A
vida muitas vezes não é aquilo que escolhemos e em muitas oportunidades
nos sentimos como se nos oportunizasse um papel no teatro da
existência, mas antes de adentrar no palco te concedem um papel que tu
não quer interpretar, porém és empurrado para dentro do palco da vida e
uma voz então grita: abram as cortinas. E mesmo não querendo
interpretar você é obrigado porque o show não pode parar. Nesta cidade
fria e injusta eu já perdi as contas das vezes que morri. Eu ando meio
com medo que um dia ainda ache a tristeza normal. Mas por outro lado sei
que as angústias, os conflitos e até mesmo as dores vão passar. A pior
das dores não é a física que com medicamentos são suprimidas, mas a dor
da alma, esta dilacera e rouba aos poucos a seiva da vida que teima em
manter o ator da existência com mínimo de fôlego para interpretar seu
papel. O fatídico e depressivo mês de agosto está chegando ao seu final e
com ele as tardes cinzentas onde nem mesmo o morro de Dois Irmãos
aparece em função da neblina. No somatório de perdas e derrotas, restaram
apenas cicatrizes de batalha. A primavera começa a dar seus ares, já
podemos vislumbrar pela Andradas, Independência e Parcão Arno Kunz a
presença mágica dos ipês roxos, mas o teatro prossegue e vem ai mais
uma peça e mais uma para interpretar. Os refletores se acendem, a
cortina sobe e a voz grita: interpreta porque o show não pode para!
Neste teatro a plateia dificilmente aplaude e não obstante vaia e te
cobra precisão e esforço. O mais difícil neste teatro da vida é não ter e
ter que ter para dar. O mais difícil é ser você mesmo. As luzes da
ribalta, mas quando vão se apagar? Tudo o que muitas vezes o ator anela
é ver a cortina fechada e no camarim da mediocridade se esconder,
tirar a máscara e chorar. Neste teatro árido da nebulosa existência o
mais real e verdadeiro são as lágrimas.
*Jair Wingert; jornalista e blogueiro.
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