Costumo
afirmar aos
questionamentos corriqueiros do tipo: ah você é vereador? Respondo
sempre desta
forma: estou vereador, mas na verdade sou
jornalista, a bem da verdade sou mesmo é repórter e me sinto muitas
vezes como
um Dino, não o tio aquele lá de Morungava, mas como um dinossauro no
sentido
literal da palavra. Confesso que ao longo destas cinco décadas de
vivência tive
a oportunidade de ter convivido com profissionais fantásticos e amigos
extraordinários dentro das redações de jornais e estúdios de rádio.
Comecei
minha caminhada pelas mãos de Milton Vergara,
diretor da então Rádio Cinderela (1470AM – a Princesinha do Vale), fui
redator, apresentador, produtor e repórter esportivo. No convívio fraterno
nos estúdios
da Rua São Paulo aprendi muito com o Elio Silva, Luis Carlos Nunes,
Mário José,
Lucindo Amaral, Darci Schmidt, Flávio Lima, Celso Morbach, Glênio e
Aurélio. A
Rádio Cinderela foi uma grande escola . Também tive oportunidade de
trabalhar
na Gazeta trazido pelas mãos do mago Fernando Santos; profissional
altamente
competente e um homem de uma postura ética invejável. Nesta redação a
gente vivia como uma grande família com
pessoas magníficas como: o falecido
Careca; João Claudio Gaspar, Helena Cabral, Cândido Nascimento, Dr.
Francisco “Chicão”,
Marcelo Ermel; hoje na Zero Hora e cheio do dinheiro (Este é o Celeiro),
Duarte,
Marquinhos Dutra, Marcos Riegel, Rosa Godoy, Marilene, Cladi, Raquel,
Rejane,
Elisandra, Nézia e tantos outros que faziam parte deste time vencedor.
Nos dias
de fechamento da edição, lá pela 11h e 30min aparecia o Chicão, o nosso
Dr.
Francisco que usava um computador, daqueles antigões com tela meio
alaranjada e
um disquete DOS para ter acesso. Quando falo na questão Dinossauro é com
propriedade, porque peguei tempos no qual redigíamos o texto nas
poderosas
Remington Olivetti (será que algum jovem sabe o que é um Remington
Olivetti
portátil?). Pois é digitávamos o texto, o Fernando corrigia, diagramava e
o
mesmo era levado até a Digitipo em Novo Hamburgo, onde o alemão Ludwig digitava num computador, voltava para Campo Bom
onde era colado, colado mesmo, nas páginas, retornava a Novo Hamburgo
para
confeccionar os fotolitos e depois o
carro do Mauri que era diretor de vendas, ou seja, cuidava da parte
comercial subia
a serra até o Pioneiro onde se deixava o jornal para ser rodado, muitas
vezes
na madrugada. Na longa espera pela rodagem o lanche era feito no Xis da
Gringa
ali pertinho do Centenário. Alguém concebe hoje fazer jornal assim?
Cobri campeonatos varzeanos, aberto de vôlei, 15 de Novembro no
amador, depois profissional,
cadernos de bairro, criamos a Corrente de Fé e Solidariedade, onde
ajudávamos pessoas,
carentes, doentes e levávamos esperança aos desesperançados, tudo com o
apoio e
crivo do Mago Fernando Santos. Também assinei a Coluna Bola na Rede, onde
o
primeiro patrocinador foi a recém inaugurada Piccolo Tintas, depois foi a
vez
da Casa Rubens de Novo Hamburgo bancar o patrocíonio. Bons tempos, mas
cada um seguiu
seu caminho e nunca mais nos reencontramos. A vida é assim... Na verdade
mais
parece uma vendedora de doces, que passa e dentro de instantes o
tabuleiro
está vazio. Como jornalista ainda tive a
honra de trabalhar no Grupo Sinos, na emissora (Rádio Cinderela, depois
ABC 900),
que havia sido adquirida pelo NH e agora com os estúdios em Novo
Hamburgo. Lá
fui gerenciado pelo Serginho Vidal, um amor de pessoa, uma figura
boníssima, um
líder servidor que sempre nos motivava e fechava sempre com o grupo. No
Grupo
Sinos convivi com o Jaques Santos, sobrinho do Mário Lima, segundo
informações
o Jaques é narrador na Itatiaia em BH
(Minas Gerais), bem como, com o Polaco; Edson Knewitz, baita comunicador e
um ser
humano extraordinário, além do Vanius Paveglio Porto; o nosso eclético e
dinâmico
Vanius um dos melhores narradores do Rio Grande do Sul. Foram bons
momentos de
aprendizado. Também já entrei em umas frias tanto em rádios como jornais
no
interior, nas quais estou até hoje esperando o pagamento, mas faz parte
como
diz o filosofo. Tem que contar as boas e também as ruins. Outra passagem
fenomenal em jornais foi junto a família Melo, detentores dos veículos –
O Fato
do Vale e JS. Que escola de aprendizado neste grupo, onde pude aprender
muito
com o Joelci Melo, sua esposa Evanir Martini;uma verdadeira guerreira
que faz e
acontece. Ali tínhamos um time de primeira com: Germano Lauck, Walmir
Martini “Mi”,
Daniela Klein, Elaine, dona Beloni, o Sergio Rodrigues, que time formado
por
seres humanos na essência da palavra. O
Sergio, filho do seu Rodrigues (sub-prefeito do 25 de Julho) é
empresário em Santa Catarina era uma espécie
de Hans Donner dos jornais. O tio Sé como chamávamos era ninja e um
sujeito
bondoso capaz de emocionar-se com as vicissitude humanas. Também tive a
satisfação de conhecer e me
tornar amigo do Walmir Martini que nós apelidamos na redação de
“Miojo”. O Mi estava sempre disposto a ajudar e
incentivar a equipe, não era furador de balão. Tinha sempre palavras de
ânimo e
bondade. A vida na redação era uma
festa, lembra Sérgio? “Quer falar com pai Renato vem agora...” E o louco
que
entrava dentro do lixo, subia em cima do armário? E os lanches fiados no
Paulinho, no trailer do outro lado da rua? E o leiloeiro procurando a
Elba
Ramalho? E os almoços de sextas-feiras? Bons tempos. No JS e O Fato do
Vale
aprendi ser jornalista, não que antes não fosse, mas o pós graduação
redacional
aconteceu mesmo no Fato e JS, ali aprendi a ter fome, sede e ânsia pela
noticia.
Já levei muita bola nas costas, até que aprendi a checar as fontes e criar um rede confiável de informantes em
todos os setores da sociedade onde estava inserido. Aprendi que ficar
numa
redação, recebendo noticias pela internet ou pelo telefone não me faz um
repórter de verdade. O repórter tem que se esfregar nas pessoas, tem que
buscar
a notícia como o garimpeiro busca a pedra preciosa. A notícia deve ser a
pedra
filosofal. O Fato do Vale é uma grande escola de jornalismo.
Mas e
hoje? Bueno, muita coisa mudou, mas
ditames jornalísticos na minha modesta opinião não mudaram. Penso que a
internet vem criando uma geração de pessoas que estão acostumados com
síntese da
noticia, com a desculpa de que as pessoas não tem tempo, as noticias se
resumem
a dez linhas e nada mais. Onde estão as grandes reportagens? Profissionais como José Hamilton Ribeiro “Zé
Hamilton”, do Globo Rural e um dos maiores jornalistas do Brasil estão
em fase
de extinção? Reportagens clássicas como as do Carlos Wagner (O Brasil de
Bombacha) que virou livro ainda tem lugar?
Neste bombardeio de informações a que somos submetidos hoje,o que resta
de novidade aos nossos velhos jornalões para nos contar no café da
manhã? A sensação que nós temos enquanto leitores de jornais é de já
termos
lido ou ouvido aquela noticia em algum lugar. É gosto de pão amanhecido.
Modestamente
fico a pensar, para onde caminha a mídia impressa? A mídia eletrônica
avança de
forma arrebatadora e para tanto as grande empresas de comunicação
investem em
novas plataformas de comunicação e o jornal do interior, na maioria das
vezes
empresas essencialmente familiar, continuará sendo uma grande
ferramenta, se
conseguir se manter isento, com imparcialidade. O jornal do interior
escreve o
que acontece na nossa cidade, no nosso bairro, na rua onde moramos e dá
voz
aqueles que muitas vezes não tem acesso ao trombone. Não é uma mídia
alternativa
como muitos preconizam, mas sim a mídia vital; preponderante, pois com a
globalização sabemos tudo o que acontece na grande aldeia global (1984 -
Orweel), porém a falta de médicos nos postos, a falta de ônibus no nosso
bairro,
a vitória do nosso time no Varzeano, as noticias da Associação de
Bairro, a
falta de policiamento na cidade, a foto de formatura do nossos filhos, a
festa
de 15 anos, onde vamos encontrar? No jornal comunitário, ou seja, no
veículo de
comunicação local. Decididamente sou um cinquentão que integra o
Jurassic Park,
mas sou um apaixonado pela comunicação escrita e ninguém tira os
momentos que
vivenciei como repórter. Meu nome? Jair Jornalista e parafraseando Pablo
Neruda maior poeta da America Latina concluo: confesso que vivi.