Sabe aquele sentimento de
orfandade que toma conta do nosso ser? Aquele nó na garganta e aquela
lágrima teimosa que quer rolar pela face. Às vezes me pergunto por que
será que a vida tem que ser assim marcada de despedidas de pessoas
especiais? Na verdade quando sepultamos um amigo, acredito que morremos
um pouquinho. Na sexta-feira 1º de agosto Campo Bom amanheceu mais
triste, a cidade perdeu uma reserva ética e moral. Morreu Werno Olinto
Jaeger um homem na acepção máxima da palavra. Sério, trabalhador, franco
e direto. Seu Werno detestava a corrupção, bem como, não compactuava
com a maldade e as perseguições que impera hoje no meio político. Seu
Werno foi vereador pelo município de São Leopoldo quando Campo Bom ainda
pertencia ao município vizinho. Depois da emancipação foi vereador e
dos bons. Naquele tempo o parlamentar campo-bonense não recebia
salários, mas era movido pelo maior sentimento do mundo; o amor pela
nova cidade que começava a trilhar os caminhos até se tornar o Pequeno
Gigante do Vale. Naqueles tempos: “Bom era Campo Bom ou Campo Bom não
para!” Jaeger também foi secretário de Obras e daqueles que botava
literalmente a mão na massa, ajudando muitas vezes a sentar os canos de
esgoto nos bairros de nossa cidade. Partidário fiel e de convicções
definidas respeitava a todos. Tinha trânsito livre em todos os partidos
por sua postura conciliadora. Morador da Rua Tamoio nos brindava com seu
sorriso bonito e palavras de incentivo. Não raro caminhava até a Praça
João Blos onde dialogava com os jovens há mais tempo. Ali debatiam os
problemas do município, do 15, Oriente, do Colorado e do Grêmio e seguiam
para as incansáveis rusgas do dia a dia da política municipal, estadual e
do país. Por volta das 11 horas da manhã nos últimos tempos munidos de
sua elegante bengala e de seu charmoso chapéu retornava a passos lentos com destino a seu lar. Como jornalista tive a grata satisfação de
entrevistá-lo para um material produzido no mais antigo e conceituado
jornal da cidade – O Fato do Vale. Foram duas páginas de pura emoção e
resgate de história. Na semana seguinte, a matéria de duas páginas,
encontrei seu Werno ali na Praça João Blos onde as flores dos ipês
vermelhos contrastavam com a melodiosa sinfonia dos sabiás que lembravam os acordes wagnerianos ou até mesmos os versos de Neruda.
Neste cenário bucólico do que ainda restou da Praça João Blos vítima do
“progresso” a qualquer preço em detrimento da especulação imobiliária é
que encontrei seu Werno. Chapéu estilo panamá, o apaixonado por Tiro ao
Rei competição centenária praticada no Clube 15 de Novembro abriu o
sorriso do tamanho do mundo e sentenciou: “Seu Wingert foste muito
bondoso para comigo” E depois concluiu: “Esta reportagem vai fazer este
velho viver um pouco mais” Se tem algo que este domador de letras ou
escriba dos tempos modernos não perdeu foi à capacidade de emocionar-se,
afinal o que é a vida senão a pura emoção de um amor. A doce emoção do
beijo da mulher amada, do vislumbrar do nascimento de uma filha, seu
crescimento e o desabrochar para a vida?. O que a vida senão as derrotas
e as vitórias e o constante aprendizado?. Naquele instante parei e fiz
o que em muitas vezes não fizera. Não desperdicei a oportunidade e
olhei bem nos olhos daquele grande homem: “Seu Werno se tem alguém que
merece esta matéria, este alguém é o senhor. Eu gosto muito do senhor e
agradeço a Deus ter tido a dádiva de conhecê-lo e mais ainda de
entrevistá-lo” Ele apertou a minha mão e com os olhos cheios de lágrimas
e a voz embargada disse: “Seu Wingert o coração deste velho já não é
mais o mesmo” E seguiu pela Adriano Dias e ao atravessar a avenida em
direção ao Largo Irmãos Vetter para se encaminhar a Rua Tamoio, pensei
comigo mesmo: ali vai a história viva da minha cidade! Partidário,
trabalhador, apaixonado pelo tiro e pelo 15, outra paixão era a
família, a qual sempre defendeu como porto seguro e bússola fiel de uma
sociedade saudável e equilibrada. Hoje ao caminhar pela Praça João Blos
ou pelos arredores da antiga Biblioteca Pública, observo o banco onde
muitas vezes ao lado de seus amigos seu Werno contava histórias. Naquele
banco está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim.Werno
Jaeger deixa uma lacuna sem precedentes, mas cumpriu sua missão, assim é
o ciclo da vida. Da morte e dos impostos nós não escapamos já afirmou o
pensador, mas não estamos preparados para este adeus, até porque nunca
foi propósito de Deus que homem viesse a morrer. Aos 94 anos seu Werno
nos deixou, porém ficou seu legado. Quando ele nasceu todos a sua volta
sorriram, só ele chorou.... Viveu de tal maneira que no dia de sua morte
todos a sua volta choraram, só ele sorriu. O corpo de Werno Jaeger foi
velado na sala de sessão Getúlio Vargas da Câmara Municipal de
Vereadores de Campo Bom.
Texto: Jair Wingert; jornalista – Campo Bom. RS
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