terça-feira, 1 de maio de 2012

E O TELEFONE TOCA

A placa do estabelecimento comercial do tio Dino que funcionou nos anos 80 na estrada principal do Morungava mostrando o bom "morungavês", dá só uma cubada no que diz o letreiro.
Quem vive no interior sabe a importância dos chamados bolichos ou armazéns, na verdade comércios onde se encontra uma variedade de produtos que vão desde  arroz, açúcar, feijão, carne, tecido,  linhas, e quando se podia vender era possível comprar fontol, olina, sal de fruta, amargol,infalivina, melhoral, totalex, lactopurga e outros, bem como, lingüiça que ficava pendurada numa cordinha. Tamanco de madeira, chinelo de campeiro, chapéus de palha, querosene, sabão, fumo em corda. Jamais esquecerei o bolicho do tio Dino que funcionou por vários e vários anos em Morungava. Na frente do balcão de madeira caixas com laranja, bergamota, mais a esquerda os sacos com pinhão, feijão e erva. Ao lado da balança Dayton um vidrão de ovo cortido e um baleiro com tampas de inox, em cada compartimento as delicias que nos deixavam atônitos – 7 Belo, Mocinho, Castanha, Soberana, Quebra-Queixo, chiclete Ploc ou Ping-Pong, azedinhas e os merengues. Na entrada do bar havia uma propaganda “Beba Minuano Limão” e  “Doce de leite é Mu-Mu” O bar do tio Dino era freqüentado por centenas de pessoas, pescadores e outros mentirosos O local foi palco de  episódios inusitados, de muitas gauchadas e deste bar muitas candidaturas a prefeito, vice e a vereadores surgiram. Um dia no meio da madrugada, tio Dino é acordado pelo barulho do telefone. “Alô!”, atende, preocupado! Do outro lado, ele ouve a voz pastosa de um sujeito: “Ô Dino... Hic... Me diga uma coisa... Que horas que abre o bar?” Tio Dino indignado avisa: “As oito horas” respondeu ele rispidamente e desligou. Mas que ousadia, me acordar para perguntar que horas que o bar vai abrir. Dez minutos depois o telefone toca novamente: “Ô Dino... Hic... Eu entendi direito? O bar só vai... Abrir às oito horas?”, pergunta o cliente. “Sim, senhor, às oito horas”  e bate o telefone, novamente. Cinco minutos depois, o telefone toca novamente: “Ô seu Dino... Hic... Mas não dá pra senhor abrir... Hic... Um pouco antes?”, questiona o cliente. “Não, não dá! O senhor não consegue esperar até as oito?”, pergunta tio Dino. Do outro lado da linha o cliente responde: “Bem... Conseguir eu consigo, mas eu estou trancado dentro aqui desde ontem...Hic... E tô louco pra ir embora!

            Morungavês...

O que faz o estudo na vida de um ser humano, pois nos últimos dias estive pesquisando o jeitão de falar do líder maior de Morungava tio Dino que com isto criou um estilo novo de comunicação, implantando-se assim o chamado morungavês. Veja abaixo um pouco da cultura.

- lidileite (litro de leite)
- mastumate (massa de tomate)
- dendapia (dentro da pia)
- kidicarne (kilo de carne)
- tradaporta (atras da porta)
- badacama (debaixo da cama)
- pincumel (pinga com mel)
- iscodidente (escova de dente)
- nossinhora (nossa senhora)
- pondions (ponto de onibus)
- denduforno (dentro do forno)
- doidimais (doido demais)
- tidiguerra (tiro de guerra)
- dentifrisso (dentifricio)
- ansdionti (antes de ontem)
- séssetembro (sete de setembro)
- sápassado (sabado passado)
- oiuchero (olha o cheiro!)
- pradaliberdade (praca da liberdade)
- vidiperfumi (vidro de perfume)
- oiproceve (olha pra voce ver!)
- tissodai (tira isso dai)
- rugoiais (rua Goias)
- onquié (onde que é?)
- casopo (caixa de isopor)
- quainahora (quase na hora)
- ostrudia (outro dia)
- onquotô (onde que estou)

E o melhor de todos:
- pronostamuinu (para onde nos estamos indo?) O que é a cultura – Tem que ter concurso – 100% Morungava.

Foto: A placa do estabelecimento comercial do tio Dino que funcionou nos anos 80 na estrada principal do Morungava mostrando o bom "morungavês", dá só uma cubada no que diz o letreiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário