A bucólica
paisagem de Morungava é um linimento para a alma. Um por do sol dos mais
bonitos do mundo. Os finais de tarde quando o sol como uma abóboda ainda arde
dando a nítida impressão de estar pendurado no Itacolomi (*) se faz uma pintura
daquelas semelhantes aos grandes gênios. O sol vermelho nas tardes de outono e
o vento gelado vindo da praia já dão prenúncios de que as noites invernais
estão chegando. E a primavera, as flores da principal estrada, caminho que no
passado era utilizado pelos veranistas que rumavam ao litoral, pois na
primavera as margens desta estrada ficam cheias de flores do campo como
um tapete natural a saudar os caminhantes. A beleza de Morungava é uma terapia,
tanto que os carreteiros advindos de Santo Antonio (Monjoleiros ou
Dateiros **), descansavam nos sítios do Morungava. Os índices de
depressão, doenças cardíacas são baixíssimos uma vez que o Morungavense
não tem a pressa e a competição predatória. Morungava é um lugar para ser
feliz, mas falar em Morungava e não falar no seu mais famoso filho, Arcedino
Vieira Nunes, codinome Tio Dino é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa, e por
falar em Papa a vingança demorou mais veio: a pomposa e arrogante
Inglaterra ficou com as ilhas Malvinas (ganhou na mão grande) e los hermanos
ficaram com o Vaticano. Tudo resolvido! Num dos causos de galpão na beira
do fogo de chão, tio Dino contou que certa feita juntamente com seu Análio
Costa amigo daqueles de unha e carne resolveram seguir para Porto Alegre com o
caminhão carregado de verduras para vender na CEASA, bem como, no banco
da frente uma caixa com 20 quilos de queijo de cabra, produção “by Dino”
com o selo de qualidade Made in Morungava. O queijo era comprado por um
hotel famoso localizado alí na Alberto Bins na capital. Ao meio dia tio
Dino e seu amigo resolveram fazer uma extravagância e foram almoçar num
restaurante chique, daqueles que eles cobram até para dar bom dia. Os dois
sentaram e como bons morungavense que se adaptam ao local, seguiram a risca a
cartilha de primeiro ver e ouvir, falar só o necessário e como dizia a tia
Miúda, esposa do velho Dino: “Um burro quieto passa por ladino”. O garçom
trouxe o menu e eles não conheciam nada dos nomes das “bóias”.
Neste momento sentou-se à mesa ao lado um engravatado da capital com jeitão de
doutor ou deputado. Tio Dino que conhece o cego dormindo, o rengo sentado
e a cabeça que tem piolho, olhou para Análio e disse: “Vamos ver o que o doutor
ai pede e a gente vai na carona”. Dito e feito o engomado chamou o garçom
e pediu pato ao molho pardo. Tio Dino estufou o peito e chamou o garçom e pediu
pato ao molho pardo. A dupla almoçou e o granfino da capital pediu a
sobremesa. Novamente na carona, tio Dino pediu a tal sobremesa. Passado uns dez
minutos, o sujeito da capital chamou o garçom e solicitou: “Por favor me tragam
um Office boy”. Tio Dino vestido uma calça de brim coringa, camisa
volta ao mundo, estufou o peito e disse: “Mas Che traz para nós um
Office boy”. Neste momento o fino e educado sujeito, ouvindo o pedido da dupla,
perguntou: “Quem sabe a gente pede um Office boy para nós três?”. Tio Dino
cheio de empáfia afirmou: “Nada disso seu intrometido, tu come o teu
Office boy que nós comemos o nosso”.
O tamanho do bicho e o carro velho
Outra feita o velho Dino foi
entregar uns móveis dos Schreiber lá na zona sul de Porto Alegre, região lindíssima
que fica alí depois do Estádio Beira Rio, local onde serão realizados os
jogos da Copa 2014, no outro estádio que é de propriedade da construtora
OAS serão realizados apenas os treinos. Entregaram os móveis numa mansão com
fundos ao rio Guaíba que não é rio e sim um lago. Após o almoço tio Dino e seu
ajudante, um jovem de nome Alcides, filho do seu Otacílio e da dona Preta
saíram a caminhar pela beira da paria de Ipanema. Na caminhada a beira do
sol de junho e o frio batendo no peito, a dupla visualizou um pé de bergamota,
só que o problema é que havia um muro. Tio Dino mais ladino que
mascate de campanha e vendedor de cavalo, teve a brilhante idéia de
pular o muro. Como Alcides era mais novo, o velho Dino para não colocar o piá
em perigo não se fez de rogado e deu um salto e caiu no pátio. Apavorado,
pois caíra dentro de um negócio enorme de alumínio. Do outro lado Alcides
pergunta: “Como é que está aí dentro seu Dino?”. E dentro do tal dispositivo
que na verdade era uma antena parabólica e que meu velho tio não conhecia, veio
a resposta. “Fica bem quietinho Alcides, vou tentar sair, mas to meio
desnorteado, porque se o cachorro desta gente regular com o tamanho do prato
estou morto ala pucha!” sentenciou tio Dino. Um belo dia tio Dino
que é mais vivo que cruzeira esquentando sol em taipa de açude foi visitar seu
amigo Pedro “leiteiro” em Glorinha. Os dois nutriam uma relação permeada pelos
altos e baixos, uma vez que leiteiro era do tipo gavola e só o que lhe
pertencia era bom. Se encontram depois de muito tempo e, a
certa altura da conversa, o Pedro leiteiro, olha bem dentro dos grãos dos olhos
do tio Dino e lasca:
- E aí, Arcedino, com quantos alqueires está
a sua fazenda?
- Já tá com quase cem alqueires e a sua?
Retruca tio Dino.
- Só pra você ter uma idéia, pela manhã eu
saio de casa, ligo meu Jeep e ao meio-dia ainda não percorri nem a metade da
minha propriedade.”, cutuca Pedro Leiteiro.
- Entendo... eu também já tive um carro
desses! É uma merda vive sempre andando devagar e estragando...”, detonou tio
Dino. 100% Morungava – Tem que ter concurso!
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