quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

TIO DINO: O ESTRATEGISTA

Durante quase três décadas tio Dino levava  frutas e verduras para a Ceasa em Porto Alegre. Como num ritual pela madrugada  o caminhão Ford seguia pela RS 020 carregado de víveres. Alface, cenoura, couve, espinafre, melancia, açúcar mascavo e queijo de cabra que era vendido em um hotel famoso da capital. Por sinal  as terras de Morungava são das melhores, porém já ocasionaram problemas para meu tio. Para ter uma idéia a força da terra, as alfaces plantadas no sitio do velho Arcedino eram grandes, mas bota grande nisso, quando a tia Miúda estava de cócoras limpando os canteiros, tio Dino não conseguia visualizá-la pois a mesma ficava encoberta pelas folhas das alfaces. Uma vez tio Dino  foi chamado na Prefeitura tudo porque plantou uma roça de aipim perto por demais da cerca da estrada. As raízes  adentraram no trecho da estrada e levantaram um negócio que mais parecia um quebra molas. E segundo tio Dino a raiz problema ainda era uma das menores, ainda bem.  Após descarregar na Ceasa, meu velho tio seguia sua rotina, por vezes comprava roupas na Zamal ou na Marinha Magazine e não raro se deslocava até o Beira Rio (O estádio da Copa do Mundo 2014 no Rio Grande do Sul e que por sinal é de propriedade do Sport Club Internacional desde 1969), onde assistia os treinos do colorado. Perto do meio dia tio Dino almoçava em um restaurante de um posto de gasolina. Certa feita entrou no restaurante um grupo de cinco motoqueiros, daqueles estilo dos filmes do Mad Max. Jaquetas de couro, barbudos, correntes no pescoço e luvas. Os atrevidos vinham  da região de Guaíba e eram os caras. Tio Dino tranquilamente almoçava quando um dos barbudos se encarnou no velho e deu um tapa no chapéu do tio que estava ao lado da mesa. Já o segundo motoqueiro, passou a mão copo de suco do velho morungavense e virou no chão e um terceiro motoqueiro mais atrevido apagou o charuto no bife do tio Dino. O velho Dino era mais bravo que marimbondo e não enjeitava uma peleia, porém se tem algo que todo morungavense carrega consigo é que morrer todo mundo vai um dia, mas não é preciso apressar o dia. O velho Dino  como um bom estrategista notou que estava em desvantagem e resolveu ficar calado. Calmamente levantou sem palavras e pagou a conta. Ao sair os motoqueiros juntaram duas mesas e cantando vitória afirmaram para o garçom: Tu viu aquele velhote que saiu? Ele não é homem mesmo, a gente  tomou o suco dele, derrubou o chapéu no chão e apagou o charuto no prato dele. O cara não é bom mesmo, do contrário reagiria?” questionou o barbudo. O garçom sorrindo disse: “É verdade ele não é bom mesmo. Não é  nem bom motorista mesmo, porque olha só ele acabou de passar de caminhão por cima de cinco motos ali no estacionamento e foi embora”, avisou o garçom.

A mula morta

Um dia tio Dino atravessou por sérios problemas financeiros e resolveu vendeu uma mula para outro colono do Mato Fino por R$ 800,00, que concordou em receber a mula e no dia seguinte. Entretanto, no dia seguinte ele chegou e disse: - Cumpadre Dino me desculpa mas a mula morreu. - Morreu? - Morreu. - Então me devolve o dinheiro. - Ih... já gastei. - Tudo? - Tudinho. - Então me traz a mula. - Morta? - É, chê, ela num morreu? - Morreu. Mais o que  você vai fazer com uma mula morta? - Vou rifá? - Rifá? - É, chê! - A mula morta? Quem vai querer? - É só não falar que ela morreu. - Então tá Então. Um mês depois os dois se encontram e tio Dino pergunta ao amigo que vendeu a mula: “Ô Cumpadi, e a mula morta? - Rifei. Vendi 500 bilhetes a 2 real cada. Faturei 998 real. - Eita! E ninguém reclamou? - Só o homem ali de Santa Cristina do Pinhal que ganhou a rifa. - E o que  você fez? – Perguntou tio Dino. “Ué devolvi os R$ 2,00 real pra ele”, falou o colono – 100% Morungava – Tem que ter concurso!.


Para pensar:*Papai Noel e Roberto Carlos são os únicos que só trabalham no final do ano.
*Duvido que você nunca lambeu a tampinha do Danone.



Leituras da Madrugada:
Saudade é ter sede com o coração