sexta-feira, 3 de junho de 2011

O TEMPO E OS PORCOS

Seu eu contar ninguém acredita... Mas ali no Morungava este lugar belíssimo, cercado por uma natureza exuberante e de um povo hospitaleiro foi palco de inúmeras histórias, dentre as quais meu finado tio Dino protagonizou. Teve uma época que tio Dino para ampliar a renda  vendia porcos para um  comprador de Taquara. Como meu tio não tinha um documento da “Higiene” nem pagava impostos e na vida duas coisas são certas: a morte e os impostos e já dizia o Barão Otto Von Bismarck: “Ah! Se o povo soubesse como são feitas as leis e as salsichas”.  Tio Dino criava aqueles porcões brancos, mas só para venda, na verdade ele não consumia carne suína. Nós  adorávamos  subir  nas madeiras do chiqueiro e enquanto os porcos comiam, a gente dava um tapão na traseira de um dos  porcos e ele "embrabecia" e creio acreditava ter sido vítima de um ataque do outro porco que estava se alimentando ao seu lado... Virava uma guerra, eram mordidas e grunhidos para todos os lados... Literalmente fechava o tempo no chiqueirão!  O jeito para driblar a fiscalização era justamente transportar os porcos vivos até o Passo do Mundo Novo em Taquara.  Metódico como sempre, tio Dino muitas vezes chegava a transportar apenas um porco, mas nos últimos tempos a turma da fiscalização estava implacável. Toda semana tinha barreira na faixa. Uma bela manhã inverno, após um café regado a ovo frito ou estrelado como dizem os paulistas, acompanhado de broa, pão de milho com chimia e nata, além é obvio de ambrosia, tio Dino e seu ajudante o Dóca se preparam para levar uma dúzia de porcos a Taquara, porém tio Dino “encafifou” que era melhor levar apenas um porco, porque se tivesse barreira  teria como “trovar” os guardas e convencer que era apenas um simples colono que havia comprado um porco para  seu sítio.  Colocaram um “brancão” de quase 200 quilos dentro da Veraneio e vinham pela faixa a fora escutando o programa do Teixeirinha e da Mary Teresinha, patrocinado pela Infalivina e pelo vermífugo Totalex (remédio para bichas se dizia em Morungava). A dupla passou ainda pelo centro de Morungava onde no bolicho da dona Nóquinha, tio Dino comprou um pinico branco esmaltado, um dedal e dois pares de tamancos  de madeira, um 43 para ele e outro 36 para a tia Miúda. Novamente na estrada ao som do rei do disco “Agora o caneco é nosso campeão do mundo gritar eu posso”, canção de Teixeirinha em homenagem ao Tri Mundial conquistado pela seleção canarinho no México em 1970. Numa curva, tio Dino foi logo dizendo ao Dóca. “Lá está o pessoal da fiscalização e vamos ter problemas”.  Dois guardas estavam parando os veículos e um deles era o Fonsecão que tinha fama de durão, mas estava nos últimos anos sofrendo de um sério problema de miopia e astigmatismo, ou seja, Fonsecão enxergava menos que o Mister Magoo. Ele não aceitava usar óculos de jeito nenhum.  Foi aí que tio Dino teve a idéia e avisou ao Dóca: Vamos colocar o porco aqui na frente sentado junto com nós, bem no meio. Eu vou colocar um chapéu nele e um óculos escuro e a gente vai tentar passar numa boa”, afirmou tio Dino.  A veraneio parou, apetrecharam o brancão e colocaram o mesmo “entremeio” dos dois.  O carro andou uns duzentos metros e na curva, dito e feito, Fonsecão parou a veraneio. Tio Dino desceu e disse para o Dóca não descer. O guarda olhou os documentos e deu uma vasculhada na parte de traz da caminhonete. Constatou que não havia até o momento nada irregular. Mas quando passou pelo lado do caroneiro, o Fonsecão deu uma olhada daquelas que os míopes dão, assim apertando os olhos para melhor visualizar e aí tio Dino ficou preocupado, tudo porque Fonsecão desandou a rir de tal maneira que não tinha jeito de parar. Tio Dino já bravo como marimbondo, pensou, ele descobriu a fraude e foi logo avisando: “Olha seu Fonseca se o senhor quer multar a gente, pode tirar a multa, mas não precisa ficar rindo e caçoando de nós”. O Fonsecão ainda rindo disse: “Eu não vou multar vocês. Não tem porque multar, mas só uma coisinha, não me leve a mal pode ser que seja parente de vocês, eu já vi gente feia na vida, mas aquele cara de óculos escuros na carona ali dentro do carro é o homem mais feio que já vi. Nossa ele é tão feio que parece um porco”, afirmou Fonsecão que liberou tio Dino, Dóca e o brancão.
Certa feita cansado de tanto o pessoal da meteorologia errar as previsões, tio Dino desenvolveu um aparato que virou referência não só em Morungava, mas na região. Nunca errava e ainda alertava quando uma tormenta “braba” cruzava do Passo da Caveira em direção ao Fialho e Santa Cruz do Paredão. E mais uma vez me socorri das fotos da tia Miúda que comprovam como funcionava a Estação Climatológica do tio Dino. A invenção virou noticia até fora do país. Veja a foto, inclusive sugiro que você amplie a fotografia e leia as orientações.

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