, descobriu que não podia viver longe de Morungava e  sobretudo do Rio Grande. Nesta Churrascaria “Recanto Gaúcho”, Arcedino se tornou amigo de um mineiro chamado Laerte. Ambos ajudavam como garçom e também como assador. Numa sexta-feira tio Dino estava de folga, porém Laerte pediu um favor para o amigo, ou seja, em função de um encontro que teria com uma garota que trabalhava numa casa de família na tal de Avenida Angélica, o mineiro queria que o tio Dino tirasse a folga dele. Tio Dino que é não é enjeitar parada e sabe que rapadura é doce, mas é dura, ficou cismado uma vez que na sexta-feira era o dia de dois irmãos  mudos jantar na churrascaria. Os dois eram riquíssimos e toda sexta-feira jantavam na Recanto Gaúcho, mas o garçom preferido deles era o mineiro Laerte que conhecia suas manias. O mineiro disse para o tio Dino: “Não tem mistério com os dois mudos, eles chegam e  com a mão eles fazem um gesto de faixa e aí é só trazer uma cerveja Antarctica, isso eles fazem umas cinco vezes, depois eles com as mãos fazem o gesto de um espeto sendo virado é só começar o rodízio. Após o jantar eles fazem o gesto da faixa umas três vezes, e é só trazer as Antárticas. Ali pelas 23 horas eles tomam um cafezinho, fazem o sinal de rachar e é só trazer a conta dividida. Não tem mistério”, disse o mineiro que ainda trouxe um alivio ao tio ao dizer: “Vou deixar o telefone da casa da garota que é minha namorada. Se precisar é só ligar” Amigo que é amigo não deixa o outro empenhado.  Chega sexta-feira, 19 horas adentram na churrascaria os dois mudos, sentam no lugar de sempre. Tio Dino os cumprimenta e eles já foram pedindo “a faixa”. Cerveja servida e o ritual se repete em seis oportunidades. Por volta das 20 horas, eles pedem o espeto corrido. Tudo estava transcorrendo como o mineiro havia dito. Depois do jantar os dois irmãos fizeram o gesto da faixa atravessada no peito e tio Dino serviu a Antarctica, uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove e depois da décima segunda cerveja, os dois olhavam um para outro, erguiam a cabeça para o alto e levantavam as mãos. A cena mais parecia duas galinhas bebendo água, erguendo a cabeça  e olhando para o céu, já viu isso?  E aquilo prosseguia deixando tio Dino desesperado. “O que será que eles querem agora? Por que não pedem a conta e vão embora?”. Como eles não paravam e já era quase duas horas da manhã, tio Dino não conseguindo decifrar o que os dois queriam resolve ligar para Laerte e perguntar. O telefone toca e na casa da namorada, Laerte ouve tudo e não contém o riso, porém tio Dino já bravo resmunga. “O mineiro duma figa, o que estes loucos querem? Eles já estão quase duas horas, olhando para o céu igual duas galinhas. O que eles estão fazendo? ”, pergunta. Laerte ainda rindo, diz: “Ah eu esqueci de te dizer, as vezes eles estão muito românticos e começam a cantar, ai tem que ter paciência porque isso vai até o dia amanhecer”, avisa o mineiro que vai logo desligando o telefone para não ouvir os impropérios do tio Dino. Tem que ter concurso – 100% Morungava.

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