segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O DIA EM QUE O FUTEBOL VENCEU HITLER

A única foto que se conserva da heróica equipa do Dínamo e o nome dos seus jogadores e no estádio Zenit uma placa diz "Aos jogadores que morreram com a cabeça levantada ante o invasor nazista".
Todas as atrocidades cometidas pelos regimes ditatoriais como nazismo, fascismo e comunismo precisam ser lembradas para que nunca mais esqueçamos os malefícios feitos em nome de ideologias massacrantes que tiram do homem a liberdade. Hoje ainda restam alguns bastiões de regimes carcomidos e arcaicos que privam a liberdade, especialmente de jornalistas e blogueiros que divulgam  fatos e noticias que não agradam “o chefe”. Infelizmente ainda existem pessoas que tentam esquecer que houve um holocausto durante a segunda guerra mundial que ceifou de forma covarde mais de seis milhões de judeus. Que o mundo e em especial os mais jovens jamais esqueçam  o holocausto, nem os assassinatos cometidos por Stalin (URSS) e de tantos outros tiranos que se tivessem ao menos jogado futebol na infância não cometeriam tamanha bestialidade, sim, porque um atleta jamais faria algo deste tipo. O preconceito contra negros, judeus, ciganos, índios e outros povos sempre existiu e no futebol também, não faz muito que no Brasil alguns clube não permitiam que negros jogassem em suas equipes, por puro preconceito. E por ironia do destino, o maior de todos os tempos, o Rei Pelé é negro.  Justiça seja feita o Vasco da Gama, equipe do Rio de Janeiro foi à primeira equipe brasileira a colocar um negro em seu time e com isto sofreu a punição de exclusão da Liga por um ano, mas se manteve fiel e não abriu mão de seus princípios, até que finalmente aceitaram a inclusão de negros em sua agremiação, no Rio Grande do Sul o Internacional surge como clube do povo e por volta de 1927 os negros vindos da Liga da Canela Preta já vestiam a gloriosa camisa do alvi-rubro, equipe que anos mais tarde se tornaria a campeã de tudo, inclusive campeão do mundo Fifa. O Grêmio  Porto-alegrense  só em 1952 inclui o primeiro negro em seu time, justamente Tesourinha, ex- Inter e craque do Rolo Compressor. O Grêmio contratou Tesourinha que atuava no Vasco da Gama. O futebol é algo mágico capaz de mudar histórias, de parar guerras e unir pessoas. Só o futebol tem este poder de transcender. E uma das histórias mais bonitas do futebol aconteceu  justamente na Ucrânia, os jogadores do FC Start (nome clandestino do Dínamo de Kiev), hoje, são heróis da pátria e o seu exemplo de coragem é ensinado nos colégios. Os possuidores de entradas daquela fatídica partida têm direito a assento gratuito no estádio do Dínamo de Kiev.
Um padeiro alemão que trouxe esperança
A história do futebol mundial inclui milhares de episódios emocionantes e comoventes, mas seguramente nenhum seja tão terrível como o protagonizado pelos jogadores do Dínamo de Kiev nos anos 40. Os jogadores participaram de uma partida sabendo que se ganhassem seriam assassinados e, no entanto, decidiram ganhar. Na morte deram uma lição de coragem, de vida e honra que não encontra, pelo seu dramatismo, outro caso similar no mundo. Para compreender a sua decisão, é necessário conhecer como chegaram a disputar aquela decisiva partida, e porque um simples encontro de futebol apresentou para eles o momento crucial das suas vidas. Tudo começou em 19 de Setembro de 1941, quando a cidade de Kiev (capital Ucraniana) foi ocupada pelo exército nazista, e os homens de Hitler aplicaram um regime de castigo impiedoso e arrasaram tudo. A cidade converteu-se num inferno controlado pelos nazistas, e durante os meses seguintes chegaram centenas de prisioneiros de guerra, que não tinham permissão para trabalhar nem viver nas casas, assim todos vagavam pelas ruas na mais absoluta indigência. Entre aqueles soldados doentes e desnutridos, estava Nikolai Trusevich, que tinha sido guarda-redes do Dínamo. Josef Kordik, um padeiro alemão a quem os nazistas não perseguiam, precisamente pela sua origem, era torcedor fanático do Dínamo. Um dia caminhava pela rua quando, surpreso, olhou para um mendigo e de imediato se deu conta de que era o seu ídolo: o gigante Trusevich. Ainda que fosse ilegal, mediante artimanhas, o comerciante alemão enganou aos nazistas e contratou o guarda redes para que trabalhasse na sua padaria. A sua ânsia por ajudá-lo foi valorizado pelo jogador, que agradecia a possibilidade de se alimentar e dormir debaixo de um teto. Ao mesmo tempo, Kordik emocionava-se por ter feito amizade com a estrela da sua equipa.  Na convivência, as conversas sempre giravam em torno do futebol e do Dínamo, até que o padeiro teve uma idéia genial: encomendou a Trusevich que em lugar de trabalhar como ele, amassando pães, se dedicasse a buscar o resto dos seus colegas. Não só continuaria pagando-lhe, como juntos podiam salvar os outros jogadores. Percorreu o que restara da cidade devastada dia e noite, e entre feridos e mendigos foi descobrindo, um a um, os seus amigos do Dínamo. Kordik deu trabalho a todos, esforçando-se para que ninguém descobrisse a manobra. Trusevich encontrou também alguns rivais do campeonato russo, três jogadores da Lokomotiv e também os resgatou. Em poucas semanas, a padaria escondia entre os seus empregados uma equipe completa.
O time da paz e da esperança
Reunidos pelo padeiro, os jogadores não demoraram em dar o seguinte passo, e decidiram alentados pelo seu protetor, voltar a jogar. Era, além de escapar dos nazistas, a única coisa que bem sabiam fazer. Muitos tinham perdido as suas famílias nas mãos do exército de Hitler, e o futebol era a última sombra mantida das suas vidas anteriores. Como o Dínamo estava enclausurado e proibido, deram um novo nome para aquela equipa. Assim nasceu o FC Start, que através de contatos alemães começou a desafiar a equipes de soldados inimigos e seleções formadas no III Reich.  Em 7 de Junho de 1942, jogaram a sua primeira partida. Apesar de estarem famintos e cansados por terem trabalhado toda a noite, venceram por 7 a 2. O seu rival seguinte foi a equipe de uma guarnição húngara, ganharam de 6 a 2. Depois meteram 11 gols a uma equipe romena. A coisa ficou séria quando em 17 de Julho enfrentaram uma equipe do exército alemão e golearam por 6 a 2. Muitos nazistas começaram a ficar chateados pela crescente fama do grupo de empregados da padaria e buscaram uma equipa melhor para ganhar a eles. Trouxeram da Hungria o MSG com a missão de derrotá-los, mas o FC Start goleou mais uma vez por 5 a 1, e mais tarde, ganhou de 3 a 2 na revanche. Em 6 de Agosto, convencidos da sua superioridade, os alemães prepararam uma equipe com membros da Luftwaffe, o Flakelf, que era uma grande equipe, utilizado como instrumento de propaganda de Hitler. Os nazistas tinham resolvido buscar o melhor rival possível para acabar com o FC Start, que já gozava de enorme popularidade entre o sofrido povo refém. A surpresa foi grande, porque apesar da violência e falta de desportividade dos alemães, o Start venceu por 5 a 1.  Depois desta escandalosa queda da equipe de Hitler, os alemães descobriram a manobra do padeiro. Assim, de Berlim chegou uma ordem de acabar com todos eles, inclusive com o padeiro, mas os hierarcas nazistas locais não se contentaram com isso. Não queriam que a última imagem dos russos fosse uma vitória, porque acreditavam que se fossem simplesmente assassinados não fariam nada mais que perpetuar a derrota alemã. A superioridade da raça ariana, em particular no desporto, era uma obsessão para Hitler e os altos comandos. Por essa razão, antes de fuzilá-los, queriam derrotar a equipe num jogo.
A arte  da bola derrotou o nazismo
Com um clima tremendo de pressão e ameaças por todas as partes, anunciou-se a revanche para 9 de Agosto, no repleto estádio Zenit. Antes do jogo, um oficial da SS entrou no vestiário e disse em russo: -"Vou ser o juiz do jogo, respeitem as regras e saúdem com o braço levantado", exigindo que eles fizessem a saudação nazista. Já no campo, os jogadores do Start (camisa vermelha e calção branco) levantaram o braço, mas no momento da saudação, levaram a mão ao peito e no lugar de dizer: -"Heil Hitler !", gritaram - "Fizculthura !", uma expressão soviética que proclamava a cultura física. Os alemães (camisa branca e calção negro) marcaram o primeiro golo, mas o Start chegou ao intervalo do segundo tempo ganhando por 2 a 1. Receberam novas visitas ao vestiário, desta vez com armas e advertências claras e concretas: "Se vocês ganharem, não sai ninguém vivo". Ameaçou um  oficial da SS. Os jogadores ficaram com muito medo e até propuseram-se a não voltar para o segundo tempo. Mas pensaram nas suas famílias, nos crimes que foram cometidos, na gente sofrida que nas arquibancadas que gritavam desesperadamente por eles e decidiram, sim, jogar. Deram um verdadeiro baile nos nazistas. E no final da partida, quando ganhavam por 5 a 3, o atacante Klimenko ficou cara a cara com o arqueiro alemão. Deu-lhe um drible deixando o coitado estatelado no chão e ao ficar em frente à trave, quando todos esperavam o golo, deu meia volta e chutou a bola para o centro do campo. Foi um gesto de desprezo, de deboche, de superioridade total. O estádio veio abaixo. Como toda Kiev poderia a vir falar da façanha, os nazistas deixaram que saíssem do campo como se nada tivesse ocorrido. Inclusive o Start jogou dias depois e goleou o Rukh por 8 a 0. Mas o final já estava traçado: depois desta última partida, a Gestapo visitou a padaria. O primeiro a morrer torturado em frente a todos os outros foi Kordik, o padeiro. Os demais presos foram enviados para os campos de concentração de Siretz. Ali mataram brutalmente a Kuzmenko, Klimenko e o Trusevich, que morreu vestido com a camiseta do FC Start. Goncharenko e Sviridovsky, que não estavam na padaria naquele dia, foram os únicos que sobreviveram, escondidos, até a libertação de Kiev em Novembro de 1943. O resto da equipe foi torturado até a morte. Ainda hoje, os possuidores de entradas daquela partida têm direito a um assento gratuito no estádio do Dínamo de Kiev. Nas escadarias do clube, custodiado em forma permanente, conserva-se atualmente um monumento que saúda e recorda aqueles heróis do FC Start, os indomáveis prisioneiros de guerra do Exército Vermelho aos quais ninguém pôde derrotar durante uma dezena de históricas partidas, entre 1941 e 1942.  Foram todos mortos entre torturas e fuzilamentos, mas há uma lembrança, uma fotografia que, para os torcedores do Dínamo, vale mais que todas as jóias em conjunto do Kremlin. Ali figuram os nomes dos jogadores.  A única foto que se conserva da heróica equipa do Dínamo e o nome dos seus jogadores. Texto e Pesquisa: Jair Wingert; jornalista.
Goncharenko e Sviridovsky, os únicos sobreviventes, junto ao monumento que recorda os seus colegas.

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