quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

MEMÓRIAS DE UM JORNALISTA - PARTE - I

Costumo afirmar aos questionamentos corriqueiros do tipo: ah você é vereador? Respondo sempre desta forma: estou vereador, mas na verdade sou jornalista, a bem da verdade sou mesmo é repórter e me sinto muitas vezes como um Dino, não o tio aquele lá de Morungava, mas como um dinossauro no sentido literal da palavra. Confesso que ao longo destas cinco décadas de vivência tive a oportunidade de ter convivido com profissionais fantásticos e amigos extraordinários dentro das redações de jornais e estúdios de rádio. Comecei minha caminhada pelas mãos de Milton Vergara,  diretor da então Rádio Cinderela (1470AM – a Princesinha do Vale), fui redator, apresentador, produtor e repórter esportivo. No convívio fraterno nos estúdios da Rua São Paulo aprendi muito com o Elio Silva, Luis Carlos Nunes, Mário José, Lucindo Amaral, Darci Schmidt, Flávio Lima, Celso Morbach, Glênio e Aurélio. A Rádio Cinderela foi uma grande escola . Também tive oportunidade de trabalhar na Gazeta trazido pelas mãos do mago Fernando Santos; profissional altamente competente e um homem de uma postura ética invejável. Nesta redação a gente vivia como uma grande família com pessoas magníficas como: o falecido Careca; João Claudio Gaspar, Helena Cabral, Cândido Nascimento, Dr. Francisco “Chicão”, Marcelo Ermel; hoje na Zero Hora e cheio do dinheiro (Este é o Celeiro), Duarte, Marquinhos Dutra, Marcos Riegel, Rosa Godoy, Marilene, Cladi, Raquel, Rejane, Elisandra, Nézia e tantos outros que faziam parte deste time vencedor. Nos dias de fechamento da edição, lá pela 11h e 30min aparecia o Chicão, o nosso Dr. Francisco que usava um computador, daqueles antigões com tela meio alaranjada e um disquete DOS para ter acesso. Quando falo na questão Dinossauro é com propriedade, porque peguei tempos no qual redigíamos o texto nas poderosas Remington Olivetti (será que algum jovem sabe o que é um Remington Olivetti portátil?). Pois é digitávamos o texto, o Fernando corrigia, diagramava e o mesmo era levado até a Digitipo em Novo Hamburgo, onde o alemão Ludwig digitava num computador, voltava para Campo Bom onde era colado, colado mesmo, nas páginas, retornava a Novo Hamburgo para confeccionar os fotolitos e depois  o carro do Mauri que era diretor de vendas, ou seja, cuidava da parte comercial subia a serra até o Pioneiro onde se deixava o jornal para ser rodado, muitas vezes na madrugada. Na longa espera pela rodagem o lanche era feito no Xis da Gringa ali pertinho do Centenário. Alguém concebe hoje fazer jornal assim? Cobri campeonatos varzeanos, aberto de vôlei, 15 de Novembro no amador, depois profissional, cadernos de bairro, criamos a Corrente de Fé e Solidariedade, onde ajudávamos pessoas, carentes, doentes e levávamos esperança aos desesperançados, tudo com o apoio e crivo do Mago Fernando Santos. Também assinei a Coluna Bola na Rede, onde o primeiro patrocinador foi a recém inaugurada Piccolo Tintas, depois foi a vez da Casa Rubens de Novo Hamburgo bancar o patrocíonio. Bons tempos, mas cada um seguiu seu caminho e nunca mais nos reencontramos. A vida é assim... Na verdade mais parece uma vendedora de doces, que passa e dentro de instantes o tabuleiro está  vazio. Como jornalista ainda tive a honra de trabalhar no Grupo Sinos, na emissora (Rádio Cinderela, depois ABC 900), que havia sido adquirida pelo NH e agora com os estúdios em Novo Hamburgo. Lá fui gerenciado pelo Serginho Vidal, um amor de pessoa, uma figura boníssima, um líder servidor que sempre nos motivava e fechava sempre com o grupo. No Grupo Sinos convivi com o Jaques Santos, sobrinho do Mário Lima, segundo informações o Jaques é narrador na Itatiaia  em BH (Minas Gerais), bem como, com o Polaco; Edson Knewitz, baita comunicador e um ser humano extraordinário, além do Vanius Paveglio Porto; o nosso eclético e dinâmico Vanius um dos melhores narradores do Rio Grande do Sul. Foram bons momentos de aprendizado. Também já entrei em umas frias tanto em rádios como jornais no interior, nas quais estou até hoje esperando o pagamento, mas faz parte como diz o filosofo. Tem que contar as boas e também as ruins. Outra passagem fenomenal em jornais foi junto a família Melo, detentores dos veículos – O Fato do Vale e JS. Que escola de aprendizado neste grupo, onde pude aprender muito com o Joelci Melo, sua esposa Evanir Martini;uma verdadeira guerreira que faz e acontece. Ali tínhamos um time de primeira com: Germano Lauck, Walmir Martini “Mi”, Daniela Klein, Elaine, dona Beloni, o Sergio Rodrigues, que time formado por seres humanos na essência da palavra. O Sergio, filho do seu Rodrigues (sub-prefeito do 25 de Julho)  é empresário em Santa Catarina era uma espécie de Hans Donner dos jornais. O tio Sé como chamávamos era ninja e um sujeito bondoso capaz de emocionar-se com as vicissitude humanas. Também tive a satisfação de conhecer e me tornar amigo do Walmir Martini que nós apelidamos na redação de “Miojo”.  O Mi estava sempre disposto a ajudar e incentivar a equipe, não era furador de balão. Tinha sempre palavras de ânimo e bondade. A vida na redação era uma festa, lembra Sérgio? “Quer falar com pai Renato vem agora...” E o louco que entrava dentro do lixo, subia em cima do armário? E os lanches fiados no Paulinho, no trailer do outro lado da rua? E o leiloeiro procurando a Elba Ramalho? E os almoços de sextas-feiras? Bons tempos. No JS e O Fato do Vale aprendi ser jornalista, não que antes não fosse, mas o pós graduação redacional aconteceu mesmo no Fato e JS, ali aprendi a ter fome, sede e ânsia pela noticia. Já levei muita bola nas costas, até que aprendi a checar as fontes e criar um rede confiável de informantes em todos os setores da sociedade onde estava inserido. Aprendi que ficar numa redação, recebendo noticias pela internet ou pelo telefone não me faz um repórter de verdade. O repórter tem que se esfregar nas pessoas, tem que buscar a notícia como o garimpeiro busca a pedra preciosa. A notícia deve ser a pedra filosofal. O Fato do Vale é uma grande escola de jornalismo. 
Mas e hoje? Bueno, muita coisa mudou, mas ditames jornalísticos na minha modesta opinião não mudaram. Penso que a internet vem criando uma geração de pessoas que estão acostumados com síntese da noticia, com a desculpa de que as pessoas não tem tempo, as noticias se resumem a dez linhas e nada mais. Onde estão as grandes reportagens? Profissionais como José Hamilton Ribeiro “Zé Hamilton”, do Globo Rural e um dos maiores jornalistas do Brasil estão em fase de extinção? Reportagens clássicas como as do Carlos Wagner (O Brasil de Bombacha) que virou livro ainda tem lugar?  Neste bombardeio de informações a que somos submetidos hoje,o que resta de novidade aos nossos velhos jornalões para nos contar no café da manhã? A sensação que nós temos enquanto leitores de jornais é de já termos lido ou ouvido aquela noticia em algum lugar. É gosto de pão amanhecido. Modestamente fico a pensar, para onde caminha a mídia impressa? A mídia eletrônica avança de forma arrebatadora e para tanto as grande empresas de comunicação investem em novas plataformas de comunicação e o jornal do interior, na maioria das vezes empresas essencialmente familiar, continuará sendo uma grande ferramenta, se conseguir se manter isento, com imparcialidade. O jornal do interior escreve o que acontece na nossa cidade, no nosso bairro, na rua onde moramos e dá voz aqueles que muitas vezes não tem acesso ao trombone. Não é uma mídia alternativa como muitos preconizam, mas sim a mídia vital; preponderante, pois com a globalização sabemos tudo o que acontece na grande aldeia global (1984 - Orweel), porém a falta de médicos nos postos, a falta de ônibus no nosso bairro, a vitória do nosso time no Varzeano, as noticias da Associação de Bairro, a falta de policiamento na cidade, a foto de formatura do nossos filhos, a festa de 15 anos, onde vamos encontrar? No jornal comunitário, ou seja, no veículo de comunicação local. Decididamente sou um cinquentão que integra o Jurassic Park, mas sou um apaixonado pela comunicação escrita e ninguém tira os momentos que vivenciei como repórter. Meu nome? Jair Jornalista e parafraseando Pablo Neruda maior poeta da America Latina concluo: confesso que vivi.      

Nenhum comentário:

Postar um comentário