segunda-feira, 29 de abril de 2013

ORIENTE E 15, EM BRUXAS NÃO ACREDITO, MAS...


O futebol é o esporte mais democrático do planeta, pois tendo uma bola está feito o jogo! Deixando de lado as cartolagens, a corrupção que impera no meio profissional, o futebol moleque dos campinhos da vida, transcendem as esferas do cotidiano e transformam-se em inusitado e quando isso acontece vira poesia. Aliás, a bola e sua magia é capaz de igualar diferenças, interromper guerras e unir povos. O que seria dos domingos a tarde sem futebol. Campo Bom por sinal está caindo de maduro termos um clube amador, disputando o gauchão da categoria. Existe um hiato a ser preenchido; um vazio que dói com a arquibancada vazia, a goleira sem as redes. Não existe nada mais anti-romântico, como dizia a filosofa Laurinha do Carrossel, que domingo sem futebol. Me criei do outro lado do arroio Schmidt e portanto me tornei torcedor do Oriente. A equipe do Morro das Pulgas agregava torcedores do bairro e de outros pontos da cidade. Naquele período para infelicidade dos orientistas, o nosso adversário o 15 de Novembro tinha uma das melhores equipes do Brasil. Se aquela equipe do 15 “Os professores de futebol”com Bilú, Raul, Elucio, Celso Bock, Ismar (o maestro), Naldo, Pulica, Renatinho, Kiko, Ivan, Pombinha, Elton, Dé, Helinho, Popa, Polenta, Claunir, Trott e outros (isso nos anos 60, 70 e parte dos anos 80) se estes senhores que hoje passam dos 50 anos atuassem como profissionais com certeza o 15 ganhava muitos gauchões. Outros tempos... Quando garoto tive o privilégio de vestir a camisa do Oriente e do 15 e muitas histórias a gente vivenciou dos clássicos envolvendo as duas agremiações. Em 1991 já havíamos pendurado a chuteira e passamos junto com o Gilberto Wingert, Zenio Oliveira (já falecido), Remi Cemin “Fritz” (já falecido), Jair Lauser “Jairzinho”, Luis Paulo “Cholim” a comandar os juniores do Oriente. Fazíamos das tripas coração para arcar com as despesas da disputa estadual. Foram bingos, meio-frangos, rifas, "paitrocinio" e outras mágicas. Ali aprendi que sem verba não há verbo. É preciso dinheiro para sonhar com títulos. No mês de junho havíamos empatados com o 15 de Novembro lá no então Estádio dos Eucaliptos, hoje Sady Arnildo Schmidt, numa justa homenagem a este empresário sério, ético e apaixonado por futebol a exemplo de seu filho, Tovar Eliezer Schmidt. Nós estávamos vencendo o clássico por 1 a 0 gol de cabeça do Osmar (da Luz) na goleira da Lebes. Na segunda etapa já finalzinho, o árbitro arrumou uma penalidade máxima contra a gente. Empatamos, mas aquele empate não desceu. Nos preparamos para no final do segundo turno, isso em setembro para dar o troco neles. O técnico do 15 era o falecido João Claudio Gaspar “Careca”, uma figura impar. O Careca era um lapidador de talentos; um baita treinador que revelou muitos jogadores, porém nós que conhecíamos o técnico do 15 que também trabalhara no Oriente (inclusive foi meu técnico em 81 a 84), tinha muitas superstições e uma delas era referente a macumba. Tinha um medo que se pelava. Na terça-feira que antecedia o clássico arquitetamos um plano. Criar um clima de tensão e espalhar no bairro que o Gilberto tinha estado no determinado local e feito um trabalho para amarrar a equipe do 15, principalmente o Banzé o craque dos tricolores. Contamos a um dono de armazém e pedimos segredo, mas ja sabendo que ele trataria de fazer a noticia chegar até ao Careca. Domingo pela manhã eu e o Fritz nos encarregamos de fazer o restante do plano. Dentro do vestiário do 15 espalhamos uma lata de pó pelotense, uma vela acesa daquelas de 30 dias, milho e um boneco com as cores do 15 crivado de alfinetes. Quando nosso co-irmão chegou no Gigante de Campo Bom e se dirigiu ao vestiário, nós de longe só assistíamos o furdunço. O Careca espraguejava, gaguejava, brigava e ameaçava levar a equipe embora. Uma grupo liderado pelo Fritz tratou de tirar o “despacho” e os guris do 15 foram fardar-se. Criamos na semana um clima na imprensa, afirmando que todos os torcedores do 15 eram bem vindos, mas que não nos responsabilizavamos pela segurança dos mesmos. O Gilberto que costumava seguir um conselho que aprendeu com o saudoso Erni Konrtah quando seu diretor no 15, sim porque o Gilberto sagrou-se campão gaúcho tanto no 15 como no Oriente, aliás, não existe nenhum técnico com mais títulos que o velho Gilberto. O conselho era o seguinte: clássico a gente ganha 50% fora do campo durante a semana, trabalhando o psicológico do grupo e outras cositas más. Uma medida tomada pelo Gilberto foi solicitar que dois seguranças impedissem que um diretor conhecido do 15 se deslocasse até o vestiário para cumprimentar o árbitro. (Aqui não) O cartola ficou bravo, resmungou, mas saiu de fininho. A torcida desceu o Morro e empurrou o time. Onde quero chegar? O psicológico é determinante em muitas situações, tanto que o 15 parecia amarrado e seu principal jogador, o Banzé estava apático. Vencemos o clássico com um gol do Serginho, pegou um chute de voleio na goleira do barranco e correu para o abraço. Aquela noite o Rio Branco não dormiu, afinal vencemos o clássico. Quando do gol do Serginho este escriba invadiu o campo e para desespero dos tricolores, fiquei 10 minutos dentro do gramado enlouquecido até que a Brigada Militar gentilmente me convidou a sair. Esfriei o clássico. Naquele domingo frio de setembro de 1991 aprendi uma grande lição com meu irmão Gilberto: futebol tem que estar nas mãos de quem ama o esporte e que não se utiliza dele para ganhar dinheiro. O futebol deve estar nas mãos de quem vibra e conhece os meandros da bola, afinal como dizia Nelson Rodrigues, até para chupar picolé tem que ter paixão.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

AS AVENTURAS EM PORTO ALEGRE



A bucólica paisagem de Morungava é um linimento para a alma. Um por do sol dos mais bonitos do mundo. Os finais de tarde quando o sol como uma abóboda ainda arde dando a nítida impressão de estar pendurado no Itacolomi (*) se faz uma pintura daquelas semelhantes aos grandes gênios. O sol vermelho nas tardes de outono e o vento gelado vindo da praia já dão prenúncios de que as noites invernais estão chegando. E a primavera, as flores da principal estrada, caminho que no passado era utilizado pelos veranistas que rumavam  ao litoral, pois na primavera  as margens desta estrada ficam cheias de flores do campo como um tapete natural a saudar os caminhantes. A beleza de Morungava  é uma terapia, tanto que os carreteiros advindos de Santo Antonio (Monjoleiros ou Dateiros **), descansavam  nos sítios do Morungava. Os índices de depressão, doenças cardíacas são baixíssimos uma vez que o Morungavense não tem a pressa e a competição predatória. Morungava é um lugar para ser feliz, mas falar em Morungava e não falar no seu mais famoso filho, Arcedino Vieira Nunes, codinome Tio Dino é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa, e por falar em Papa a vingança demorou mais veio: a pomposa e arrogante Inglaterra ficou com as ilhas Malvinas (ganhou na mão grande) e los hermanos ficaram com o Vaticano. Tudo resolvido!  Num dos causos de galpão na beira do fogo de chão, tio Dino contou que certa feita juntamente com seu Análio Costa amigo daqueles de unha e carne resolveram seguir para Porto Alegre com o caminhão carregado de verduras  para vender na CEASA, bem como, no banco da frente  uma caixa com 20 quilos de queijo de cabra, produção “by Dino” com o selo de qualidade Made in Morungava. O queijo era comprado por um hotel famoso localizado alí na Alberto Bins na capital. Ao meio dia tio Dino e seu amigo resolveram fazer uma extravagância e foram almoçar num restaurante chique, daqueles que eles cobram até para dar bom dia. Os dois sentaram e como bons morungavense que se adaptam ao local, seguiram a risca a cartilha de primeiro ver e ouvir, falar só o necessário e como dizia a tia Miúda, esposa do velho Dino: “Um burro quieto passa por ladino”. O garçom trouxe o menu e eles não  conheciam  nada dos nomes  das “bóias”. Neste momento sentou-se à mesa ao lado um engravatado da capital com jeitão de doutor ou deputado. Tio Dino que conhece o cego dormindo, o rengo sentado e a cabeça que tem piolho, olhou para Análio e disse: “Vamos ver o que o doutor ai pede e a gente vai na carona”. Dito e feito o engomado chamou o garçom e pediu pato ao molho pardo. Tio Dino estufou o peito e chamou o garçom e pediu pato ao molho pardo. A dupla almoçou e o granfino da capital pediu a sobremesa. Novamente na carona, tio Dino pediu a tal sobremesa. Passado uns dez minutos, o sujeito da capital chamou o garçom e solicitou: “Por favor me tragam um Office boy”.  Tio Dino vestido uma calça de brim coringa, camisa volta ao mundo, estufou o peito  e disse: “Mas Che traz para nós um Office boy”. Neste momento o fino e educado sujeito, ouvindo o pedido da dupla, perguntou: “Quem sabe a gente pede um Office boy para nós três?”. Tio Dino cheio de empáfia afirmou: “Nada disso seu intrometido, tu come o teu Office boy que nós comemos o nosso”.
O tamanho do bicho e o carro velho
Outra feita o velho Dino foi entregar uns móveis dos Schreiber lá na zona sul de Porto Alegre, região lindíssima que fica alí depois do Estádio Beira Rio, local onde serão realizados os jogos da Copa 2014, no outro estádio que é de propriedade da construtora OAS serão realizados apenas os treinos. Entregaram os móveis numa mansão com fundos ao rio Guaíba que não é rio e sim um lago. Após o almoço tio Dino e seu ajudante, um jovem de nome Alcides, filho do seu Otacílio e da dona Preta saíram a caminhar pela beira da paria de Ipanema.  Na caminhada a beira do sol de junho e o frio batendo no peito, a dupla visualizou um pé de bergamota, só que o problema é que havia um muro. Tio Dino  mais ladino que mascate  de campanha e vendedor de cavalo, teve a brilhante  idéia de pular o muro. Como Alcides era mais novo, o velho Dino para não colocar o piá em perigo não se fez de rogado e deu um salto e caiu no pátio. Apavorado, pois caíra dentro de um negócio enorme de alumínio. Do outro lado Alcides pergunta: “Como é que está aí dentro seu Dino?”. E dentro do tal dispositivo que na verdade era uma antena parabólica e que meu velho tio não conhecia, veio a resposta. “Fica bem quietinho  Alcides, vou tentar sair, mas to meio desnorteado, porque se o cachorro desta gente regular com o tamanho do prato estou morto ala pucha!” sentenciou  tio Dino.  Um belo dia tio Dino que é mais vivo que cruzeira esquentando sol em taipa de açude foi visitar seu amigo Pedro “leiteiro” em Glorinha. Os dois nutriam uma relação permeada pelos altos e baixos, uma vez que leiteiro era do tipo gavola e só o que lhe pertencia era bom. Se encontram depois de muito tempo e, a certa altura da conversa, o Pedro leiteiro, olha bem dentro dos grãos dos olhos do tio Dino e lasca:
- E aí, Arcedino, com quantos alqueires está a sua fazenda?
- Já tá com quase cem alqueires e a sua? Retruca tio Dino.
- Só pra você ter uma idéia, pela manhã eu saio de casa, ligo meu Jeep e ao meio-dia ainda não percorri nem a metade da minha propriedade.”, cutuca Pedro Leiteiro.
- Entendo... eu também já tive um carro desses! É uma merda vive sempre andando devagar e estragando...”, detonou tio Dino. 100% Morungava – Tem que ter concurso!