A amizade é uma das
coisas mais importantes na vida, o ex-vice-prefeito e ex-vereador Delmar
Teixeira de Moraes “Casquinha”, até para morrer é preciso dos amigos,
pois do contrário quem carregará o caixão? Os amigos, aqueles que te são
leais estes são anjos disfarçados que o criador enviou para iluminar
nossos dias com suas presenças. Não são muitos, quem sabe não encham uma
mão, mas são amigos. E amizade independe da distância. Nas
minhas muitas lembranças das férias que passava no sitio do tio Dino lá
em Morungava, onde tomava banho na lagoa dos Schreiber, assistia as
partidas do Morungava encostado do para-peito e quando terminava o
primeiro tempo, tio Dino trazia uma sódinha
cassel ou uma água da pedra; refrigerante de laranja produzido no
Riozinho, acompanhando o refri sempre vinha um pastel ou o cachorro
quente. Aos domingos era certo ou estávamos no campo do Morungava ou na
cancha de carreira. A noitinha seguíamos para casa e a tia Miúda já
esperava com o chimarrão pronto, depois um café daqueles, repleto de
iguarias – pão, nata, ambrosia, salame, pedaços de carne assadas no
forno, merengue, café, leite, queijo. Durante o dia corríamos pelo campo
eu e meus primos, pagávamos carona na carroça carregada de pasto
conduzida pelo tio Gomerço; negro velho, lenço vermelho maragato que
morava lá por aquelas paragens. Andávamos a
cavalo no lombo do bainho, cavalo mansinho e trote tranqüilo. À noite os
empregados do tio Dino ficavam no galpão, mateando, contando causos de
assombração, falando de política e da volta do Brizola. Numa destas
noites o céu avermelhado e os prenúncios da chegada do inverno, com um
ventito vindo da praia, me encostei próximo ao meu tio e ouvi dele uma
história interessante que mostra o quanto a fidelidade entre os amigos é
algo elogiável. Tio Dino após fazer a cuia roncar, encheu o mate e
passou a cuia para o negro Osório um dos melhores esquiladores da
região. Tio Dino contou que lá pelos anos 50 trabalhou numa Churrascaria
em São Paulo onde durante meio ano, descobriu que não podia viver longe
de Morungava e sobretudo do Rio Grande. Nesta
Churrascaria “Recanto Gaúcho”, Arcedino se tornou amigo de um mineiro
chamado Laerte. Ambos ajudavam como garçom e também como assador. Numa
sexta-feira tio Dino estava de folga, porém Laerte pediu um favor para o
amigo, ou seja, em função de um encontro que teria com uma garota que
trabalhava numa casa de família na tal de Avenida Angélica, o mineiro
queria que o tio Dino tirasse a folga dele. Tio Dino que é não é
enjeitar parada e sabe que rapadura é doce, mas é dura, ficou cismado
uma vez que na sexta-feira era o dia de dois irmãos mudos
jantar na churrascaria. Os dois eram riquíssimos e toda sexta-feira
jantavam na Recanto Gaúcho, mas o garçom preferido deles era o mineiro
Laerte que conhecia suas manias. O mineiro disse para o tio Dino: “Não
tem mistério com os dois mudos, eles chegam e com
a mão eles fazem um gesto de faixa e aí é só trazer uma cerveja
Antarctica, isso eles fazem umas cinco vezes, depois eles com as mãos
fazem o gesto de um espeto sendo virado é só começar o rodízio. Após o
jantar eles fazem o gesto da faixa umas três vezes, e é só trazer as
Antárticas. Ali pelas 23 horas eles tomam um cafezinho, fazem o sinal de
rachar e é só trazer a conta dividida. Não tem mistério”, disse o
mineiro que ainda trouxe um alivio ao tio ao dizer: “Vou deixar o
telefone da casa da garota que é minha namorada. Se precisar é só ligar”
Amigo que é amigo não deixa o outro empenhado. Chega
sexta-feira, 19 horas adentram na churrascaria os dois mudos, sentam no
lugar de sempre. Tio Dino os cumprimenta e eles já foram pedindo “a
faixa”. Cerveja servida e o ritual se repete em seis oportunidades. Por
volta das 20 horas, eles pedem o espeto corrido. Tudo estava
transcorrendo como o mineiro havia dito. Depois do jantar os dois irmãos
fizeram o gesto da faixa atravessada no peito e tio Dino serviu a
Antarctica, uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove e
depois da décima segunda cerveja, os dois olhavam um para outro, erguiam
a cabeça para o alto e levantavam as mãos. A cena mais parecia duas
galinhas bebendo água, erguendo a cabeça e olhando para o céu, já viu isso? E
aquilo prosseguia deixando tio Dino desesperado. “O que será que eles
querem agora? Por que não pedem a conta e vão embora?”. Como eles não
paravam e já era quase duas horas da manhã, tio Dino não conseguindo
decifrar o que os dois queriam resolve ligar para Laerte e perguntar. O
telefone toca e na casa da namorada, Laerte ouve tudo e não contém o
riso, porém tio Dino já bravo resmunga. “O mineiro duma figa, o que
estes loucos querem? Eles já estão quase duas horas, olhando para o céu
igual duas galinhas. O que eles estão fazendo? ”, pergunta. Laerte ainda
rindo, diz: “Ah eu esqueci de te dizer, as vezes eles estão muito
românticos e começam a cantar, ai tem que ter paciência porque isso vai
até o dia amanhecer”, avisa o mineiro que vai logo desligando o telefone
para não ouvir os impropérios do tio Dino. Tem que ter concurso – 100% Morungava.
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