quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

ROGÉRIO MARTINS: UMA VIDA QUE VALEU A PENA

O poeta pergunta: “E a vida? E a vida o que é, diga lá, meu irmão?
Ela é a batida de um coração? Ela é uma doce ilusão? Mas e a vida? Ela é maravilha ou é sofrimento? Ela é alegria ou lamento? O que é? O que é meu irmão?” 

Já o nosso poeta maior Mário Quintana diz que o duro não é morrer, o duro é deixar de viver! 
Hoje amanheci, meditei e constatei que tenho mais passado que futuro e que a vida parece um cesto cheio de doces que no começo os comia de forma displicente, alguns  até caiam do cesto sem ao menos preocupar-me, porém os anos se passaram e agora que vejo o cesto esvaziando, os saboreio como um faminto ou tal qual alguém perdido no Saara e que almeja um copo de água  para refrescar as vicissitudes da alma e do corpo. 
A palavra morte para alguns é uma sentença final para outros um até breve. Pois o dia de segunda-feira, 04 de janeiro amanheceu modorrento, com um calorão de rachar no Planeta Campo Bom, mas também amanheceu triste com a morte de um filho ilustre, Rogério José Martins que lutou bravamente com a doença que lhe ceifou a seiva da vida. Caiu como os gigantes, tombou de pé meu amigo. A doença, que não é plano de Deus, que fique claro, trouxe dor, momentos de incertezas, mas não tiraram a maior das virtudes do Rogério; a esperança e o sorriso. Ele era do tipo que não tinha tempo ruim. Parceiro de todas as horas, para uma galinhada, um conselho ou até uma critica e não obstante um embate filosófico ou ideológico, sempre regado a um bom café no Central, mas sempre prevalecia a amizade; o Rogério era um democrata, um homem a frente de seu tempo. Vereador, secretário municipal, presidente de partido, empresário, ligado a comunidade e acima de tudo voluntário e solidário! Seu corpo foi velado no Parlamento; na Casa do Povo e por lá acorreram centenas e centenas de pessoas, ricos, pobres, negros, brancos, colorados, gremistas, orientistas, quinzistas, socialistas, trabalhistas ou sociais democratas, por quê? Porque Rogério tinha o dom de agregar e aglutinar pessoas ao seu redor. Ali perto do esquife pensei cá comigo: será que no dia em que este jornalista partir tantas pessoas vão se achegar para a despedida? O nosso amigo partiu mais deixou seu legado de homem de bem, envolvido com a comunidade e um exemplar pai de família, apaixonado pela fiel companheira Marli e pelos filhos, noras e netos os quais classificava de seus tesouros. 
Conheci o Rogério  no período de transição entre S.B Kunz e Caeté e ali em 1982 descobri o homem de bem e capaz de se emocionar com as agruras da vida. Inverno de renguear cusco e ao lado da máquina estava este  futuro escriba e um jovem que era chamado de Seberi em função da cidade  de onde veio; um colono perdido no asfalto que veio em busca de dias melhores no Planeta Campo Bom. O garoto mais jovem que eu estava de chinelos tipo hawaianas e com certeza sentia frio, pois os dedos estavam roxos. Ao lado da máquina ali estava o Rogério que perguntou ao menino de chinelos: “Garoto tu podia me quebrar um galho?” O jovem recém iniciado na empresa retruca: “O que o senhor quer?” Rogério sério retorna: “Que número tu calça?” A resposta foi 39 e novamente Rogério  afirma: “Este meu sapato está apertando meus pés e eu preciso de um chinelo, que tal a gente fazer um troca pelo menos até o final do dia?”. O jovem Seberi aceitou a troca e com isso aqueceu os pés. Rogério saiu de fininho, sem alarde e com habilidade fez caridade sem constranger. O sapato nunca mais foi destrocado pelo chinelo. 
Outra feita quando atuava em uma empresa jornalística A Gazeta na avenida dos Estados, recebemos o convite para participar na casa dos Martins de uma comemoração. Chegamos lá, eu, o Fernando, o Mauri e senão me falha a memória o Márcio Cruz. Já havia algumas pessoas e todos se questionavam: mas é aniversário de quem? Nem mesmo a Marli sabia a motivação da festa. Porém alguns minutos adentra o Rogério sorridente com carne para um churrasco, onde todos animados dialogavam e trocavam ideias, já no final do churrasco, o Rogério traz um bolo com apenas uma vela e todos atônitos se perguntam: Mas quem está de aniversário? E o Rogério abre um grande sorriso e diz: “Convidei vocês aqui pessoas que eu amo para nós comemorarmos a vida. A vida é um grande presente do criador e a gente tem que comemorar”. Um gesto nobre de um verdadeiro ser humano. 
Quando  nos deixa uma figura como o Rogério o mundo fica mais triste e mas pobre. Um momento de rara beleza e encantamento aconteceu quando o Feijão exímio músico e amigo pessoal do Rogério adentrou a Casa do Povo tocando “Amigos para Sempre”. Lentamente na frente do caixão de forma magnifica prestou seu último adeus. As notas da canção que fala de amizade eram tiradas com a maestria do músico, mas lágrima rolavam pela face do ser humano que se despedia do amigo. 
O velório do Rogério se tornou até um momento cultural com irmãos, amigos recitando poesias a beira do caixão e isso só o Rogério seria capaz. 
Partiu o amigo Rogério e que falta fará, para discutir, brincar, sorrir e palavrear e apontar caminhos nestes tempos em que urge a necessidade de timoneiros a apontar o porto seguro. “A ausência dói, mas como diz o poeta:” Eu fico com a pureza das respostas das crianças: É a vida! É bonita e é bonita! Viver e não ter a vergonhe de ser feliz, cantar, a  beleza de ser um eterno aprendiz. 
Descansa em paz guerreiro. – Jair Wingert; jornalista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário