quinta-feira, 25 de agosto de 2011

TIO DINO E GETÚLIO VARGAS

Meu torrão querido, o velho Morungava de guerra sempre foi uma tronqueira em defesa das causas do Rio Grande. Em 1961 já tinha terminado a legalidade e ainda estava chegando morungavense na frente do Piratini para defender a posse do Jango Goulart. Tio Dino neste período montou uma milícia que a noite patrulhava os campos do Morungava, pois havia uma temeridade de que os americanos contrários a posse de Jango viriam por Tramandaí com os porta aviões e além dos fuzileiros por terra, a informação da Agência de Inteligência do Morungava é que os aviões sobrevoariam Morungava e os pára-quedistas saltariam nos campos da região.  Tio Dino reuniu a tropa formada por 17 milicianos, sendo que três não passariam no bafômetro, pois estavam etilicamente alterados. No dia anterior fizeram um churrasco no salão do Ancelmo e participaram 176 milicianos, mas quando preteou os olhos da gateada, apareceu só os peleadores, os frouxos ficaram em casa ouvindo as noticias pela rádio Guaíba; a rádio da Legalidade e na vida é assim muitos preferem ouvir, ler, assistir a história, enquanto outros preferem ser protagonistas, ou seja, não se acovardam e escrevem a história, porque como dizia Vandré aquele herói enlouquecido de esperança – Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. A tropa de elite de Morungava, a NCIS salvo as devidas proporções se reuniu e Tio Dino parecia o Jethro Gibbs dando ordens. Plano feito para vigiar os campos à noite, o grupo possuía revolveres, espingardas e facões. Tudo planejado, inclusive a logística, pois construíram uma patente no meio do campo para uma eventual necessidade. Alguém alertou: “Não vamos caiar a patente para que num possível bombardeio não seja um alvo fácil dos aviões”. No final do discurso de Tio Dino para elevar o moral da tropa, ele perguntou se havia alguma dúvida foi aí que tio Gomerço questionou: “Comandante Dino só uma pergunta, eu li na revista Seleções que um pára-quedista não pode ser alvejado no ar, isto faz parte do tal tratado de Genebra. Como vamos proceder quando eles pularem?” Tio Dino estrategista, pensou e como chefe do Estado Maior da Forças Armadas  Morungavenses avisou: “Não conheço esta revista  e também nunca ouvi falar deste troço de tratado de Genebra, isto para mim é papo dos gringos, o detalhe é o seguinte, quando os aviões dos Americanos ou da Base Aérea de Canoas se vierem, a gente espera, quando branquear os panos brancos no céu, a gente caga eles a tiro no ar e o que sobrar, matamos a facão no chão” Assim era o velho Dino de guerra, que não tinha nenhuma patente, melhor tinha uma nos fundos do sitio e que foi isolada em 1973 depois que ele fez um banheiro dentro de casa.
Se quisesse ver Tio Dino bravo e tirá-lo do sério era falar mal do Colorado, de Morungava e do Getulio Vargas. Trabalhista de quatro costados, sempre votou no Brizola, no Jango e no Vargas. Em 1954 quando do suicídio do presidente Vargas, Tio Dino tinha uma barbearia no centro de Morungava,  com todo aquele alvoroço, quebradeira no centro de Porto Alegre, a população estava em comoção. Lá no Morungava havia um cidadão de nome Maneca Gomes, diziam as más línguas não era boa gente, sempre armado e de bombacha, Maneca Gomes era um prospero plantador de arroz perto do banhado do Chico Lumã. Eleitor da UDN, ferrenho adversário de Getulio Vargas dizem que quando soube da morte do presidente soltou uma caixa de foguetes e o pior dizia de boca cheia: “Quem se suicida não vai para o céu. O Getulio já está no inferno”. Tio Dino sabedor deste comentário aguardou o momento certo para contra atacar. Duas semanas depois da morte do velho Gêgê, sexta-feira à tarde, barbearia cheia, Maneca Gomes adentra com toda sua empáfia e arrogância na barbearia e com sorriso debochado. Quando chegou sua vez, Tio Dino perguntou: “E para o senhor tchê Maneca?”. “Vim aqui fazer a barba... capricha na aquaverva”, avisou o fazendeiro udenista.  Depois de passar o creme de barbear nas fuças do fazendeiro, Tio Dino pegou a navalha mais afiada impossível e quando chegou bem pertinho da veia jugular (aquela morredeira), o velho Dino deu uma apertadinha na dita veia matadeira e disse: “Soube que aqui em Morungava tem um orelha seca, um boca de fronha que ainda não descobri quem é, que anda falando que o finado Getulio; pai dos pobres não vai para o céu porque se matou” observou Tio Dino que finalizou num rompante que mais parecia um estouro da eguada “Se eu souber quem disse este crime, juro que vou cortar a veia aorta deste infame com minha  navalha”, e nisto fez mais uma pressão no pescoço do taura da UDN que se contorcia na cadeira. Maneca ficou branco como bunda de nenê novo, até parecia que tinha perdido todo o sangue. Todos se olharam dentro da barbearia porque sabiam quem havia dito e para surpresa,  Maneca Gomes se mijou que escorreu bombacha abaixo, mas agüentou no osso do peito, até porque com uma navalha no pescoço não tem valente e como dizia Jayme Caetano Braun “Até touro se ajoelha, cortado do beiço a orelha”. Tio Dino terminou a barba, cobrou como se nada tivesse acontecido e o velho Maneca Gomes  pagou quieto e foi embora sem ao menos se despedir. Todo mijado e talvez (C.....), montou seu flete e se foi estrada a fora. Tio Dino foi aplaudido pelos presentes, perdeu o freguês que passou a cortar cabelo e a fazer a barba em Gravataí, mas nunca mais falou mal de Getulio Vargas.

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