sexta-feira, 9 de março de 2012

O VENTRÍLOQUO

Morungava sempre foi um recanto de paz e harmonia, onde a pressa é inimiga de seus habitantes. Já escrevi que o filosofo e palestrante Domenico de Masi; italiano autor do celebre livro – O ócio criativo deveria conhecer Morungava um lugar onde dificilmente as pessoas morrem de ataque cardíaco. Neste recanto encantado tive a grata satisfação de passar momentos agradáveis. No sitio do tio Dino nos finais de tarde ficávamos sentados próximo a porteira para ver os tropeiros vindos de Santo Antonio trazendo o gado estrada a fora. A tropa vinha repontada e ao fundo lá para os lados do Passo Caveira o sol como uma abóbada sumia aos poucos, tudo isto contrastando com o céu vermelho anunciando tempo bom para o outro dia, sim porque se você aí da cidade não sabe, mas céu vermelho pela manhã é chuva próxima, e no final de tarde prenuncio de tempo bom, bem como, circulo em volta da lua é chuva em três dias. Por Morungava além de ciganos que vendiam suas panelas, colchas e tentavam “ver a suerte” de algum incauto, também apareciam por lá os mascates que vendiam roupas, pentes, Lancaster, avanço, sombrinhas, guarda-chuva, espelhos e outros cacarecos. Os carreteiros vindos da Data, localidade de Santo Antônio pernoitavam em Morungava. O pouso era certo e a hospitalidade do morungavense era conhecida na região. Recordo que os carreteiros andavam em comitivas de no mínimo três carretas e traziam para comercializar: melado, rapadura, ovos, porcos e galinhas, além de fumo em rolo e cachaça de alambique. À noite soltavam o gado no campo e montavam o acampamento e nós ali próximo ao fogo de chão ouvíamos as histórias que invariavelmente giravam em torno das supostas assombrações ou panelas de ouro enterradas durante a guerra dos farrapos e que se tornaram encantadas. A cuia corria de mão em mão enquanto um dos homens preparava o carreteiro feito de charque. Estes centauros do Rio Grande naquelas noites estreladas faziam história sem saber. Que cartão postal, que pintura, aquilo era a poesia viva! Também aparecia de dois em dois anos um velho circo que não recordo o nome, mas que se instalava próximo ao campo do Morungava. Era na verdade um teatro mambembe, pois o único leão era mais mansão que o Surtão e o pobre só tinha dois dentes, ou seja, o lateral esquerdo e o direito, mas o circo em termos de estrelas era excelente, era um circo mais de cinco estrelas, na verdade se via quase todas as estrelas pelos furos na lona. Mas algo que ficou na história, em determinado momento que apareceu em Morungava um ventríloquo, aqueles sujeitos que utilizam bonecos e com a boca fechada emitem a voz e a gente nem percebe que são eles que estão falando, pensamos que é o boneco tamanho treino e aptidão. Certa feita o tal ventríloquo que diziam tinha vindo de Gramado estava por Morungava e após o almoço saiu para dar umas voltas e conhecer a comunidade. Tarde de verão mormacenta, na estrada que vai para o Cemitério, o ventríloquo encontrou carregando uma carroça cheia de pasto para o gado, Amarolino que na verdade era um solteirão que veio para Morungava e fixou residência na cidade. Tio Maroca como conhecíamos era pau para toda obra, prestava serviços nas fazendolas e sítios e por último comprara uma carroça e fazia pequenos fretes. O ventríloquo mais ladino mascate, viu tio Maroca vindo pela estrada e a seu lado vinha um cachorro e uma cabrita. “O bom dia senhor” começou então um diálogo com o tio Maroca e prosseguiu “Olá, belo cão você tem aí. Importa-se se eu falar com ele? perguntou o ventríloquo”. “ Tio Maroca todo desconfiado disse: -” Cão não fala”. Mas o ventríloquo nem deu bola e perguntou para o cachorro: “Olá cão, com vai ?” E o cão para surpresa de Maroca respondeu:”Bem obrigado” O velho Maroca fica perplexo, mas o ventríloquo continuou: “Esse cara é o seu dono ?”. O cachorro responde: “Sim” E como ele te trata? pergunta o ventríloquo “Muito bem. Todo dia ele me deixa correr livremente, me alimenta e me dá uma boa semana...”, responde o cão. Tio Maroca fica abobado pensando ser o tal homem um encantador, mágico ou ilusionista. Então o ventríloquo diz: “Se importa se eu falar com seu cavalo? Maroca já ficando bravo é curto e grosso (mais grosso que dedão destroncado)  “Cavalo não fala”. Mas o ventríloquo não esta nem aí e pergunta: “Oi cavalo, como vai você? ““ Muito bem!”“, responde o cavalo. “ Esse aí é o seu dono ?” pergunta o ventríloquo “Sim...”, fala o pangaré junto a carroça. “E como ele te trata?” questiona o homem. “O cavalo sob o olhar curioso de tio Maroca “responde”“ Muitíssimo bem. “Cavalgamos regularmente, ele sempre me escova e me deixa na sombra para descansar...”. O velho Maroca atônito ... E o homem o ventríloquo continua: “Se importa se eu falar com sua cabrita ?”, pergunta.  Tio Maroca saltando dos tamancos já vai avisando: “Melhor não....  esta cabrita é muito mentirosa !!!
Trocando pneu de avião no ar
No Morungava nos anos 50 segundo tio Dino me contou havia um sujeito que tinha o apelido de Chico Bitato, vivia pelos galpões, morava de favor em troca de serviços nos sítios e granjas. Homem simples e até certo ponto ingênuo. Um grupo de pessoas se divertia com ele. Diariamente eles chamavam o idiota ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas: uma grande de 400 REIS e outra menor, de 2.000 REIS.  Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos. Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos. 'Eu sei' - respondeu assim: 'Ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha moeda. 'Pode-se tirar várias conclusões dessa pequena narrativa. A primeira:quem parece idiota, nem sempre é. A segunda: quais eram os verdadeiros idiotas da história? A terceira: Se você for ganancioso, acaba estragando sua fonte de renda. A quarta e mais interessante é: a percepção de que podemos estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito. Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas sim, quem realmente somos. Moral da História...'O maior prazer de uma pessoa inteligente é bancar o idiota, diante de um idiota que banca o inteligente'. No Morungava os caras são tão ligeiros que trocam pneu de avião no ar... 100% Morungava – Tem que ter concurso!

 Tio Dino avisa: “Fogão do é coisa de fraco”
Tio Dino me enviou por e-mail esta foto que mostra como ele faz suas refeições. Ele diz mais no e-mail “ Fogão é coisa de fraco da cidade”. Se a idéia pegar por aqui?

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