segunda-feira, 4 de agosto de 2014

WERNO JAEGER: UM EXEMPLO DE VIDA

Sabe aquele sentimento de orfandade que toma conta do nosso ser? Aquele nó na garganta e aquela lágrima teimosa que quer rolar pela face. Às vezes me pergunto por que será que a vida tem que ser assim marcada de despedidas de pessoas especiais? Na verdade quando sepultamos um amigo, acredito que morremos um pouquinho. Na sexta-feira 1º de agosto Campo Bom amanheceu mais triste, a cidade perdeu uma reserva ética e moral. Morreu Werno Olinto Jaeger um homem na acepção máxima da palavra. Sério, trabalhador, franco e direto. Seu Werno detestava a corrupção, bem como, não compactuava com a maldade e as perseguições que impera hoje no meio político. Seu Werno foi vereador pelo município de São Leopoldo quando Campo Bom ainda pertencia ao município vizinho. Depois da emancipação foi vereador e dos bons. Naquele tempo o parlamentar campo-bonense não recebia salários, mas era movido pelo maior sentimento do mundo; o amor pela nova cidade que começava a trilhar os caminhos até se tornar o Pequeno Gigante do Vale. Naqueles tempos: “Bom era Campo Bom ou Campo Bom não para!” Jaeger  também foi secretário de Obras e daqueles que botava literalmente a mão na massa, ajudando muitas vezes a sentar os canos de esgoto nos bairros de nossa cidade. Partidário fiel e de convicções definidas respeitava a todos. Tinha trânsito livre em todos os partidos por sua postura conciliadora. Morador da Rua Tamoio nos brindava com seu sorriso bonito e palavras de incentivo. Não raro caminhava até a Praça João Blos onde  dialogava com os jovens há mais tempo. Ali debatiam os problemas do município, do 15, Oriente, do Colorado e do Grêmio e seguiam para as incansáveis rusgas do dia a dia da política municipal, estadual e do país. Por volta das 11 horas da manhã nos últimos tempos munidos de sua elegante bengala e de seu charmoso chapéu retornava a passos lentos com destino a seu lar. Como jornalista tive a grata satisfação de entrevistá-lo para um material produzido no mais antigo e conceituado jornal da cidade – O Fato do Vale. Foram duas páginas de pura emoção e resgate de história. Na semana seguinte, a matéria de duas páginas, encontrei seu Werno ali na Praça João Blos onde as flores dos ipês vermelhos contrastavam com a melodiosa sinfonia dos sabiás que lembravam os acordes wagnerianos ou até mesmos os versos de Neruda. Neste cenário bucólico do que ainda restou da Praça João Blos vítima do “progresso” a qualquer preço em detrimento da especulação imobiliária é que encontrei seu Werno. Chapéu estilo panamá, o apaixonado por Tiro ao Rei competição centenária praticada no Clube 15 de Novembro abriu o sorriso do tamanho do mundo e sentenciou: “Seu Wingert foste muito bondoso para comigo” E depois concluiu: “Esta reportagem vai fazer este velho viver um pouco mais” Se tem algo que este domador de letras ou escriba dos tempos modernos não perdeu foi à capacidade de emocionar-se, afinal o que é a vida senão a pura emoção de um amor. A doce emoção do beijo da mulher amada, do vislumbrar do nascimento de uma filha, seu crescimento e o desabrochar para a vida?. O que a vida senão as derrotas e  as vitórias e o constante aprendizado?. Naquele instante parei e fiz o que em muitas vezes não fizera. Não desperdicei a oportunidade e olhei bem nos olhos daquele grande homem: “Seu Werno se tem alguém que merece esta matéria, este alguém é o senhor. Eu gosto muito do senhor e agradeço a Deus ter tido a dádiva de conhecê-lo e mais ainda de entrevistá-lo” Ele apertou a minha mão e com os olhos cheios de lágrimas e a voz embargada disse: “Seu Wingert o coração deste velho já não é mais o mesmo” E seguiu pela Adriano Dias e ao atravessar a avenida em direção ao Largo Irmãos Vetter para se encaminhar a Rua Tamoio, pensei comigo mesmo: ali vai a história viva da minha cidade! Partidário, trabalhador, apaixonado pelo tiro e pelo  15, outra paixão era a família, a qual sempre defendeu como porto seguro e bússola fiel de uma sociedade saudável e equilibrada. Hoje ao caminhar pela Praça João Blos ou pelos arredores da antiga Biblioteca Pública, observo o banco onde muitas vezes ao lado de seus amigos seu Werno contava histórias. Naquele banco está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim.Werno Jaeger deixa uma lacuna sem precedentes, mas cumpriu sua missão, assim é o ciclo da vida. Da morte e dos impostos nós não escapamos já afirmou o pensador, mas não estamos preparados para este adeus, até porque nunca foi propósito de Deus que homem viesse a morrer. Aos 94 anos seu Werno nos deixou, porém ficou seu legado. Quando ele nasceu todos a sua volta sorriram, só ele chorou.... Viveu de tal maneira que no dia de sua morte todos a sua volta choraram, só ele sorriu. O corpo de Werno Jaeger foi velado na sala de sessão Getúlio Vargas da Câmara Municipal de Vereadores de Campo Bom.
Texto: Jair Wingert; jornalista – Campo Bom. RS  

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