segunda-feira, 13 de julho de 2015

DUAS LENDAS DO FUTEBOL

Manguita debaixo dos paus era mágico. No Inter foi o maior de todos os goleiros. Jogava finais com dedos quebrados e o bicho garantido na noite anterior.
A posição de goleiro é algo muito importante, pois debaixo dos paus estes homens que no passado vestiam preto viviam a glória e a maldição em questão de noventa minutos. Amados, odiados, aplaudidos, vaiados atuam numa posição tão ingrata que nem grama nasce no local onde  jogam. “Todo goleiro é louco ou é ...” bem a última parte não vou escrever para evitar constrangimento ao autor da frase que me afirmou que ainda não definiu bem qual é sua opção se a primeira, a segunda ou as duas. 
Sem nostalgia e pieguices confesso que fui testemunha ocular de um período mágico do futebol. Anos 70 e 80 gerações de ouro. Quem vai esquecer  da seleção de Telê Santana em 1982, a melhor de todos os tempos na minha opinião, mas não ganhou nada. Desculpem-me os incautos, e amantes dos brucutus, mas no futebol a arte conta e muito.
Perdoem-me os pernas de pau, mas ser craque é fundamental. Um meio campo com Cerezo, Falcão, Zico e Sócrates e um ataque com Serginho e Éder é algo magnifico. Serginho não era uma Brastemp, Reinaldo era dez vezes melhor, mas vivia de contusões em contusões. A defesa com Leandro na lateral direita, Junior na esquerda e na zaga Oscar e Luizinho. No gol Waldir Peres que não era dos melhores, ou seja, era um ponto frágil. Carlos da Ponte Preta e Paulo Sérgio do Botafogo eram melhores.
Quer como boleiro, como jornalista esportivo ou torcedor tive o privilégio de ver muitos grandes goleiros atuando. Não vi o Raul Blos no 15, mas disseram que embaixo dos paus se agigantava e fazia chover em plena tarde ensolarada. Os mais antigos afirmam que Lev Yashin; russo nascido em  Moscou em 22 de outubro de 1929 era o maior de todos. Na América do Sul ficou conhecido como “Aranha Negra” na Europa o “Pantera Negra” devido seu uniforme todo preto. Foi o primeiro goleiro a ganhar uma Bola de Ouro na Europa em 1963. Aposentou-se em 1971 e  deixou a vida em  20 de março de 1990 em Moscou vitimado por um câncer no estômago. Yashin foi o maior de todos, mas não o vi jogar. Mas vi Benites fechar o gol do Inter. Tive a alegria de ver Taffarel jogar e por aqui vi o Decão no 15 e Cairú, o Renê do 15, do Cairú, o Jorge Baleia do Guarani, do Oriente e do Gandense e o super Zé Carlos da FCC e do Oriente. Mas estes eram humanos, agora me reporto a dois que não eram deste planeta. O primeiro  era um pernambucano  que chegou no Internacional em 1974 sob a desconfiança da torcida e da exigente crônica gaúcha. Hailton Correa de Arruda; o Manguita foi o maior goleiro brasileiro de todos os tempos. Jogou no Sport do Recife, Botafogo de Garrincha, fez parte do insucesso da Copa da Inglaterra em 66 e depois foi para o Nacional do Uruguai onde  se tornou uma lenda, vencendo a Libertadores e o Mundial de clubes. O Inter que montou um dos melhores times do mundo trouxe Manguita com 38 anos, mas alguns diziam que já tinha mais de 40 anos.  Apaixonado por carteado, Manga jogava o bicho do grenal de domingo na concentração com os colegas. Jogava com os dedos quebrados e costumava dizer  “Mim vai todo arrebentado”, numa mistura de espanhol com português. Meus olhos  vislumbraram aos 11 anos de idade na social do Beira Rio em 14 de dezembro de 1975, Manguita fazer milagres como pegar um escanteio de Nelinho só com uma mão. Nelinho exímio cobrador bateu um falta na goleira do Gigantinho na segunda etapa, a bola veio forte e, Manga já havia se atirado para o lado esquerdo, só que a bola fez uma curva novamente e mudou de direção; Manguita em pleno vôo mudou o rumo e retornou em pleno ar, tocando com a mão direita, evitando o gol. Nós nos olhamos na social e nos beliscávamos, pois presenciamos uma das maiores defesas do futebol. Inclusive você que tem menos de 30 anos, vá ao Youtube e acesse final Inter e Cruzeiro 1975 e confira o que estou escrevendo. Manga jogou por vários clubes no Brasil inclusive no tradicional adversário do Internacional, mas encerrou a carreira no Equador. Manga tinha uma das faces mais feias do futebol brasileiro. Para irritá-lo, seus companheiros contavam a seguinte história: disseram que certa vez, em uma visita a uma boate do exterior quando o Botafogo excursionava, Manga conseguiu a companhia de uma esplendorosa mulher. Contudo, antes que deixasse o local com sua acompanhante, seus companheiros o alertaram de que ela não era mulher de verdade, mas sim um homem vestido de mulher (transexual). Manga não se alterou e respondeu: "Não faz mal, ela pensa que eu sou o Jairzinho." Em 1979, ele se aproveitou dessa fama e emprestou sua imagem ao anúncio de um rádio da Philco, onde se lia: "Dura tanto quanto o Manga e é muito mais bonito.”
Em 27 de novembro de 1965 em um amistoso pela Seleção Brasileira, em jogo realizado no Estádio Maracanã contra a União Soviética; cobrou um tiro de meta e voltou para o seu gol sossegadamente, dando as costas para o campo, a bola bateu na cabeça de um jogador adversário que estava agachado, e entrou no gol de Manga fazendo o gol, o jogo terminou empatado em 2 a 2. Em 2010, o Inter trouxe Manga  para Porto Alegre onde atuava como embaixador do colorado, viajando  pelo interior e pelo Brasil nas visitas do Consulado. Em 2012, Manguita  com saudades dos familiares voltou a Guaquil no Equador onde vive.

“Este transformava o inusitado em cotidiano e isso é arte”.
As mãos do velho Manga são provas vivas de quem fez da profissão de goleiro algo extraordinário.
 O segundo  grande goleiro ainda tem muito gás. Também vi Bilú jogar no grande time do 15 de Novembro, “Os professores de futebol”. Debaixo dos paus era  mágico. De média estatura poderia ser considerado baixo, mas voava como um sabiá e possuía uma das melhores reposições de bola com a mão que já vi. Suas reposições muitas vezes ao habilidoso Luzinho na ponta esquerda decretavam contra-ataques mortais. Exímio defensor de pênaltis, Bilú treinava muito. Nos tempos em que o 15 era amador, as empresas de calçados liberavam os jogadores do 15 para treinar as terças e quintas-feiras das 11 da manhã até as 12h e 30min, depois o grupo almoçava e retornava para suas fábricas, resultado, o 15 vencia campeonatos e mais campeonatos. Na segunda etapa as equipes adversárias babavam na gravata. Alguns treinos eram à tardinha, mas sempre após os treinos, Bilú recrutava alguns atletas e permanecia treinando chutes a gol. Sua fama se tornou tão grande que ao falar em goleiro o sinônimo era Bilú.

Bilú defende milagrosamente um chute do lateral Eurico na partida em Campo Bom contra a seleção de Luciano do Vale.
No veterano do 15 de Novembro em 1986 a seleção de másters do Luciano do Vale (TV Bandeirantes – canal 10) não havia empatado nem perdido para nenhuma das equipes do Brasil e numa tarde bucólica, no então estádios dos Eucaliptos, hoje Sady Arnildo Schmidt, os veteranos do 15, com Ismar, Celso, Prego, Naldo, Schuetz, Luia e Cia encararam a seleção de Rivelino, Clodoaldo, Cafuringa, Gil, Lela, Eurico, Ado e foi o próprio 15 quem abriu o placar com um golaço do atacante Prego. A seleção conseguiu o empate, mas o nome da partida foi Bilú que fechou o gol com defesas monumentais, tanto que o técnico Luciano do Vale convocou o gaúcho campo-bonense para o selecionado. Bilú defendeu a seleção brasileira de másters em três amistoso – São Paulo e Minas Gerais e depois voltou para casa com o dever cumprido. Hoje ainda jogando com os amigos quem o vê  atuando na sua empresa que comercializa gás de cozinha, carregando os botijões pelo centro da cidade, sorrindo e dialogando com os amigos do Café do Luciano Taschetto, talvez os mais novos desconheçam, mas este homem foi um lenda. Bilú foi o maior goleiro que Campo Bom já produziu até o momento.
Manga e Bilú me desculpem os mais novos, mas este escriba teve o privilégio, a grata satisfação de vê-los não jogar, porque craque não joga... Se apresenta.
Jair Wingert – jornalista – Reg. Prof. MTb/RS. 10.366.
Na histórica excursão do veterano do 15 para a Europa, Bilú foi um dos destaques. Na foto os campo-bonenses pousam junto com a equipe da Adidas na Alemanha. Bilú é o quinto da esquerda para direita no meio de dois alemães.

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