sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O GUARDIÃO DO SINOS

O sol nasce lá para os lados de Quatro Colônias, o céu vermelho com alguns rabos de galo dão prenúncios que a chuva está próxima, ainda mais que nas duas noites anteriores havia um circulo branco em volta da lua. O dia começa amanhecer e sigo minha corrida matinal e desta feita faço uma inversão de percurso ao invés de usar como habitualmente a ciclovia, decido seguir pela Avenida dos Municípios. O ar gelado da manhã esconde o calor quase insuportável que teremos que enfrentar. Assim é o verão escaldante de Campo Bom.  Pelo acostamento da avenida sigo e por ser uma manhã de domingo o trafego é quase inexistente.  Ao me aproximar do trevo entre a Municípios e Presidente Vargas a opção é estender a corrida até ponte da Barrinha e dar uma olhada no velho Sinos.  Ao aproximar-me do rio, junto à ponte uma tombadeira carregada de saibro vem em direção ao centro da cidade, provavelmente vinda do Morro da Pedra. Em cima da ponte observo as águas turvas do velho rio dos ratões do banhado, ou o sinuoso Sinos que ainda guarda em suas margens e barrancas segredos e mistérios, lendas e histórias de pescadores.  Após alguns minutos contemplando as águas do nosso rio que sofre com a seca, pude verificar algumas linhas de espera colocadas estrategicamente nas margens, bem como, dois caicos acorrentados em árvores, rio acima, nas imediações do Recanto. Um martim pescador sentado em um galho de uma árvore que tombou dentro do rio está a espreita de seu alimento.  Ainda em cima da ponte na barranca do Sinos vi um homem, barba branca, sentado e de forma contemplativa aquele idoso trazia um olhar absorto que fitava a curva do rio. Desci ao lado da ponte e de forma mansa sentei-me ao lado daquele velho. Foi  uma lição de vida que jamais esquecerei. Na barranca do Sinos vi o velho soluçando, gota a gota sua  angústia o Sinos ia a levando. Quando um velho molha o rosto o seu  choro tem razão. Perguntei com apreensão; “O que te faz chorar assim?”. Sem tirar os olhos do rio ele me disse: “Meu irmão eu amei tanto, eu plantei nas barrancas deste rio muitas árvores, hoje é deserto em todo canto, não se vê nenhuma flor. Minha vida foi inútil, pois as dragas acabaram com o rio, sem contar os dejetos e esgotos jogados diretos no nosso rio. Ninguém faz nada, o rio está morrendo. Num passado não muito distante, os dourados batiam no espinhel e os grumatãs enchiam as redes, mas as cidades viraram as costas para o Sinos”, argumentou entristecido. Fui ficando emocionado com este velho soluçando, mesmo sem estar preparado eu lhe dei o meu conselho:” Não chore amigo, eu sei que tuas lágrima se misturam com o Sinos, mas a luta continua e em cada escola, em cada educador, em cada criança vai despertar o espírito de preservação e defesa da vida. As futuras gerações, nossos filhos e netos serão preservacionistas.  Vi os olhos daquele ancião brilharem e seu sorriso iluminou a barranca do rio e sem ao menos dizer-me adeus, ele embarcou em um caico postado ao seu lado e seguiu rio abaixo na direção de Novo Hamburgo, quem sabe rumo ao Poço do Carvão quem sabe na Volta da Égua. Nunca mais o vi neste meu gauderiar andejo como diria Jayme Caetano Braun. Mas de uma coisa tenho certeza: conversei naquela manhã com o guardião  do Sinos, ou simplesmente o velho do rio que sumiu na curva...

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