terça-feira, 7 de outubro de 2014

UM HINO AO VAZIO

Capa do livro Um hino ao vazio da editora portuguesa Chiado. A obra será lançada no Parlamento na próxima quinta-feira 09 de outubro.
Campo-bonense lançará livro na quinta-feira (09.10) na Câmara de Vereadores. A obra deverá fazer parte da Feira do Livro de Campo Bom no final do mês.

Um país é feito por homens e livros. A sentença é velha mas essencialmente válida nestes tempos dificeis que vivenciamos. Escrever é uma arte, uma maneira de se comunicar, de fazer análise e em alguns casos de escapar da loucura, mas sobretudo escrever é um exercício transcendental, por isso, muitas vezes escrever dói.
A elaboração dos textos por parte do autor se assemelha a uma gestação, sendo que nos momentos finais e lúdicos da vinda ao mundo do rebento, as contrações aumentam e as dores por momentos sublimam a liturgia da alma.
Surge em Campo Bom e na região um novo expoente da literatura, trata-se de Matheus Martini Spier (28 anos) jovem advogado recém formado e que integra uma família de conceituados profissionais do direito na região e no Estado. O sonho deste jovem e promissor escritor saiu do papel e se concretizou na obra de 761 páginas, editado em Lisboa (Portugal) pela seleta editora Chiado, o livro extremamente bem elaborado, com projeto gráfico ousado, correção fantástica, capa belissima chega ao mercado com algo novo, inédito. A obra traz por título – Um sonho ao vazio e será lançada na próxima quinta-feira (09.10), às 19 horas nas dependências da Câmara Municipal de Vereadores de Campo Bom. O jornal O Fato do Vale de maneira exclusiva fez uma entrevista com o advogado escritor, Matheus Martini Spier que abriu seu coração...

Como surgiu a ideia do livro?

Hoje estou com 27 anos de idade. Quando comecei a ler seriamente, com cerca de 15 anos, logo decidi que também queria escrever, e fiz minhas primeiras tentativas (todas horríveis, todas um fracasso) na área da literatura. O gênero que me atraiu mais de início foi a poesia. Porém, após algum tempo eu percebi que faltava algo: eu gostava de trabalhar a linguagem, de extrair o máximo dela (isso costuma ser o objetivo principal da poesia), mas queria também criar personagens e fazê-los atuar em histórias. Ainda não sabia, no entanto, como iria reunir a linguagem poética e o contar de histórias em uma só entidade”, observa Spier que se apaixonou pela obra de Shakespeare “Isso mudou quando descobri a obra de William Shakespeare. Shakespeare era, antes de qualquer coisa, um poeta: muito provavelmente o maior poeta de todos os tempos. Mas ele não escrevia apenas pequenos poemas soltos: ele utilizava seu talento verbal em peças de teatro, emprestando seu poder linguístico a diversos personagens. Quando descobri sua obra e pude ver a poesia sendo utilizada dessa forma: para corporificar personagens, decidi que isso era o que eu queria fazer. Resolvi começar escrevendo uma comédia. Não sabia ao certo qual seria o enredo, a trama (não sou muito habilidoso em imaginar histórias; meu talento verdadeiro é com a manipulação da língua, acho eu). Lembro que na época estava interessado nas histórias das Mil e Uma Noites, e resolvi criar uma pequena obra baseada naquele universo. A obra acabou ficando muito maior do que o originalmente planejado, mas esta foi sua gênese: eu queria fazer o mesmo que Shakespeare e, lendo As Mil e Uma Noites, decidi usar essa atmosfera fantástica, pois me possibilitava uma maior liberdade e variedade de personagens”, salienta, Matheus Spier.

Por que “Um hino ao vazio”?

“Quando a obra enfim foi terminada eu ainda não sabia qual título iria usar. Relendo o material eu descobri uma frase que ocorre cerca de três vezes na obra inteira: “um hino ao vazio”, ou “esse hino ao vazio”. Não sei explicar ao certo por que essas palavras soaram bem, por que aparentaram ser um bom título. Acho que isso se deve a ideia geral que temos de desertos arábicos: imensos oceanos de areia estéril, dilúvios de vazio. Como diz uma lenda árabe (que inclui na peça): Deus (ou Alá, para os muçulmanos) teria manipulado os desertos, despindo-os de toda a vegetação, de toda a vida, de quaisquer fontes de nutrição, para que ninguém pudesse viver lá, de forma que ele pudesse passear sozinho em meio aquela gigantesca desolação. Os desertos seriam os jardins de Alá. Imaginem só encontrar a divindade vagando, solitária, a assobiar, no meio do escaldante vácuo? Seria muito interessante.Também achei irônico o fato de uma obra tão gorda (mais de 700 páginas) ter a expressão “vazio” no título”, sentencia o escritor de Campo Bom.

Que tempo de “gestação” para escrevê-lo?


“Cerca de 5 anos. Mas isso não se deve tanto a eu ser um escritor lento (embora eu o seja). O meu grande problema era conciliar trabalho, faculdade e vida social com tempo para escrever. Eu trabalhava no escritório nas manhãs e tardes, e a noite ia para a faculdade. O que fazia era escrever no escritório quando havia menos serviço. Também era comum eu abandonar as aulas de Direito (muitas delas um tédio massacrante) e ir para a biblioteca da Unisinos para sentar frente a uma das mesas de estudo e escrever. Nas férias de final de ano eu ia para a praia e escrevia o máximo que podia. Em alguns finais de semana chuvosos, em que não tinha planos, também sentava e escrevia. Por essa razão a coisa toda levou tantos anos: eu não tinha tempo.”. Observa Spier

Em síntese do que trata sua obra e qual a mensagem que pretende passar?


“A obra é uma peça de teatro, escrita em grande parte em versos brancos (ou seja, versos que não rimam, mas tem a contagem de sílabas métricas), embora contenha também bastante prosa (prosa é a escrita normal, que não é em verso, como estas respostas que estou fazendo agora: é a forma rotineira de escrever), e alguns versos rimados e pequenas canções”, destaca o escritor que segue seu raciocínio pragmático e filosófico. “Trata-se de uma comédia. A comédia, no drama clássico, não significa algo que vai fazê-lo rir o tempo todo. A comédia era diferente da tragédia pelo fato de que seus personagens principais não morrem e o resultado final da obra é agradável e feliz, e não um desastre total. Mas isso não significa que não possam ocorrer momentos de tensão em uma comédia, ou que não existam falas e discursos sérios. Nesta peça eu tentei utilizar vários estilos diferentes, então existem passagens muito sérias e outras bastante cômicas (e mesmo certas brincadeiras de cunho sexual, certo humor terrestre e cru). Não existe qualquer mensagem que eu tenha interesse de comunicar. Não me acho sábio o suficiente ou maduro o suficiente para doutrinar as pessoas (talvez nunca o seja). Meu objetivo principal foi criar beleza, beleza verbal. Eu quis fazer as palavras dançarem e faiscarem de uma forma que não costumamos encontrar em nossas leituras rotineiras”

Quais as pessoas que tiveram papel importante para que este livro se tornasse realidade?

“Meus pais, sobretudo minha mãe. Sempre me incentivou a ler e eu sempre pude contar com sua ajuda para comprar livros que seriam de grande valia para minha formação como escritor. Também minha tia Margarete, que ajudou a me criar e sempre se preocupou com minha formação mental. Tanto minha tia quanto minha mãe sempre se preocuparam com a formação mental minha e de meu irmão, fazendo-nos aprender a ler e escrever já muito jovens e nos incentivando a adquirir curiosidade por questões artística e culturais. Meu irmão também sempre foi uma boa fonte de conversas e debates. Minha família em geral tem uma visão prática das coisas, uma visão bastante sensata e pragmática, e quando eu me iludia ou formava pensamentos ingênuos eles me puxavam de volta para o mundo real. Uma pessoa que teve papel fundamental durante a gênese dessa obra foi minha antiga namorada e companheira, a minha amiga Maira. Ela foi a primeira pessoa a ler trechos da peça e me dizer que eram bons, e que eu deveria continuar escrevendo. Não sei se ela percebeu o quanto isso foi significativo. Ela me apoiava e assegurava que eu deveria continuar indo em frente, e isso foi muito importante: não foram poucas às vezes em que eu sentia um enorme desespero e vontade de abandonar a obra pela metade. Mas eu tinha o apoio dela, e isso foi inestimável. Serei eternamente grato a ela por seu apoio.”, destaca Matheus Martini Spier.

Escrever para você é uma forma de terapia? O que é escrever para o Matheus?

“Para ser sincero, escrever para mim é quase uma tortura. É em geral bastante desagradável. Você chega em casa, após o trabalho, já bastante cansado, e tem então de sentar-se na escrivaninha e encarar as folhas brancas, que parecem olhá-lo com desdém, como se você não fosse capaz de preenche-las com material significativo. Então você prepara um café, liga o computador, pega suas canetas e cadernos, suspira e senta em frente à escrivaninha, e escreve (ou tenta escrever). Depois, ao ler o que escreveu, percebe que aquilo que conseguiu moldar é infinitamente inferior ao que desejava ter criado. Começa então o trabalho de revisão, os rabiscos e o feroz rascunhar, e a busca pela expressão correta, pela metáfora mais bela e perfeita para aquela situação em particular, pelo verso mais sonoro. É horrível: é um trabalho que destrói seus nervos. Todos os dias você senta na sua escrivaninha e contempla suas próprias limitações, sua própria mediocridade. Existe um escritor chamado Philiph Roth que disse algo com o qual eu concordo absolutamente: “Escrever não é trabalho duro, é um pesadelo. Minerar carvão é trabalho duro, isto é um pesadelo. Existe uma tremenda incerteza que é construída dentro da profissão, um contínuo nível de dúvida que o suporta de alguma forma. Um bom médico não está em batalha com sua profissão. Na maior parte das profissões existe um começo, um meio e um fim. Com a escrita é sempre começo uma vez mais.”. Outro autor, um famoso poeta irlandês, Yeats, disse “Qualquer coisa que eu faça, a poesia continuará sempre sendo uma tortura”. Filosofa Matheus Spier que segue avaliando “Não acho que devemos ser românticos e ver o escrever como algo diferente de qualquer profissão. É um trabalho, como qualquer outro: você aprende uma série de técnicas, aprende os segredos do ofício, e então os coloca em prática, e com o tempo vai ganhando habilidade. Mas me aprece que atividades artísticas e científicas, em razão de sua constante exigência por criatividade, nos fazem ter consciência de nossas limitações e nossos defeitos, e isso é bastante amargo. Mas escritores não são especiais: são trabalhadores como quaisquer outros trabalhadores. A atividade de escrita começa como brincadeira: você senta e vê o que pode extrair. Quando você começa é divertido, é agradável, é lúdico: você é como uma criança desenhando – o resultado não interessa tanto, mas sim a atividade em si. Mas à medida que suas ambições aumentam e você começa a encarar a literatura de forma séria o prazer desaparece. Não digo que desapareça para todo o sempre. Quando você tem uma noite de trabalho particularmente boa, quando senta e lê as linhas que acabou de produzir e pensa que elas estão realmente belas, que são realmente significativas, então a sensação de orgulho (o prazer derivado desse orgulho) que o invade é algo indescritível. Mas esses momentos são raros e logo se dissolvem, e no dia seguinte você terá de recomeçar tudo mais uma vez.”, finaliza o escritor Matheus Martini Spier.

Telefone do autor: Matheus Spier - 3598.1117 ou 9808.3949

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