segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O MAESTRO ISMAR REICHERT

O futebol é algo mágico que transcende e une pessoas, sendo capaz até de parar conflitos e guerras. Aquela senhora gorduchinha denominada por bola tem um poder extremo e faz como que 22 homens e agora mulheres também corram atrás dela. A arte modernizada pelos ingleses, mas mistificada pelos brasileiros é uma referência em termos culturais e sociais.  Não sei se estou velho, mas o fato é que sou do tempo em que futebol era sinônimo de arte e gol. Vejo atônito um técnico como Osmar Loss que será sempre interino, caso não mude sua postura, escalar uma equipe com apenas Leandro Damião na frente contra a frágil e inexpressiva equipe do Atlético Goianense. Convenhamos dentro do Beira Rio jogar retrancado contra o Atlético? Era partida para como dizia o Abelão “entrar para dentro do adversário”. O meu medo é que esta escola brucutu de volantes e mais volantes tome conta do futebol e em breve teremos apenas o goleiro, mais nove volantes e mais um atacante isolado a espera de um milagre.  Penso como Jorge Fossatti (a história ainda vai redimir Fossatti. Ele foi o grande responsável pela conquista da Libertadores 2010). O Uruguaio diz que as equipes devem ser como gaitas, quando de posse de bola, estica o fole e ataca, quando o adversário recupera a posse, o fole se fecha e todos defendem. Não sou um apoiador do ofensivismo inconseqüente, mas deploro a retranca. Me perdoe  os retranqueiros de plantão, mas sou do tempo em que assistia ataques com: Valdomiro, Flávio e Lula, ou Valdomiro, Dário e Lula. Vi jogar, Valdomiro, Bira e Mário Sérgio e ainda de traz vinha Jair e Falcão ... Ou pela equipe da Azenha:  Tarcisio, André e Eder e se juntava ao ataque- Yura, Tadeu Ricci e Alexandre “Tubarão”. Sou do tempo de Jairzinho, Tostão, Gerson, Rivelino, Pelé e Paulo Cesar Cajú.  Havia mais beleza e plasticidade naquelas tardes de domingo. Não tem nada pior que assistir a um zero a zero num estádio de futebol. Em Campo Bom também fui um privilegiado pois assisti inúmeras apresentações da Orquestra “de chuteiras” do 15 de Novembro, os chamados “Professores de Futebol”. Orquestra habilmente regida pela batuta do maestro Ismar Reichert. Era uma das mais belas equipes de futebol que presenciei jogar. Bilú ou Raul Blos dois grandes goleiros que defendiam até a sombra. Naldo um lateral moderno que fazia sem saber o que anos depois o capitão Claudio Coutinho classificou de “overlaping”, ou seja, o Naldo descia para o apoio, encostava no ponteiro do 15, recebia a bola do mesmo e seguia, cruzando dentro da área. O Naldo era polivalente sem ao menos saber da existência do termo.  Havia tantos belos jogadores – o saudoso Luia, o Helinho, irmão do Mauro que jogava demais. Deoclécio Schuetz; disciplinado, leal e habilidoso, além é óbvio dos craques – Celso Bock, abro um parêntese: o Celso Bock era uma meia na essência da palavra, cadenciava o jogo, segurava a bola para a equipe respirar, tocava com a fineza dos gênios dos gramados, bem como, cobrava faltas de forma magistral. Depois como técnico também continuo sua caminhada vitoriosa.  Depois nas novas safras vieram: Renatinho “O Cri”, Claunir, Ivã, goleador nato que dificilmente perdia um gol. Prego, Rogério, Kiko, Ronaldão Timm, Luis Fernando Gaúcho, Gerson Machado e tantos outros. Posteriormente, a oficina de craques surgida a partir da aposta na base  onde talentos foram garimpados e lapidados por Gilberto Wingert; treinador vitorioso e o que mais título obteve no RS em termos de juniores trabalhando no 15, Cairú, Oriente, Lombagrandense e na várzea. A nova fase da mesma forma vitoriosa tinha: Dé, Polenta, Ivã, Airton, Trott, Pedrinho, Popa, Silvio, Rene, Pedrinho, Caruso, Elton, Miguelito, Crioulo, Valdeci, Ita, João Carlos e o genial Luisinho Rangel, abro novo parêntese: O Luisinho conhecia o cego dormindo e o rengo sentado, seus dribles desconcertantes e seus gols magistrais faziam a diferença. Mas volto a Ismar Reichert e confesso que tive o privilégio de vê-lo em ação com elegância sutil que marca os gênios da bola. Já escrevi e volto a sentenciar, pelo bem da estética seria fundamental que o Dr. Ismar jogasse de terno e gravata, mas não com qualquer terno, o ideal seria uma Armani. Passes milimétricos, lançamentos de 30, 40 metros no pé do companheiro, além de ser um excelente marcador, Ismar não dava pontapé, nunca foi expulso ao longo de quase 20 anos de futebol amador. Jogava de cabeça erguida procurando os espaços. Só vi três volantes com tamanha elegância  - Ismar, Paulo Roberto Falcão e Franz Beckembauer.  Dentro das quatro linhas, Ismar se assemelhava muito ao estilo do “Kayser” Beckembauer, mas fico na dúvida, quem se assemelhava a quem? Oh dúvida cruel... Ismar era cerebral e tratava a bola de tu, e é justamente aí que se diferencia o perna de pau do craque, o primeiro chama a bola de senhora, vossa excelência, ilustríssima, sabe por que? Porque não tem intimidade com ela, já o segundo a trata como esmero dos ourives. O Dr. Ismar fazia sonetos com a bola nas tardes de domingo nos campos por onde os professores de futebol se apresentavam em grandiosos concertos. Encerro afirmando: que me perdoe os “retranqueiros volanteiros”, mas vocês estão matando a arte sublime e moleca. A ditadura da retranca está assassinando a arte do futebol. E por fim, muitos técnicos pretendem transformar cabeças de bagre em craque e não dá. Em Morungava no sitio do Tio Dino havia uma ovelha, eu e me primo sentamos ao redor dela próximo à um barranco a avisamos: “Ovelha, você pode voar... Você vai voar”. Resultado empurramos o pobre animal que caiu e quebrou o pescoço. Em síntese, ovelha não voa, porque não é de sua natureza... Ovelha só voa em história em quadrinhos e perna de pau; cabeça de bagre é sempre perna de pau; cabeça de bagre. Me desculpem os ruins, mas talento é fundamental. 

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