quarta-feira, 6 de julho de 2011

O GATO E O TELEFONE

Quando observo pessoas mal humoradas, carrancudas e que se julgam donas da verdade, inicialmente o sangue sobe e a gente meio que se revolta, porém sigo o exemplo de contar até dez e concluo: ignorância é algo digno de pena e arrogância talvez não tenha cura. Muitos esquecem que somos todos iguais, ou seja, depois do jogo de xadrez encerrado, rei e peão vão para a mesma caixa. Alguns analisam as pessoas pelo invólucro e não pelo conteúdo... O que mata a sede é a água e não o copo. Saint Exupéry escritor francês e criador do Pequeno Príncipe nos convida a simplicidade e a vida modesta. Fico a meditar na loucura da chamada “vida moderna” onde até os 50 anos corremos, competimos feitos doidos, aliás, esta questão de loucura cabe uma analise, pois o que é loucura? Quem definiu estes parâmetros? Num muro de Campo Bom alguém pichou nos anos da ditadura – A vida é uma loucura, enrolada em seda pura, porque de cara ninguém atura” Nas paredes do São Pedro, não aquele ali próximo da Praça da Matriz, havia uma frase reflexiva entalhada no sombrio reboco, anunciando de forma profética: “Aqui nem todos que estão são e nem todos são estão! Nós seres  “normais” com os nossos cartões de créditos, com os financiamentos, nossos leasing, nossos Prozacs e nossas neuras urbanas, trabalhamos de forma extenuante até os 50 anos para ganhar dinheiro, mas perdemos a saúde, depois gastamos o dinheiro todos e mais um pouco para tentar recuperar a saúde que perdemos. Somos inteligentes.  Existem pessoas que desejam acrescentar dias a suas vidas, mas não seria melhor acrescentar vida a seus dias?  A cada dia que passa mais me conscientizo de que não vou encerrar meu ciclo na cidade grande e Morungava que me aguarde.... Lá quero colocar um até breve na minha existência, mas volto a destacar em minha lápide deve constar – Aqui jaz muito  contra vontade um jornalista e contador de causos.... Mas eu sei em que tenho crido e estou bem certo que é poderoso para guardar o meu tesouro até o fim chegar! Em Morungava não existe  pressa e as pessoas se conhecem, se cumprimentam e lá não há arrogância típica das “grandes cidades”. Morungava é um SPA a espera de almas cansadas dos distúrbios e neuroses urbanas. Venha para Morungava e seja feliz....   E por falar em Morungava, tio Dino sempre teve verdadeira paixão pelos animais em especial, cachorros e gatos. Os gatos ainda pequenos recebiam do velho Dino um tratamento nada convencional, visando proteger os bichanos, para que os mesmos não andassem nas “folias”, ou seja, correndo atrás das gatas no cio, meu tio  resolvia o problema colocando os gatos de cabeça para baixo dentro de uma bota cano longo e com uma faca afiadíssima, passava a lâmina nos testículos dos bichanos que saiam em disparada ficando por três, quatro dias escondidos pelos galpões, lambendo o ferimento. Cruzes... só de pensar me deu uma dor!  Após a castração, os gatos ficavam só pela cozinha, não raro ronronando ao redor da tia Miúda a espera de um pedaço de lingüiça ou salame. Nas tardes de primavera dormiam na soleira da janela da varanda ou nas cadeiras de preguiça no alpendre. Sarnei com “i” e não com “Y” era o nome de um dos gatos de tio Dino. O nome foi dado, pois tio Dino era fã do autor dos Marimbondos de Fogos, o Zé Ribamar, lembra? Ele mesmo que chegou a presidência após a morte (estranha, seriam as forças ocultas?) de Tancredo Neves.... Tia Miúda chegou a ser “Fiscal do Sarney” e não raro avisava o Ancelmo do armazém que os preços estavam altos. Sarnei, não o do Maranhão, mas o do tio Dino era um gato amarelo de olho azul da cor do mar (de Santa Catarina é claro), mas o Sarnei tinha um defeito grave era ladrão. Não podia deixar um pedaço de carne na mesa que Sarnei roubava e corria para debaixo da casa. Tio Dino coçou o lombo de Sarnei, não o do brasileiros e brasileiras e sim o gato, com um mango de tatu, mas gato ladrão e cachorro comedor de ovelha, segundo o velho Dino só matando. Um dia cansado da ladroagem do Sarnei, o gato, tio Dino teve uma idéia, colocou o Sarnei num saco de linhagem e levou o bichano até a localidade do Maracanã. Ao retornar para casa a noitinha feliz com o dever cumprido, sentou para escutar a Voz do Brasil, onde ouviu o Sarney afirmar que agora seria criado gatilho salarial. Por volta das 19 horas e 30 minutos o velho Dino olhou para a porteira e lá estava o Sarnei o gato, sentado ofegante da viagem de retorno. No dia seguinte tio Dino preparou o Gordini e levou o gato até Pinheirinho região de Santo Antônio na certeza de que aquela seria a última viagem de Sarnei. Próximo a uma ponte tio Dino parou o carro e abriu o saco, soltando o Sarnei que desceu mais faceiro que ganso em beira de taipa de açude. O velho Arcedino estufou o peito, pois se livrou de um problema... Pelo retrovisor ainda vislumbrou Sarnei o ladrão, se coçando. Mas como não conhecia bem a região meu tio se perdeu, andou horas e horas e não encontrava o caminho para Morungava. Depois de quase duas horas viu uma placa que dizia: Osório 4 quilômetros. Quase desesperado, tio Dino parou num Posto da Policia Rodoviária e ligou para casa e foi questionado pela tia Miúda: “Ué Dino onde tu andas?” A resposta veio pronta em tom ríspido “Fui consumir com o Sarnei aquele ladrão” Dando risada do outro lado da linha, tia Miúda disse: “Pois é o Sarnei já está aqui na sala dormindo no sofá” Tio Dino que era mais ladino que mascate turco foi logo avisando: “Miúda acorda o Sarnei este ladrão e coloca ele no telefone para ensinar o caminho de volta para mim”.... Tem que ter concurso! – Jair Wingert; jornalista.

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