No
Morungava a vida segue sem pressa, se trabalha, mas sem o estresse maluco implantado pelo sistema capitalista que vem
gerando uma fábrica de loucos em série. O mundo atual está adoecendo as
pessoas, fruto do consumismo nefasto em que estamos inseridos. Se você vai
visitar Morungava não tenha pressa. Ao meio dia almoço e até às 15 horas é o
momento da ciesta da tarde, ah e ninguém vai para roça sem antes tomar café da
tarde com broa, pão com chimia e nata, salame, iogurte natural, banana, ou
seja, trabalho pesado somente ali pelas 16 horas. Dados científicos segundo,
Arcedino codinome do velho tio Dino, no Morungava dificilmente alguém morre de
problemas cardíacos ou derrame (AVC) e suicídio, o último ocorreu em 1972.
Alguns até acreditam que Morungava deveria estar em Minas Gerais, tamanha calma
e paciência do morungavense. Talvez Morungava estivesse localizado em Minas
mesmo, mas com a “Pangeia”, esta área de terras ficou aqui no Rio Grande do
Sul. Lá pras bandas de 1967 quando a
coisa tava osca aqui no Brasil e muita gente era presa, sumia num rabo de
foguete, no Morungava velho tio Dino era uma espécie de conselheiro; um Pagé pois conhecia as ervas do campo, a
medicina campeira era dominada pelo meu tio e não é só hoje que quem detém
conhecimento, detém o poder. Antes de chegar o inverno, quando as nuvens negras
e o vento forte advindo da praia ou do banhando do Chico Lumã, os colonos
morungavenses foram ter com o velho Dino que mateava solito no galpão, com os
olhos fitos no impávido colosso, o Morro do Itacolomi. O grupo de colonos foi
recebido pelo Peri, um guaipeca amarelado, mas de uma serventia a toda prova.
Alguns latidos, mas logo Peri reconheceu a colonada que também não veio só,
além dos cavalos seguia juntos alguns cuscos. Passaram pelo pátio deram um
Buenos dia a tia Miúda que se esmerava no preparo de uma ambrosia daquelas de
dar água na boca. Na entrada do galpão, o Sarney (o gato ladrão) dormia em cima
do saco (de batatas) e lá no fundo o Figueiredo; o burro estava descansando em
uma das baias. A colonada sentou ao redor do velho Dino como os índios sentam
ao redor do Conselho dos Sábios. Após matearem, questionam tio Dino sobre como
seria o inverno. O velho Dino mesmo não conhecendo muito bem este negócio de
meteorologia, mas sem mostrar insegurança, olhou para o céu, estendeu as mãos
para sentir os ventos, pigarreou e
disse: “Olha Che vai ser um inverno muito rigoroso. È bom juntar muita lenha”. Os amigos foram embora contentes com a
sabedoria do homem sábio. No outro dia tio Dino foi até Gravataí dialogar com
seu amigo Anselmo que trabalhava para o Instituto de Meteorologia e
semanalmente subia no Morro do Itacolomi para coletar dados. Tio Dino perguntou
ao amigo como seria o inverno e a resposta foi de que seria muito frio
mesmo. Meu velho tio voltou a Morungava
e cheio de razão chamou novamente os colonos e disse: “È melhor recolhermos
mais linha ainda e gravetos, porque este inverno será de renguear cusco e
quero-quero vai andar de pantufa. Duas semanas depois tio Dino vai até o pé do
Itacolomi dialogar com o Anselmo da Meteorologia e questiona: “Tu tens certeza
que este inverno vai ser rigoroso mesmo?”“ Sim tenho”, responde o amigo e o
questionamento segue “Mas como tu tens tanta certeza disso?”, pergunta o velho
Dino. E a resposta foi aterradora: “ É
que este ano os colonos ali do Morungava estão recolhendo lenha pra caramba”.
Depois desta bola nas costas tio Dino decidiu implantar o primeiro Centro
Municipal de Meteorologia de Morungava, coisa com tecnologia de ponta.
Espertise made in Morungava. A foto comprova.
Tem
que ter concurso – 100% Morungava.
*Esta crônica é
dedicada ao amigo Jorge Flores, pessoa carismática, inteligente e um homem do
bem e de bem. Estamos contigo Jorge nesta caminhada. Não esqueça que os amigos
da terra e do céu estão sempre por perto. Grande beijo no teu coração irmão.
Jair
Wingert; jornalista e sobrinho do tio Dino.
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