terça-feira, 6 de setembro de 2011

O MAVERICK E A OVELHA QUE LATIA

 O velho Arcedino Nunes que também atendia pela alcunha de Tio Dino era uma figura respeitada em Morungava por ser um homem de bem que honrava o fio do bigode. Era daqueles centauros do pampa que dava um boi para não entrar numa briga, mas depois que entrava nem uma boiada o tirava. Exímio pescador adorava confeccionar suas próprias redes e eu na minha infância ficava ali horas a fio deitado na rede da área da casa tentando entender como aquele emaranhado de fios se tornaria uma rede. Agulha de taquara na mão feita por ele próprio, Tio Dino de forma paciente tecia a rede. Fico hoje pensando que como um artista Tio Dino tecia algo que eu não conseguia entender, vejo que Deus também fica a tecer a rede de nossa vida, porém nós muitas vezes não conseguimos entender, mas no final sempre dá certo se deixarmos que o criador dirija a obra da “rede”. Certo dia de primavera, quando as flores em Morungava têm um aroma mágico e as estradas ficam coloridas; repletas de flores do campo e o vento do litoral sopra trazendo nos finais d e tarde uma brisa suave. Falam em pôr do sol do Guaíba quem não conhece o pôr do sol de Morungava tendo como pano de fundo o morro do Itacolomi, chegou às terras do tio Dino um sujeito dirigindo um Maverick, lembra do Maverick da dupla Starck e Hutch? (Bahhh, mas eu estou ficando velho...). O sujeito chegou à porteira do tio porque havia furado um pneu e esquecera o macaco em Porto Alegre onde morava. Depois do pneu trocado, tio Dino o convidou para matear, aliás, quem vai a Morungava e chega numa casa, se for pela manhã não sai sem tomar um chimarrão, quando próximo ao meio dia fica para o almoço e a tarde é convidado para o café da tarde. Pressa? Pressa só os neuróticos da cidade tem. Detalhe: se convidado não diga não, porque para o morungavense isto é uma desfeita.  O almofadinha da capital tomou uma ou duas cuias e mostrando seu conhecimento , olhando para os boizinhos do tio no campo, afirmou: “Seu Dino, o que o senhor me dá se eu disser exatamente quantas cabeças de gado o senhor tem aqui nas suas terras?”. O velho Dino meio cabreiro, pensou, pensou e lascou: “Mas tá bueno se tu acertar na mosca te dou uma ovelha”  O rapaz do Maverick, pegou um papel, uma caneta e uma tal calculadora e poucos minutos depois afirmou: “O senhor tem 243 cabeças de gado”. Tio Dino pensou que o sujeito era vidente, pois não é que havia mesmo 243 cabeças de gado. Trato feito em Morungava é trato cumprido. O jovem da capital passou a mão na tal ovelha e foi colocando dentro do automóvel. Então tio Dino olhou bem nos grãos dos olhos do gaudério de Porto Alegre e propostiou: “ô guri se eu adivinhar tua profissão tu me devolve a ovelha?”. O rapaz já dentro do Mavericão com a chave na ignição desceu e disse: “Tudo bem, se senhor adivinhar lhe devolvo, mas se errar, pego mais uma ovelha, certo?”. Tio Dino fez um ar de pensativo, olhou lá para o horizonte, virou-se e contemplou o Itacolomi e observou: “Tu é técnico em estatisticas”.  O jovem estupefato perguntou: “Como é que o senhor descobriu?” Tio Dino  com sorriso maroto lascou: “ Foi fácil, muito fácil, mas vamos ao que interessa, aposta feita eu ganhei e agora devolve ai de dentro do carro o meu cachorro o Surtão que ele não é uma ovelha”. Tem que ter concurso – 100% Morungava!

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