quinta-feira, 18 de setembro de 2014

64 GRAUS NO PLANETA CAMPO BOM

Este ai é um boizinho que tio Dino comprou na Expointer em 2013, o boi é o que esta atrás o da frente sou eu, deu para diferenciar?
O telefone toca e do outro lado linha o velho Arcedino, o nosso herói de guerra, o tio Dino do Morungava. Aflito, irritado e mais bravo que marimbondo cutucado por taquara com pano ensopado de querosene na ponta. Ele abriu cancha e já foi logo reclamando: “Hoje estou me sentindo  o sub-troço do vice-treco do côcô do cavalo do bandido. Não sei se você já notou mas tem algumas pessoas desnorteadas que até parecem  que comeram bolinha de sinamão (sinamomo). Sujeitos que não regulam bem. Gente que não toma o gardenal corretamente. Ai em Campo Bom que é cidade grande garanto que tem muito mais e quem sabe tem alguns que até  na política estão e dão receita, receita de como fazer isso, fazer aquilo e ainda  se dizem  coerentes. Aqui no Morungava velho, meu sobrinho tem cada um  que as vezes me dá uma raiva que tenho uma vontade de cagar estes loucos tudo a pau, mas agora tem este troço de direitos humanos. Tem um negócio de xenofobia, homofobia e até parece  que um negócio biologia e astrologia, isso tudo escutei outro dia no programa do Zambiasi. A Miúda detesta que eu ouça o Zambica.  Na TV a tardinha, a gente olhava o Antena, não é Datena, mas era tanto sangue , morte, acidente, incêndio, alagamento  e aquele clima todo, a barrosa até parou de dar leite, o Sarney ficou revoltado e me arranhou (Sarney é o gato ladrão do tio Dino que já foi alvo de uma crônica, assim como o Figueiredo o burro)). Parei de olhar o tal, mas tem outro, um que diz: “Corta pra mim” Este ai também não tem como assistir. Corta pra mim é só quando eu peço para a Miúda cortar a cuca de  requeijão feita na hora. E aí em Campo Bom, os marimbondos estão mais calmos? Logo tento falar: “Tio está tudo....” E ele nem ouve e sai logo dizendo: Olha meu sobrinho é só avisar que a gente se toca pra ai, não tendo lugar para  nossa turma dormir a gente fica uns três quatro dias acampado ai naquele lugar que vocês chamam de Parcão. Será que dá para tomar banho naquela sanga que passa no meio deste parque?” pergunta o velho Dino. Ao tentar dizer que o arroio Schmidt é extremamente poluído, ele corta o assunto e emenda. Se  começarem te purrinhar  avisa, a gente dá um bafão na nuca dos marimbondos que eles ficam calminhos, porque tu sabe né meu sobrinho que até touro se ajoelha cortado do beiço a orelha”, alerta esbravejando o tio Dino não sem antes alertar: Mas deixa o André, o Alexandre e o Vinicius aqueles doutores teus amigos lá de Novo Hamburgo de prontidão. Busco argumentar: Calma tio  violência não leva nada. Do outro do telefone novamente seu Arcedino, irmão da minha progenitora, com ar de quem não está ouvindo diz: “Olha  voltando ao assunto dos  teatinos que não tem desconfiometro , não tenho mais paciência com esta gente. Outro dia estou deitado com os olhos fechados e  a Miúda me pergunta: tu tá dormindo? Não estou treinando para morrer! A minha TV Telefunken 1974 comprada para assistir a Copa,  lá na Hermes Macedo em Porto Alegre,  escangalhou, levei até o centro de Morungava para consertar e o  gordo Antônio proprietário da oficina pergunta: “Estragou a TV seu Dino? Não,  ela estava meio entediada com principio de depressão e ai trouxe para  passear aqui no centro. Na saída da  oficina do gordo uma baita chuva, na calçada está o taxista Ademar que  pergunta: “Vai sair nesta chuva Dino velho?” Não, eu vou esperar a próxima. O que também me deixa  buzina é quando tu acorda na casa dos amigos na praia e te perguntam: “Acordou?” Não, sou sonâmbulo.  Ou então meu amigo de bocha o Anselmo liga para minha casa no convencional e pergunta: “Alô Dino onde tu estás?” No pólo norte um furacão levou minha casa para lá. Tu sai do banho e sempre alguém pergunta: “Você tomou banho?” Não mergulhei no vaso sanitário.  Recentemente estava pescando com o Artidor e o Eliziário no banhado do Chico Lumã e passou por nós num caico dois cola fina de Porto Alegre, que estavam também pescando e um deles pergunta: “Vocês pescaram  todos estes peixes?” Não ! Estes são  peixes suicidas que se atiraram dentro do caíco.  Num belo dia entrei na Pecuária Morungavense e perguntei para a guria: “Tem veneno de rato?” Ela me olhou e disse: “Tem sim seu Dino vai levar?” Não, vou trazer os ratos para comer aqui mesmo. Aniversário de  65 anos de casamento fui para  a serra gaúcha e num restaurante chique no ultimo, entramos eu a Miúda e o garçom pergunta: “Mesa para dois?” Não, mesa para quatro, duas são para colocar os pés. No ano passado fui a Porto Alegre fazer uns exames  e no sub-solo do Hospital, dentro do elevador a porta abre e o sujeito pergunta: “Sobe?”. Não, este elevador anda de lado. No banco de Morungava entrei para descontar um cheque e o cavanhaque do caixa pergunta: “O senhor vai levar em dinheiro? Não, pode ser em clipes e borrachinhas. Numa loja de equipamentos agrícola na Expointer no ano passado apanhei  o talão de cheque e a caneta e o engravatado pergunta: “Vai pagar com cheque?” Não vou fazer uma poesia para você nesta folhinha. Não tenho mais paciência com estas coisa meu sobrinho. Tentado acalmar o velho Dino tentei mudar de assunto, mas ele foi logo perguntando: “E Campo Bom muito quente sempre?” A resposta veio na hora. É tio Dino na semana passada chegou a dar 64 graus aqui na cidade. Uma pausa e a voz assustada questiona: “Mas 64 graus não é muito meu sobrinho?”. Não tio aqui a gente está acostumado, deu 32 de manhã e 32 a tarde.  Alô, alô, alô, tio, o senhor está ai? Ué desligou...??? Tem que ter concurso – 100% Morungava.
*Jair Wingert; jornalista  “louco pela vida”.

*Esta crônica é dedicada  aos meus amigos João e Iolanda Marques de Gravatai e ao meu amigo e irmão  socialista, José Luis Barbosa, de Cachoerinha, assíduos leitores deste espaço seleto apreciado por homens e mulheres inteligentes.

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