Em
2004 perdemos um dos maiores estadistas, um das melhores cabeças da America
Latina. Faz dez anos que o mundo ficou mais pobre com a morte do nosso gaúcho;
ex-governador Leonel de Moura Brizola. Num momento conturbado que estamos
vivendo como faz falta aquele senhor de cabelos ralos e grisalhos, com um
sorriso carismático, vestindo a camisa azul piscina que o vereador Victor de
Souza define como “azul Brizola”, por volta das 20 horas e 30 minutos após o
tele jornal surgir na tela da nossa TV e dizer. “Meus conterrâneos e conterrâneas...” Um dos grandes feitos de Brizola foi a
Legalidade na qual impediu o golpe militar e se tornou uma referência mundial, aliás,
a Legalidade foi o maior e mais autêntico movimento popular da história do
Brasil... “Avante brasileiros de pé, unidos pela liberdade...” Brizola faz
muita falta e no discurso do senador Cristóvão Buarque pode sintetizar esta
ausência deste grande líder trabalhista...
Leonel
Brizola: escola em tempo integral= cidadãos de bem!
“Medimos
os grandes políticos pela presença deles no cenário nacional quando estão
vivos, mas medimos a importância dos maiores de todos pela ausência deles”. E
Brizola foi um político de presença firme ao longo de todas as décadas de sua
atividade política. Ele nunca esteve discreto na vida pública brasileira.
Sempre teve um lado claro, firme, em defesa da Nação brasileira, em defesa dos
trabalhadores brasileiros. Brizola faz falta nesse mundo em que, aparentemente,
não há bandeiras claras, nítidas. Ele carregava em si uma bandeira. Ele falava
com uma posição, com um lado, com uma nitidez de princípios e de propostas, sem
esse furta-cor que hoje caracteriza as bandeiras dos partidos no Brasil.
Brizola faz falta na soberania nacional, na nitidez de posições que digam:
existe um lado, e existe outro lado, não esse meio-de-campo em que todo mundo
hoje está se misturando. Brizola faz muita falta, sim, porque era a voz,
respeitada nacionalmente, capaz de colocar no cenário nacional a prioridade
radical pela educação. É diferente o discurso que põe essa bandeira na boca de
outros ou na boca do grande Leonel Brizola, até porque ele fez esse discurso há
mais de cinquenta anos.Hoje, no momento em que o grande capital é o
conhecimento, no momento em que a base do progresso é a educação, a fala de
Brizola estaria incendiando este País por uma revolução. Brizola está fazendo
falta, porque ele criou, há muito tempo, a verdadeira escola, que era o Centro
Integrado de Educação Pública (CIEP): a escola de horário integral. Mas ele
falou tão na frente, tão adiantado, que não conseguiu levar isso para o Brasil
inteiro. Brizola faz falta por que seria capaz de conduzir o Brasil nessa
revolução educacional que defendia em um tempo, antes de ser essa a verdadeira
razão da revolução. O grande Brizola faz falta no momento em que as leis
trabalhistas exigem alguns ajustes, mas não podem ser ajustes contra os
interesses dos trabalhadores. Ele faz falta por que a voz dele seria a melhor
para dizer que aqui estão as mudanças que podemos fazer, aqui está o limite
além do qual a gente não vai, aqui está a maneira de mudar as leis,
melhorando-as, não prejudicando os trabalhadores. Ele está fazendo falta, nesse
momento, porque a voz dele daria uma força, uma credibilidade que nenhum de
nós, políticos ainda vivos, temos. Brizola tinha os princípios, a história dos
princípios, a palavra dos princípios. Por isso, faz falta. Brizola faz uma
profunda falta também neste momento do vazio ideológico que vive a política no
Brasil, porque ele nunca foi contaminado por uma ou outra ideologia. Ele
construiu sua ideologia. Ele foi capaz de não cair nos “ismos” e criar o
Trabalhismo junto com Getúlio, com Jango, com Pasqualini e com outros, mas a
linha dele não seria afetada pelo debacle que a gente viu da maneira como o
socialismo era feito. Hoje, lembramos a todos que houve um político que foi
grande quando vivo e que ficou ainda maior quando a gente sente sua ausência.
Viva Brizola, pelo seu tamanho em vida e pelo sentimento de ausência que ele
nos passa!” O jornalista Petronio Souza, tão logo soube da morte de Brizola,
assim definiu o grande líder: “Foi gênio e genial, homem raro, daqueles que
nasceu lá para as bandas dos pampas do olhar reto, direto; engenheiro por
formação, queria reconstruir o país, e estruturado em valores solidificados na
pedra preciosa do nacionalismo autêntico. Não enxergava limites nem divisas,
para ele a Nação era o todo, sem barreiras no amor incorporado. Agora, ficamos
nós com o coração vazio. Muitos não concordavam, mas ouviam. Por autoridade
nacional, ele repetia, repercutia. Agora, fica faltando um bravo no céu anil do
Brasil. Fica faltando as sábias palavras do grande pai nacional que, sempre,
para o bem geral da Nação, ponderava. Fica faltando Leonel Brizola, o homem que
fez desabrochar uma Rosa Vermelha brasileira, dentro do peito dos verdadeiros
filhos da Pátria”.Registramos a nossa profunda saudade, principalmente, neste
momento, em que a corrupção, o nepotismo e a falta de ética corroem os poderes
republicanos, sem que uma voz que tenha a sua credibilidade e a sua autoridade,
levante-se na defesa do povo humilhado. Para nós seus amigos e seus
companheiros e para mim em particular que em 1957, aos 19 anos passei a
integrar a sua equipe na Prefeitura de Porto Alegre, Brizola vive, através do
legado das suas idéias, da sua coerência e da sua coragem e determinação na
luta da defesa dos interesses e dos anseios do povo brasileiro e, cabe a nós,
os seus seguidores trabalhistas autênticos, dar continuidade aos seus projetos
e as suas propostas consubstanciadas na Missão que ele legou ao PDT: “Nós temos
a nossa responsabilidade com a história. Nosso partido é o único com
determinação de assumir as grandes causas nacionais. Nenhum partido é tão
nacionalista quanto o nosso. Queremos um país desenvolvido, autônomo,
independente. Nós somos a emanação das lutas sociais. O Trabalhismo nasceu da
Revolução de 30, de uma inspiração do Presidente Getúlio Vargas, que foi
evoluindo de acordo com o processo social, empenhado em garantir direitos à
massa dos deserdados. Nós somos as
verdadeiras reformas, a mudança, o voto rebelde. Somos a expressão brasileira
do socialismo democrático e tomamos a feição social democrata, pois é preciso
chegar a um certo nível de igualitarismo para termos desenvolvimento. Nós temos
genética, somos uma grande sementeira de idéias em beneficio do povo
brasileiro. Temos que estar sempre onde está o povo. Existimos para dar voz aos
que não tem voz. Nossa ancoragem é a área deserdada da população. Nosso guia é
o interesse público e o bem comum”.