Zequinha taxista, torcedor do
Internacional, o campeão de tudo, o clube do povo, o rolo compressor, a
academia do povo, dos tempos de Falcão, Figueroa, Fernandão, Iarlei,
Dario, Flávio, Carpegiani e outros craques. O apelido que veio desde
tenra idade em função de ser o menor em tamanho e idade no clã dos
Morais, seguiu a profissão de seu pai. Quanto ao mundial Zequinha apenas
acompanhava pelo rádio, pela televisão e pelas notícias dos jornais. Na
direção do carro novo financiado graças aos programas do governo
Federal, o diálogo principalmente com os homens girava em torno do
rendimento pífio da seleção canarinho que não encantou e com um
agravante da “Neymardependência”. Uma "fiasqueira" do Felipão que na
ótica de Zequinha estava enxovalhando o nome do nosso país, ou melhor,
do Rio Grande do Sul. Naquela tarde na Nilo Peçanha em Porto Alegre,
Zequinha apanhou um passageiro do tipo no mínimo estranho, não só pelas
roupas, mas pelo silêncio quase sepulcral e com comportamento suspeito.
Na verdade Zequinha não estava com muita vontade de conversar,
contrariando sua característica principal que é justamente dialogar.
Seus amigos do ponto de táxi brincavam que Zequinha falava tanto que
chegava a bronzear a língua, mas o motivo da quietude eram os seis gols
sofridos contra a Alemanha. Foi o “mineiraço” reedição do maracanaço
de 1950 quando ao menos chegamos a final, pensava Zequinha que ainda no
sinal pode ver em uma lancheria repleta de bandeirinhas do Brasil e com a
presença já diminuta de torcedores pode vislumbrar, o Galvão perguntar
“Pode isso Arnaldo?” ao se referir ao sétimo gol dos alemães. Goleada
com gosto de chocolate “amargo”. Ele pensava em voz alta “Não podia dar
certo, pois no meu tempo – Oscar jogava basquete, Jô era comediante e
Fred era dos Flintstones”. Na rodoviária o estranho pagou a corrida e
desceu seguindo seu rumo sem ao menos balbuciar uma palavra. Ainda
atônito com a goleada, Zequinha percebeu que o passageiro esquecera uma
sacola no banco traseiro, parecia que propositalmente. Em vão procurou o
estranho por toda rodoviária. Após quase uma hora de procura inútil,
inclusive nos banheiros, resolveu chamar a policia e ao retirar a
sacola do carro já conseguiam sentir um insuportável mau cheiro exalando
do interior da mesma, sem contar que um liquido viscoso e roxo escorria
pelo fundo do invólucro. O policial abriu a sacola em meios aos olhares
curiosos que se aglomeravam ao redor do táxi, enquanto isso no sistema
de comunicação uma voz pastosa dizia: “Onibus com destino a Sarandi com
saída às 18 horas na plataforma 44”. Para surpresa no seu interior havia
uma cabeça... Uma enorme cabeça, sim uma cabeça, de homem? Mulher?
Criança? Não, uma brassica oleracea variedade capitata, nada mais que
uma cabeça de repolho roxo.
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