terça-feira, 27 de setembro de 2011

UM MORUNGAVENSE NO RIO DE JANEIRO

O velho Arcedino Vieira Nunes gaudério do Morungava sempre foi  um homem de palavra que honrava o fio do bigode. Trato feito, trato cumprido. Tio Dino costumava dizer muitas coisas e quando se calava falava mais que um pensador. Nas noites invernais, sentadito no banco no galpão ao redor do fogo de chão a cada sorvida do mate seu olhar se perdia como que fitasse o Itacolomi. Cauteloso tio Dino sempre tinha por filosofia que cobra velha não pode errar o bote e como lagarto a espreita de “bichiguaga” (Lixiguana), já viu lagarto atacar Lixiguana no campo? O bicho velho é matreiro até parece aqueles centroavantes velhos que ficam ali como quem não quer nada e na primeira bobeada da defesa eles não perdoam. Pois os lagartos chegam à lixiguana e batem com o rabo e disparam macega adentro, a bicharada fica alvoroçada ou “alvorotada” como dizia o tio Dino, redemunhava e alguns voltavam para a lixiguana, minutos depois, do meio do brejo saia novamente o lagarto e dava outra laçada na lixiguana, resumindo a história, pouco tempo os marimbondos tinham abandonado a casa e lagartão se deliciava com o mel. 
Cauteloso tio Dino tinha cuidado até no banco de Morungava, não chamava a tia Miúda de bem com medo que o gerente lhe tomasse a patroa por conta dos “papagaios”. Um belo dia tio Dino depois de pagar um pacote turístico se tocou numa excursão para o Rio de Janeiro com a tia Miúda. Na Cidade Maravilhosa, se achando o tal leva a tia a um restaurante francês, alto nível (a situação recomendava afinal 55 anos de casados...). Chegando lá comeram sem olhar preço. Era tudo felicidade, até que o educado e sorridente tio Dino pede a conta. Ao ver a despesa de R$ 600,00, ele se assusta e chama o garçom: “Ei, alto lá, tchê! Nós não comemos couvert” destacou já meio irritado, porém o garçom foi enfático: “Estava aí senhor, não comeu porque não quis” - dispara o garçom. De olho na nota tio Dino ainda argumenta: “Mas que barbaridade... nós também não tomamos este champanhe francês que nem o nome sei falar direito”, “Estava aí senhor, não bebeu porque não quis” - repete o garçom ironicamente. Já se coçando para puxar a bicuda, tio Dino afirma: “Ô índio véio, e esta sobremesa, além de um preço absurdo, também não comemos” E o garçom lacaio novamente diz: “Estava aí senhor, não comeu porque não quis”. Mais bravo que nenê cagado, tio Dino olha bem no grão dos olhos do garçom, o gaúcho dispara: “Tudo bem: R$ 600,00. Mas desconta R$ 550,00 que vou te cobrar por tu ter beijado a  minha china...” O garçom carioca metido a malandro com aquele chiado horroroso, alías é comprovado cientificamente após estudos da Universidade de Morungava que o carioca perde de quatro a cinco anos de sua vida chiando. O garçom metido logo interrompe o velho Dino e salienta:: Êpa! Mas isso é um absurdo!!! Eu nem olhei para a sua esposa, senhor”.  E o velho morungavense, colocando R$ 50,00 na mesa e já se levantando, responde: “Estava aí tchê, não beijou porque não quis...” Tem que ter concurso – 100% Morungava. Se vamo perder pra uns loco desses com quem que a gente vai empatar?

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