Uma das profissões mais
antigas do mundo é sem dúvida a de barbeiro. Quem não lembra de um profissional
deste oficio? Nós no Rio Branco tínhamos como referência seu José Ruivo na
subida da Andradas. Seu Zé Ruivo foi o progenitor do Domivio Libério da Silva;
grande vereador do PDT e brizolista da gema. Aos sábados pela manhã meu pai levava-me ao
barbeiro e alí com o salão repleto de clientes, ficava atento ouvindo as
discussões que não raro giravam em torno de futebol e política. Recordo-me que
quando se falava em Brizola e Jango, todos baixavam o tom de voz e se
entreolhavam. Eram tempos bicudos, tempos do golpe militar que muitos lacaios e
ordinários teimam em classificar de revolução. Revolução é o carpano! Golpe sim
senhor, pois rasgaram a constituição, depuseram um presidente eleito pelo voto
e ainda por cima a suspeita é que 99% tenham assassinado o mesmo no exílio, bem
como, assassinaram JK e o Lacerda (o corvo traidor). Ao sentar na cadeira do Zé
Ruivo vinha a pergunta: “Que tipo de corte vamos fazer neste guri?” A resposta
do velho Alfredo era sempre a mesma: “Faz
um cadete”. O tal corte feito com uma
máquina manual que muitas vezes se as lâminas não estivessem bem afiadas virava
uma tortura. Esteticamente o corte se assemelhava muito ao do Ronaldo Nazário
na Copa de 2002, lembra? Raspava em cima do coco, dos lados e na frente ficava
uma franja horrível. Mas lá na capital
do mundo, nossa inequívoca e gloriosa Morungava, tio Dino também atacou de
barbeiro que fique claro, pois até hoje nem de brincadeira se pode chamá-lo de
cabeleireiro. Uma
história que se notabilizou foi a do velho Lazario Telles que era
anti-getulista, odiava o Brizola e o Jango, ou seja, sempre foi mesmo pobre um
eleitor da UDN, seguidor de Lacerda, abro aqui um parêntese, pois o poeta Tim
Maia certa feita disse que o Brasil é o único país do mundo onde traficante se
vicia e pobre vota na direita. O velho Telles continuou até idoso, votando
depois na Arena, PDS, PSDB, pois ser assim estava em seu DNA. Arrogante, peito estufado o velho Lazario não
gostava das predileções políticas de tio Dino que sempre foi petebista e por último se orgulhava de dizer: “Ajudei a eleger o Lula e a Dilma, porque sempre
acreditei que a esperança venceria o medo” Corria o ano de 1954 e Getúlio
pressionado pelo imperialismo ianque, pela reação da direita reacionária, dá um
tiro no peito e sai da vida para entrar para a história. Na verdade, Vargas, o
pai dos pobres, impediu o golpe dos militares por dez anos. Os abutres já
queriam tomar conta em 54, mas o tiro saiu pela culatra, assim como em 61 com a
Legalidade; maior movimento popular do Brasil que teve como comandante e chefe
nosso Leonel de Moura Brizola. O boca de
fronha do Lazário havia dito em toda Morungava de que Getúlio Vargas não iria
para o céu porque todo suicida vai para o inferno. Sábado pela manhã, barbearia
lotada, aparece o velho Lazário todo arrogante, lenço branco de chimango,
camisa preta e bombacha branca. Adentrou com ar de deboche pela morte do
Presidente Getúlio Dorneles Vargas. Tio
Dino mais matreiro que cambista em dia de grenal aguardou o momento fatídico de
atender o “velho reaça”. Quando chegou a vez do Lazário, o velho Dino colocou o
avental por cima do udenista e Lacerdista. Navalha afiada, o velho Dino começou seu trabalho e ao chegar próximo a
jugular (a veia morredeira) do Lazário, encostou a navalha em cima da veia e
disse para toda a barbearia: “Soube que tem aqui pelo Morungava um FDP que anda
dizendo por aí que o Getúlio porque se matou não vai para o céu. Se souber quem
é juro que o dia em que este infeliz sentar aqui nesta cadeira, corto a veia
aorta deste cretino”, afirmou isso dando uma leve apertadinha na veia do
Lazário Lacerdista. Segundo o pajador
dos pampas Jayme Caetano Braum “até touro se ajoelha, cortado do beiço a orelha”.
O velho Lazário ficou branco até parece que tinha perdido o sangue e da cadeira
onde ele estava sentado escorreu um líquido branco e quente que lá em Morungava
a gente chama de “Mijo”. O velho taura aguentou no osso, pagou a conta,
levantou da cadeira do tio Dino todo mijado e ao sair o salão inteiro percebeu
pelo cheiro e pelo visual traseiro da bombacha branca que o lacerdista valente
também tinha se cagado todo. Ao montar no cavalo a barbearia em peso caiu numa
grande gargalhada e aplausos. Tio Dino perdeu o cliente que passou a usar os
serviços de um barbeiro lá em Santa Cruz do Paredão.
A bolinha de madeira
Tio Dino desenvolveu um
método de fazer a barba da gauderiada, ele colocava na boca dos clientes uma
bolinha de madeira um pouco maior que uma bola de gude que ficava dentro de uma
caneca de alumínio embebida em álcool para matar os “micróbios”. Vírus naquela
época, o mais perigoso que se conhecia era o “Vírus de Bruçus”. O cliente
colocava a bolinha no canto da boca e
tio Dino passava a navalha. O método agilizava o serviço e dava um barbear leve
e suave, no final o velho Dino perguntava: “Aqua ou verva?” Um dia um cola fina
lá das bandas de Porto Alegre, parece que era um vendedor de um atacado, chegou
na barbearia e ao tio Dino convidá-lo para colocar a bolinha de madeira, ele
ficou intrigado, mas acatou o pedido do barbeiro. Após terminar o serviço o cola fina da capital pagou a conta e
questionou: “Vem cá nunca aconteceu de alguém engolir esta bolinha?”. Tio Dino
com olhar de gato para o peixe aproveitou a olada e alfinetou: “Sim, isso é bem
comum moço, mas no outro dia os clientes devolvem a bolinha, aqui todo se
conhece”.
Tem que ter concurso –
100% Morungava!
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