segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A FLAUTA

O campeonato brasileiro está encerrado, venceu a equipe mais competitiva e a mais disciplinada taticamente. O Cruzeiro com uma equipe sem medalhões, mas com padrão de jogo definido e com um grupo parelho, inclusive com um banco de nível que não destoava quando Marcelo Oliveira efetuava substituições. Venceu o mais equilibrado. No Rio Grande do Sul novamente pela má gestão tanto de Inter quanto Grêmio restou para o nosso bairrismo exacerbado a disputa de vaga na Libertadores e o gauchão. Nada contra o gauchão, porque pior que vencer a competição é perdê-la, mas convenhamos é muito pouco para a grandeza destes dois grandes clubes gaúchos. Tenho inúmeros amigos gremistas e os respeito e a reciproca é verdadeira, apesar de muitos destes não perdoarem os tropeços do colorado. Alguns mandam mensagem tipo; “Olha o Celso Juarez está desempregado” coisas do tipo. Mas sou sincero desde 2008 procuro não tocar flauta no nossos adversários, por que? Explico, um belo dia amanheceu e havia grenal. Como de costume nos preparamos pois o Gigante nos esperava para começar a festa. No caminho adentramos na Padre Cacique e os guris vendiam bandeiras, camisetas e flâmulas do Clube do Povo, mais adiante uma senhora oferecia uma bandeira com a frase -Campeão de tudo! Um jovem ofertava por dez reais um poster de 2006 – numa bela sessão nostalgia onde havia os dizeres – Campeão do Mundo Fifa. Entramos no estádio e para minha supresa havia 10 mil torcedores tricolores como nos velhos tempos. Entramos naquela festa ao ritmo da Guarda Popular “Inter estaremos contigo.... Tu és minha paixão....” “ O guaraná na mão (não bebo).... E de repente começa a tradicional “Ola” seguida do Vamo, vamo Inteeeer” O Gigante estava rugindo e a cada tentativa de grito de guerra do outro lado era abafado pela maré vermelha com “Ão, Ão,Ão segunda divisão”. Tudo saudável, sem brigas. No pátio do Gigante vislumbrei uma cena poética, demonstração de civilidade a toda prova, uma família, pai e duas filhas; vestidos os três com a camisa colorada, a mãe e um menino vestidos com a camisa do Grêmio se separaram. Cada grupo seguiu para sua torcida, aliás, colorados e gremistas caminhavam juntos de forma amistosa como no passado, quando o que existia de mais agressivo eram os temidos sacos de mijo “Senta, olha o mijo” Lembra? Acomodado embaixo da marquise que existia na época – A maior torcida do Rio Grande no anel superior, sintonizei o Nando Gross e ouvia atentamente o mais lúcido comentarista do Rio Grande do Sul que fazia uma analise do clássico grenal. Mas para meu desespero quando o nosso adversário entrou em campo, lá estava no gol Manga, na lateral direita, Claudio Duarte e a dupla de área, sabe quem? Figueroa e Indio.Na lateral esquerda Claudio Mineiro. Não pode ser. O sofrimento continuava, meio campo com Falcão, aquilo doeu o coração e lágrimas brotaram dos olhos deste morugavense adotado por Campo Bom aos 4 anos de idade. Além de Falcão aquele mercenário, Paulo César Carpegiani e ai foi demais, D`Alessandro com a 10. O Dale nos traiu. No ataque com a 7 Valdomiro e Fernandão, por favor o que está acontecendo? E na ponta esquerda Lula. Quando o auto-falante anunciou o banco fiquei mais apavorado – Goleiro reserva – Benitez e ainda tinha, Luis Carlos Winck, Gamarra, Rodrigues Neto, Iarlei, Batista, Jair, Rubem Paz, Marinho Perez, Fabiano Eller, Bolivar, Fabiano Cachaça, Nilmar e com a 14 sabe quem? Escurinho que ainda de forma provocativa saiu da casa mata e olhou para nós e sorriu, tipo: “Aos 30 minutos vou entrar e marcar um golzinho, pode ser aos 44 minutos, mas vou....” Minha angustia se acentuou ao ver que o técnico do nosso rival era Abel Braga e o preparador físico Gilberto Timm e o auxiliar do Abelão, sabe quem? Otácilio Gonçalves “Chapinha” Não pode ser... Não, não, não, não.... Acordei sobressaltado com a minha esposa Lídia apavorada perguntando o que estava acontecendo. Suando frio, olhos arregalados, olhei a minha eterna namorada e apenas balbuciei: “Foi um pesadelo. Um filme de terror que vivi, mas passou. Foi só um pesadelo” Desde este dia nunca mais toquei flauta nos gremistas, porque senti na pele o que eles de forma epidérmica e visceral vivenciaram e continuaram a vivenciar.

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