Este
ai é um boizinho que tio Dino comprou na Expointer em 2013, o boi é o
que esta atrás o da frente sou eu, deu para diferenciar?
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O
telefone toca e do outro lado linha o velho Arcedino, o nosso herói de
guerra, o tio Dino do Morungava. Aflito, irritado e mais bravo que
marimbondo cutucado por taquara com pano ensopado de querosene na ponta.
Ele abriu cancha e já foi logo reclamando: “Hoje estou me sentindo o
sub-troço do vice-treco do côcô do cavalo do bandido. Não sei se você já
notou mas tem algumas pessoas desnorteadas que até parecem que comeram
bolinha de sinamão (sinamomo). Sujeitos que não regulam bem. Gente que
não toma o gardenal corretamente. Ai em Campo Bom que é cidade grande
garanto que tem muito mais e quem sabe tem alguns que até na política
estão e dão receita, receita de como fazer isso, fazer aquilo e ainda
se dizem coerentes. Aqui no Morungava velho, meu sobrinho tem cada um
que as vezes me dá uma raiva que tenho uma vontade de cagar estes
loucos tudo a pau, mas agora tem este troço de direitos humanos. Tem um
negócio de xenofobia, homofobia e até parece que um negócio biologia e
astrologia, isso tudo escutei outro dia no programa do Zambiasi. A Miúda
detesta que eu ouça o Zambica. Na TV a tardinha, a gente olhava o
Antena, não é Datena, mas era tanto sangue , morte, acidente, incêndio,
alagamento e aquele clima todo, a barrosa até parou de dar leite, o
Sarney ficou revoltado e me arranhou (Sarney é o gato ladrão do tio Dino
que já foi alvo de uma crônica, assim como o Figueiredo o burro)).
Parei de olhar o tal, mas tem outro, um que diz: “Corta pra mim” Este ai
também não tem como assistir. Corta pra mim é só quando eu peço para a
Miúda cortar a cuca de requeijão feita na hora. E aí em Campo Bom, os
marimbondos estão mais calmos? Logo tento falar: “Tio está tudo....” E
ele nem ouve e sai logo dizendo: Olha meu sobrinho é só avisar que a
gente se toca pra ai, não tendo lugar para nossa turma dormir a gente
fica uns três quatro dias acampado ai naquele lugar que vocês chamam de
Parcão. Será que dá para tomar banho naquela sanga que passa no meio
deste parque?” pergunta o velho Dino. Ao tentar dizer que o arroio
Schmidt é extremamente poluído, ele corta o assunto e emenda. Se
começarem te purrinhar avisa, a gente dá um bafão na nuca dos
marimbondos que eles ficam calminhos, porque tu sabe né meu sobrinho que
até touro se ajoelha cortado do beiço a orelha”, alerta esbravejando o
tio Dino não sem antes alertar: Mas deixa o André, o Alexandre e o
Vinicius aqueles doutores teus amigos lá de Novo Hamburgo de prontidão.
Busco argumentar: Calma tio violência não leva nada. Do outro do
telefone novamente seu Arcedino, irmão da minha progenitora, com ar de
quem não está ouvindo diz: “Olha voltando ao assunto dos teatinos que
não tem desconfiometro , não tenho mais paciência com esta gente. Outro
dia estou deitado com os olhos fechados e a Miúda me pergunta: tu tá
dormindo? Não estou treinando para morrer! A minha TV Telefunken 1974
comprada para assistir a Copa, lá na Hermes Macedo em Porto Alegre,
escangalhou, levei até o centro de Morungava para consertar e o gordo
Antônio proprietário da oficina pergunta: “Estragou a TV seu Dino? Não,
ela estava meio entediada com principio de depressão e ai trouxe para
passear aqui no centro. Na saída da oficina do gordo uma baita chuva,
na calçada está o taxista Ademar que pergunta: “Vai sair nesta chuva
Dino velho?” Não, eu vou esperar a próxima. O que também me deixa
buzina é quando tu acorda na casa dos amigos na praia e te perguntam:
“Acordou?” Não, sou sonâmbulo. Ou então meu amigo de bocha o Anselmo
liga para minha casa no convencional e pergunta: “Alô Dino onde tu
estás?” No pólo norte um furacão levou minha casa para lá. Tu sai do
banho e sempre alguém pergunta: “Você tomou banho?” Não mergulhei no
vaso sanitário. Recentemente estava pescando com o Artidor e o
Eliziário no banhado do Chico Lumã e passou por nós num caico dois cola
fina de Porto Alegre, que estavam também pescando e um deles pergunta: “Vocês pescaram todos estes peixes?” Não ! Estes são peixes suicidas
que se atiraram dentro do caíco. Num belo dia entrei na Pecuária
Morungavense e perguntei para a guria: “Tem veneno de rato?” Ela me
olhou e disse: “Tem sim seu Dino vai levar?” Não, vou trazer os ratos
para comer aqui mesmo. Aniversário de 65 anos de casamento fui para a
serra gaúcha e num restaurante chique no ultimo, entramos eu a Miúda e o
garçom pergunta: “Mesa para dois?” Não, mesa para quatro, duas são para
colocar os pés. No ano passado fui a Porto Alegre fazer uns exames e
no sub-solo do Hospital, dentro do elevador a porta abre e o sujeito
pergunta: “Sobe?”. Não, este elevador anda de lado. No banco de
Morungava entrei para descontar um cheque e o cavanhaque do caixa
pergunta: “O senhor vai levar em dinheiro? Não, pode ser em clipes e
borrachinhas. Numa loja de equipamentos agrícola na Expointer no ano
passado apanhei o talão de cheque e a caneta e o engravatado pergunta:
“Vai pagar com cheque?” Não vou fazer uma poesia para você nesta
folhinha. Não tenho mais paciência com estas coisa meu sobrinho. Tentado
acalmar o velho Dino tentei mudar de assunto, mas ele foi logo
perguntando: “E Campo Bom muito quente sempre?” A resposta veio na hora.
É tio Dino na semana passada chegou a dar 64 graus aqui na cidade. Uma
pausa e a voz assustada questiona: “Mas 64 graus não é muito meu
sobrinho?”. Não tio aqui a gente está acostumado, deu 32 de manhã e 32 a
tarde. Alô, alô, alô, tio, o senhor está ai? Ué desligou...??? Tem que ter concurso – 100% Morungava.
*Jair Wingert; jornalista “louco pela vida”.
*Esta
crônica é dedicada aos meus amigos João e Iolanda Marques de Gravatai e
ao meu amigo e irmão socialista, José Luis Barbosa, de Cachoerinha,
assíduos leitores deste espaço seleto apreciado por homens e mulheres
inteligentes.
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