quarta-feira, 21 de setembro de 2011

TIO DINO NO VATICANO


Escrever sobre o Morungava parece redundância, mas segundo Tolstoi “escreva sobre a tua aldeia e serás imortal” e em meio a esta crise de valores que o mundo enfrenta cada dia que passa me convenço: bom mesmo é Morungava. Nesta época onde a primavera começa a exalar o perfume das flores do campo e vindo do litoral aquele vento que se acentua próximo ao “dia de finados”, tudo em meu torrão natal é diferente da agitação da cidade. Ainda hoje se pode ver paisagens belíssimas, carretas carregadas de pasto e seus condutores tirarem o chapéus num cumprimento amistoso. Os finais de tarde são cartões postais, naquele lusco fusco da entrada da noite, o céu avermelhado e a lua surgindo no inicio dá noite daria um quadro pintado pela Tânia Hanauer ou talvez pelo Everaldo Meregalli. Nos galpões os homens se reúnem para matear ao pé do fogo e não raro entre um causo e outro uma estrela cadente irrompe no céu para um pedido fazer. Ao lado do fogo e dos homens a cuia  passa de mão em mão e os cuscos se aprochegam para aquentar-se. Assim é Morungava muito simples como simples é a vida, afinal o que mata a sede não é o copo e sim a água. Depois de muitos anos como barbeiro tio Dino resolveu apena cuidar do sitio e vendeu o salão ao Azeredo, sujeito que veio lá das bandas do Figueirão e se radicou em Morungava. Falava mais que o Datena e o Kajurú juntos. Azeredo gostava de uma charla como poucos, dizem que uma vez ao veranear em  Quintão, voltou com a língua bronzeada de tanto conversar na beira da praia. Mas Azeredo tinha um grave defeito era do tipo que como todo bom barbeiro sabia de tudo, mas era do contra, se tu eras colorado, ele apontava só defeitos, se tu eras gremista ele lembrava aquela página triste do grêmio na segundona. Você conhece alguém assim? Azeredo era o chamado chato. Um dia tio Dino chegou à barbearia com muita dor de cabeça, daquelas que parece que o coração tá batendo dentro do porongo. E Azeredo pronto para disparar seus papos furados e alugar o ouvido, perguntou ao tio Dino; “Como vai ser o corte seu Dino?” Tio Dino que era como Leandro Damião, não perdia gol, detonou: “Em silêncio... em silêncio Azeredo”. Outra feita tio Dino com os pilas da venda de umas cabeças de gados resolveu viajar para a Europa. Um roteiro de 25 dias no velho mundo acompanhado da tia Miúda.  Na sexta-feira antes de viajar, tio Dino foi até a barbearia cortar o cabelo e entusiasmado caiu na asneira de contar ao Azeredo que viajaria para a Europa. O velho Azeredo detonou. “Não me diz que tu vai para a Europa?” Ao que tio Dino já contrariado disse: “Sim vou, por quê?”. Azeredo com a tesoura e o pente na mão continuou seu rosário de baixo astral: “A Europa é um continente decadente..., mas tu não vais à Itália vai?” perguntou. Tio Dino disse: “Sim vou à Itália e vou a Roma”, afirmou todo contente, ao que Azeredo foi logo detonando: “Só falta tu me dizer que vai ao Vaticano ver o Papa”. Novamente tio Dino já ficando bravo disse: “Sim quem vai a Roma tem que ver o Papa”. O Azeredo como todo agitador aproveitou e avisou: “Olha aquele velho (João Paulo II) está sempre doente e nem vai aparecer” sentenciou.  O velho Dino de guerra chegou a casa quase desistindo da viagem, não fosse à tia Miúda eles não tinham seguindo rumo a Europa. Depois de retornar ao Brasil, tio Dino voltou à barbearia e sentado na cadeira do Azeredo ouviu o mesmo com sorriso de mascate perguntar: “E ai Che Dino como foi de viagem para as Europas?... Não vai me dizer que foi a Roma?”. Tio Dino foi logo encurtando o assunto e lascou: “A viagem estava ótima, estivemos em Veneza, fomos a Londres, conhecemos Paris. Na Itália fomos conhecer o Coliseu, bem como, estivemos na Praça de São Pedro no Vaticano” Azeredo não titubeou e perguntou: “Viram o Papa?” “Vimos, mas aconteceu algo estranho, ele estava na sacada da janela e sumiu”, alertou tio Dino. Azeredo sempre pessimista observou “Vai ver desmaiou, ele vive desmaiando este velho”.  Tio Dino que aprendeu a comer o mingau quente pelas beiras, verberou: “Não, não, o que aconteceu foi que o Papa desceu, abriu-se  a porta e ele quebrando o protocolo no meio da multidão caminhando e como se não bastasse veio em nossa direção, quando estava a uns quatro metros meu coração bateu mais forte”, disse tio Dino que prosseguiu: “ O Papa se aproximou e ficou bem na minha frente, abaixou e no meu ouvido sussurrou algo que jamais vou esquecer” O Azeredo enciumado perguntou: “O que ele disse, fala para nós aqui na barbearia... Foi alguma mensagem para o Brasil?” Tio Dino se fez de porco vesgo para comer em dois cochos e aguçou a curiosidade do Azeredo: “Não sei se devo contar”. Azeredo morreria de curiosidade senão soubesse e afirmou. “Homem, por favor, já que começou termina, o que o Papa te disse?”. O velho Dino, meu tio calmamente observou: “O Papa se abaixou e disse no meu ouvido – Que cabelinho mal cortadooooo.... Que barbeiro facãooooo que tu tens”.  Tem que ter concurso – 100% Morungava!

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