Quem conhece Morungava sabe de sua exuberante natureza, estradas de chão batidas repletas de flores do campo junto ao barranco. Não raro você poderá vislumbrar um casal de João-de-barro construindo sua casa num moirão da porteira ou quem sabe poderá ouvir o canto dos sabiás e o gado a pastar no campo. Nas tardes de primavera com paciência e silêncio a gente pode ver sobre as taipas as temíveis cobras cruzeira se aquecendo. Morungava é um local lindíssimo tendo como pano de fundo o Morro do Itacolomi. Quem conhece Morungava retorna, pois a hospitalidade é o ponto alto deste povo de sorriso fácil e de aperto de mão forte e firme. Se tem algo que Morungava não tem, este algo é a pressa da cidade grande. Após o almoço, a ciesta é certa e pode ter certeza que faz bem, pois dificilmente sabe-se de um morungavense que morreu de ataque cardíaco, portanto dormir após o almoço faz bem! Se você chegar numa residência em Morungava por volta das 11 horas, rejeitar o convite para o almoço soará como desfeita, aceite. O almoço é simples, mas tem sabor de amizade – carne de panela, feijão, arroz soltinho, salada de tomate, alface, ovo estrelado e em alguns casos até feijão mexido com laranja, sem contar no feijão com couve, ou pirão com costelinha... Uma delicia. A sobremesa quase sempre é doce de abóbora ou de melancia. Não obstante em algumas casas você será contemplado a famosa ambrosia e se elogiar tem chances de ganhar um vidrão deste manjar de presente. Após o almoço café passado na hora e broa de milho. Assim é Morungava. Lá neste torrão é que viveu Tio Dino personagem que o Dr. Chicão e o Marcos Riegel teimam em afirmar que é fictício. Tio Dino sempre muito esperto, um dia decidiu apoiar um candidato a prefeito, porém o mesmo perdeu a eleição. O novo prefeito sabedor que Tio Dino havia apoiado o adversário enviou um fiscal da saúde (lá em Morungava a gente chama de o homem da higiene) O fiscal perguntou a meu tio o que ele dava para os porcos comerem. E prontamente ele disse: “Dou milho e lavagem”. O fiscal retirou um bloco e multou o mesmo em 125,00 reais dizendo que pela lei municipal 2.876 ele deveria dar ração também. Duas semanas depois o fusquinha do “homem da higiene”, chegou ao sítio novamente e o fiscal foi logo perguntando: “O que o senhor vem dando para os porcos seu Dino?”. Tirando o chapéu o velho Dino de guerra disse: “Olha, dou lavagem, milho e ração”. O fiscal sorrindo questionou: “O senhor não dá complemento energético para os suínos?” Tio Dino que não mentia, afirmou: “Não”. O fiscal aplicou uma nova multa segundo o mesmo baseada no Código de Postura Animal. O velho Dino estava mais bravo que marimbondo estucado com taquara e estopa com querosene na ponta, mas pagou a multa. Um mês depois o fusquinha azul do “homem da higiene” chegou ao sítio. E o fiscal perguntou novamente: “E ai seu Dino e o que o senhor tem dado de alimento para seus porcos?”. Enquanto Tio Dino coçava a cabeça e preparava a resposta, o fiscal já tirou o bloco de multa da pasta, mas foi aí que Tio Dino respondeu: “Olha depois desta modernidade toda e de tantas leis, decidi evoluir e agora dou dez reais para cada um dos porcos e eles comem o que desejar e alguns inclusive vão até o centro nas lancherias”. O fusquinha azul nunca mais apareceu no sitio do Tio Dino.
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