quinta-feira, 29 de setembro de 2011

ESCURINHO AOS 44 MINUTOS...

A noticia da morte de Luiz Carlos Machado (18.01.50) ou simplesmente Escurinho na terça-feira (27.09) me possibilitou um exercício de memória indescritível e fantástico. Você vai ficando mais velho e mais exigente com muitas coisas, mas é preciso o cuidado de não nos tornarmos saudosistas extremados, mas me desculpem os mais jovens: tive o privilégio de assistir o Escurinho jogar. Menino pobre que vivia nas proximidades das ilhas do Guaíba, Escurinho conta que em 1968 assistindo a um grenal, no qual a equipe da Azenha vencera o colorado com uma atuação exuberante de Alcindo e Volmir Maçaroca, ele, Escurinho deixou o estádio chorando e prometeu: “Eu ainda vou fazer muitos gols contra este time”. E não é que o sonho virou verdade.  Escurinho tinha o dom de tornar as tardes de domingos de Grenais em verdadeiras festas para nós colorados. Quando pulava e cabeceava e o Beira Rio explodia, ele saia correndo com o sorriso do tamanho do mundo. Sujeito simples, alegre, com o coração do tamanho do mundo. Certa feita, Escurinho ao invés de pegar dinheiro das luvas após uma renovação contratual, solicitou a locação do Gigantinho, onde promoveu um show de natal, onde trouxe vários grupos musicais entre eles Os Originais do Samba. Os recursos arrecadados foram transformados em alimentos para comunidades pobres de Porto Alegre (poucos sabem disso). Quando recebemos a noticia da morte de alguém como Escurinho a gente fica mais triste, porque o mundo fica mais pobre, a poesia e a beleza do futebol perdem um pouco de sua textura. Recordo 1975, 76 nós colorados do Morro das Pulgas, bairro lendário de Campo Bom alugando a Kombi do seu Otacílio Eloy, pai do Heitor ou mesmo pegando o Citral e se deslocando para o Beira Rio para assistir a uma das maiores e melhores equipes do mundo. Eram tempos difíceis, mas a gente era feliz e sabia. Dinheiro contado para a passagem e para o ingresso na geral e as vezes até na Coréia (que saudade da Coréia). Sempre no mesmo lugar para dar sorte. Não raro dividíamos entre três um cachorro quente e um refrigerante, depois seguíamos pela Padre Cacique a pé até o centro pela Borges, mas sempre de alma lavada por vitórias emblemáticas. E a noite as luzes do centro da capital davam um brilho especial ao então menino que eu era e um som se misturava aos prédios e o vento frio advindo do Guaiba embocava pela Rua da Praia e numa mistura de arrepio, ainda se ouvia pelas ruas de Porto Alegre nas imediações do Mercado Público os sons das buzinas dos automóveis e foguetes vindos dos prédios centrais e o grito que adentrava madrugada: É campão... É campeão. Um dos construtores destas felizes tardes de domingo foi justamente o Escurinho.  Não raro o colorado seguia para Passo Fundo enfrentar o Gaúcho do Bebeto, saudoso Canhão da Serra, dos temidos irmãos Pontes (Daison e João) ou então enfrentar o 14 de Julho e o que dizer do Guarany ou Grêmio Bagé partidas que pegavam fogo e um zero a zero e já no apagar das luzes lá estava o Escurinho fazendo 1 a 0 de cabeça é óbvio. Escurinho além de chutar muito bem com as duas pernas (uma de cada vez) foi talvez o melhor cabeceador do Brasil de todos os tempos. Ele cabeceava de olhos abertos e escolhia onde colocar a bola. Jamais esquecerei à tarde de 05 de dezembro de 1976, Beira Rio lotado e o colorado enfrentava o Atlético Mineiro na disputa de uma vaga na final. O Galo saiu na frente com gol de Vantuir ainda no primeiro tempo. Na segunda etapa Batista empatou com uma bomba de fora da área. E aos 45 minutos quando começávamos a pensar em quais os cobradores das penalidades, Figueroa; o capitão Brander alça uma bola que cai no pé do Dário; o Dadá Maravilha que não deixa cair no chão tocando para Escurinho que cabeceia para Falcão, o mesmo de cabeça devolve para Escurinho que novamente de cabeça vê Falcão; o 8º Rei de Roma penetrar na defesa adversária, Escurinho de cabeça faz um passe mágico e deixa Falcão na cara do goleiro Ortiz. Falcão de pé direito (não pegou na veia e talvez se pegasse não teria feito o gol) acertou o canto direito desempatando a partida, tudo isto sem a equipe do Atlético ter tocado na bola. A jogada segundo Falcão era ensaiada pelos dois há muito tempo a ponto dos companheiros afirmarem: “Isto nunca vai dar certo” E não é que deu!
Escurinho trazia consigo uma mística: os Grenais estavam empatados e ali pelos 30 minutos os olhares de nós torcedores rumavam para o reservado do Inter e quando Rubens Minelli chamava aquele negrão cabelo Black Power e o mesmo tirava o casaco do abrigo e a torcida vislumbrava a camisa 14 nas costas, o Beira Rio irrompia como se tivesse acontecido um gol. Era algo tão mágico que tudo mudava na perspectiva da partida. E o nosso adversário, a equipe da Azenha, sentia este efeito dentro do campo e nas arquibancadas e todos no estádio sabiam que a qualquer momento Escurinho faria um gol. Valdomiro ou Lula cruzavam e lá estava ele, Escurinho cabeceando como se fosse um chute quer no Picasso ou no Cejas, isto aos 44 minutos o que convenhamos era mais gostoso ainda e as vezes até na prorrogação. E a cada gol aquele menino pobre das ilhas do Guaíba corria de braços abertos com aquele sorriso que iluminava as tardes dos meninos pobres e colorados como eu. Aliás, Escurinho adorava sorrir e a fazer gols em grenais e cumprir a promessa feita após o choro naquele grenal de 1968: “Eu ainda vou fazer muitos gols contra este time”. Humildemente resta-me agradecer a vida por ter me dado a oportunidade de assistir Escurinho jogar e fazer magia e poesia com a bola. Morreu o homem Escurinho, mas ficou o mito que fez uma geração como a minha feliz e mais democráticos, sim porque dividir cachorro quente quer algo mais democrático que isto? Parafraseando Pablo Neruda concluo: “Confesso que vivi”.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

UM MORUNGAVENSE NO RIO DE JANEIRO

O velho Arcedino Vieira Nunes gaudério do Morungava sempre foi  um homem de palavra que honrava o fio do bigode. Trato feito, trato cumprido. Tio Dino costumava dizer muitas coisas e quando se calava falava mais que um pensador. Nas noites invernais, sentadito no banco no galpão ao redor do fogo de chão a cada sorvida do mate seu olhar se perdia como que fitasse o Itacolomi. Cauteloso tio Dino sempre tinha por filosofia que cobra velha não pode errar o bote e como lagarto a espreita de “bichiguaga” (Lixiguana), já viu lagarto atacar Lixiguana no campo? O bicho velho é matreiro até parece aqueles centroavantes velhos que ficam ali como quem não quer nada e na primeira bobeada da defesa eles não perdoam. Pois os lagartos chegam à lixiguana e batem com o rabo e disparam macega adentro, a bicharada fica alvoroçada ou “alvorotada” como dizia o tio Dino, redemunhava e alguns voltavam para a lixiguana, minutos depois, do meio do brejo saia novamente o lagarto e dava outra laçada na lixiguana, resumindo a história, pouco tempo os marimbondos tinham abandonado a casa e lagartão se deliciava com o mel. 
Cauteloso tio Dino tinha cuidado até no banco de Morungava, não chamava a tia Miúda de bem com medo que o gerente lhe tomasse a patroa por conta dos “papagaios”. Um belo dia tio Dino depois de pagar um pacote turístico se tocou numa excursão para o Rio de Janeiro com a tia Miúda. Na Cidade Maravilhosa, se achando o tal leva a tia a um restaurante francês, alto nível (a situação recomendava afinal 55 anos de casados...). Chegando lá comeram sem olhar preço. Era tudo felicidade, até que o educado e sorridente tio Dino pede a conta. Ao ver a despesa de R$ 600,00, ele se assusta e chama o garçom: “Ei, alto lá, tchê! Nós não comemos couvert” destacou já meio irritado, porém o garçom foi enfático: “Estava aí senhor, não comeu porque não quis” - dispara o garçom. De olho na nota tio Dino ainda argumenta: “Mas que barbaridade... nós também não tomamos este champanhe francês que nem o nome sei falar direito”, “Estava aí senhor, não bebeu porque não quis” - repete o garçom ironicamente. Já se coçando para puxar a bicuda, tio Dino afirma: “Ô índio véio, e esta sobremesa, além de um preço absurdo, também não comemos” E o garçom lacaio novamente diz: “Estava aí senhor, não comeu porque não quis”. Mais bravo que nenê cagado, tio Dino olha bem no grão dos olhos do garçom, o gaúcho dispara: “Tudo bem: R$ 600,00. Mas desconta R$ 550,00 que vou te cobrar por tu ter beijado a  minha china...” O garçom carioca metido a malandro com aquele chiado horroroso, alías é comprovado cientificamente após estudos da Universidade de Morungava que o carioca perde de quatro a cinco anos de sua vida chiando. O garçom metido logo interrompe o velho Dino e salienta:: Êpa! Mas isso é um absurdo!!! Eu nem olhei para a sua esposa, senhor”.  E o velho morungavense, colocando R$ 50,00 na mesa e já se levantando, responde: “Estava aí tchê, não beijou porque não quis...” Tem que ter concurso – 100% Morungava. Se vamo perder pra uns loco desses com quem que a gente vai empatar?

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

TIO DINO NO VATICANO


Escrever sobre o Morungava parece redundância, mas segundo Tolstoi “escreva sobre a tua aldeia e serás imortal” e em meio a esta crise de valores que o mundo enfrenta cada dia que passa me convenço: bom mesmo é Morungava. Nesta época onde a primavera começa a exalar o perfume das flores do campo e vindo do litoral aquele vento que se acentua próximo ao “dia de finados”, tudo em meu torrão natal é diferente da agitação da cidade. Ainda hoje se pode ver paisagens belíssimas, carretas carregadas de pasto e seus condutores tirarem o chapéus num cumprimento amistoso. Os finais de tarde são cartões postais, naquele lusco fusco da entrada da noite, o céu avermelhado e a lua surgindo no inicio dá noite daria um quadro pintado pela Tânia Hanauer ou talvez pelo Everaldo Meregalli. Nos galpões os homens se reúnem para matear ao pé do fogo e não raro entre um causo e outro uma estrela cadente irrompe no céu para um pedido fazer. Ao lado do fogo e dos homens a cuia  passa de mão em mão e os cuscos se aprochegam para aquentar-se. Assim é Morungava muito simples como simples é a vida, afinal o que mata a sede não é o copo e sim a água. Depois de muitos anos como barbeiro tio Dino resolveu apena cuidar do sitio e vendeu o salão ao Azeredo, sujeito que veio lá das bandas do Figueirão e se radicou em Morungava. Falava mais que o Datena e o Kajurú juntos. Azeredo gostava de uma charla como poucos, dizem que uma vez ao veranear em  Quintão, voltou com a língua bronzeada de tanto conversar na beira da praia. Mas Azeredo tinha um grave defeito era do tipo que como todo bom barbeiro sabia de tudo, mas era do contra, se tu eras colorado, ele apontava só defeitos, se tu eras gremista ele lembrava aquela página triste do grêmio na segundona. Você conhece alguém assim? Azeredo era o chamado chato. Um dia tio Dino chegou à barbearia com muita dor de cabeça, daquelas que parece que o coração tá batendo dentro do porongo. E Azeredo pronto para disparar seus papos furados e alugar o ouvido, perguntou ao tio Dino; “Como vai ser o corte seu Dino?” Tio Dino que era como Leandro Damião, não perdia gol, detonou: “Em silêncio... em silêncio Azeredo”. Outra feita tio Dino com os pilas da venda de umas cabeças de gados resolveu viajar para a Europa. Um roteiro de 25 dias no velho mundo acompanhado da tia Miúda.  Na sexta-feira antes de viajar, tio Dino foi até a barbearia cortar o cabelo e entusiasmado caiu na asneira de contar ao Azeredo que viajaria para a Europa. O velho Azeredo detonou. “Não me diz que tu vai para a Europa?” Ao que tio Dino já contrariado disse: “Sim vou, por quê?”. Azeredo com a tesoura e o pente na mão continuou seu rosário de baixo astral: “A Europa é um continente decadente..., mas tu não vais à Itália vai?” perguntou. Tio Dino disse: “Sim vou à Itália e vou a Roma”, afirmou todo contente, ao que Azeredo foi logo detonando: “Só falta tu me dizer que vai ao Vaticano ver o Papa”. Novamente tio Dino já ficando bravo disse: “Sim quem vai a Roma tem que ver o Papa”. O Azeredo como todo agitador aproveitou e avisou: “Olha aquele velho (João Paulo II) está sempre doente e nem vai aparecer” sentenciou.  O velho Dino de guerra chegou a casa quase desistindo da viagem, não fosse à tia Miúda eles não tinham seguindo rumo a Europa. Depois de retornar ao Brasil, tio Dino voltou à barbearia e sentado na cadeira do Azeredo ouviu o mesmo com sorriso de mascate perguntar: “E ai Che Dino como foi de viagem para as Europas?... Não vai me dizer que foi a Roma?”. Tio Dino foi logo encurtando o assunto e lascou: “A viagem estava ótima, estivemos em Veneza, fomos a Londres, conhecemos Paris. Na Itália fomos conhecer o Coliseu, bem como, estivemos na Praça de São Pedro no Vaticano” Azeredo não titubeou e perguntou: “Viram o Papa?” “Vimos, mas aconteceu algo estranho, ele estava na sacada da janela e sumiu”, alertou tio Dino. Azeredo sempre pessimista observou “Vai ver desmaiou, ele vive desmaiando este velho”.  Tio Dino que aprendeu a comer o mingau quente pelas beiras, verberou: “Não, não, o que aconteceu foi que o Papa desceu, abriu-se  a porta e ele quebrando o protocolo no meio da multidão caminhando e como se não bastasse veio em nossa direção, quando estava a uns quatro metros meu coração bateu mais forte”, disse tio Dino que prosseguiu: “ O Papa se aproximou e ficou bem na minha frente, abaixou e no meu ouvido sussurrou algo que jamais vou esquecer” O Azeredo enciumado perguntou: “O que ele disse, fala para nós aqui na barbearia... Foi alguma mensagem para o Brasil?” Tio Dino se fez de porco vesgo para comer em dois cochos e aguçou a curiosidade do Azeredo: “Não sei se devo contar”. Azeredo morreria de curiosidade senão soubesse e afirmou. “Homem, por favor, já que começou termina, o que o Papa te disse?”. O velho Dino, meu tio calmamente observou: “O Papa se abaixou e disse no meu ouvido – Que cabelinho mal cortadooooo.... Que barbeiro facãooooo que tu tens”.  Tem que ter concurso – 100% Morungava!

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

MORUNGAVA LARGA NA FRENTE NA CORRIDA ESPACIAL

Morungavenses devem chegar em Marte nos próximos 4 anos. Agora é oficial. Já se sabia que a tecnologia espacial estava bem avançada em Morungava, mas agora o projeto vai deslanchar. Segundo a Agência Espacial  Morungavense (AEM), a G.M  nossos vizinhos ali de Gravataí, aliás, Gravataí, Glorinha, Taquara, Santo Antônio, Cachoeirinha e Alvorada integram a grande Morungava, pois a GM aquela que fábrica automóveis  assinou um contrato com Morungava para construir a primeira nave gaúcha. A espaçonave terá lugar para 10 viventes e contará com churrasqueira, fogão de campanha, aqueles com rodinha (ah sabe onde vai o cano? Me escreve que eu te conto), dispensa, dormitórios, bagageiro, quarto de banho e latrina. Já estão confirmados na viagem um gaiteiro e um pandeirista, que tem os nomes preservados por razões de segurança. De mantimento vai um pouco de tudo - erva-mate, bergamota, rapadura, charque e lingüiça do Allembrandt, arroz, feijão preto e de cor, bolacha e sodinha Cassel, bem como, um vidro de olina, lacto-purga e duas caixas de cibalena.  Segundo o chefe da AEM, Arcedino Vieira Nunes “Tio Dino”, taura crânio muito inteligente responsável pelos estudos, os americanos jogaram a toalha na corrida espacial porque não tinham o direito de usar a tecnologia para revestimento da nave, já que esta é uma patente morungavense. Trata-se de uma combinação de casca de cana, de Morungava, barro vermelho de Campo Bom, pedra moída (aquela lá do Morro da Pedra). Segundo os cientistas da Agência Espacial Morungavense o material resiste a 10 mil graus de temperatura e também pode ser usado na blindagem de tanques de guerra. Vamos  usar por enquanto para fins pacíficos, mas vai que o Miki Breier encasquete de meter uma guerrinha com a gente, ele tentando ampliar as fronteira de Gravataí... Nunca se sabe... A propulsão do foguete será à base de uma mistura de cachaça  de Santo Antônio ( Monjolo) com graspa do Rincão dos Kroeff. Os pesquisadores  afirmam que ela é 1000 vezes mais potente do que o combustível atualmente utilizado pela NASA e 3000 vezes mais potente que dinamite, não o Roberto.
Há décadas que esta tecnologia vem sendo desenvolvida, em segredo, no sitio do Tio Dino. Dizem que os comunistas andaram por lá para espionar. Foram mandados embora, no laço, pelo capataz e pelos vigias do sitio. Os americanos, que tentavam desenvolver um trabalho parecido, na Área 51, foram convidados a visitar o projeto e tomar uns mates. Gostaram do que viram, mas não trouxeram nada de novo ao know-how daqui. Em nota à imprensa Tio Dino que é mais ladino que vendedor de cavalo foi categórico ao afirmar: Tudo o que nos mostraram não é novidade, e tudo que mostramos a eles, ficaram boiando, de boca-aberta, não entenderam bosta nenhuma. É uma tecnologia anos-luz na frente destes loucos. O PHD com especialização em Boston, Arcedino Vieira Nunes, acrescentou: “Estamos a passos largos para a conquista de Marte. Não vai quatro anos e teremos gente desembarcando por lá. Pelo menos uma prenda já vai junto. Na missão, organizar o primeiro CTG Espacial. Vamos em paz, mas pelo sim, pelo não, vai na mala de garupa de cada um, uma carneadeira coqueiro deitado, um trançado de 8 e uma coleção de garrucha. Vai que lá também tem marciano castelhano... Mas oigalê tche porqueira... Tem que ter concurso – 100% Morungava.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O MAVERICK E A OVELHA QUE LATIA

 O velho Arcedino Nunes que também atendia pela alcunha de Tio Dino era uma figura respeitada em Morungava por ser um homem de bem que honrava o fio do bigode. Era daqueles centauros do pampa que dava um boi para não entrar numa briga, mas depois que entrava nem uma boiada o tirava. Exímio pescador adorava confeccionar suas próprias redes e eu na minha infância ficava ali horas a fio deitado na rede da área da casa tentando entender como aquele emaranhado de fios se tornaria uma rede. Agulha de taquara na mão feita por ele próprio, Tio Dino de forma paciente tecia a rede. Fico hoje pensando que como um artista Tio Dino tecia algo que eu não conseguia entender, vejo que Deus também fica a tecer a rede de nossa vida, porém nós muitas vezes não conseguimos entender, mas no final sempre dá certo se deixarmos que o criador dirija a obra da “rede”. Certo dia de primavera, quando as flores em Morungava têm um aroma mágico e as estradas ficam coloridas; repletas de flores do campo e o vento do litoral sopra trazendo nos finais d e tarde uma brisa suave. Falam em pôr do sol do Guaíba quem não conhece o pôr do sol de Morungava tendo como pano de fundo o morro do Itacolomi, chegou às terras do tio Dino um sujeito dirigindo um Maverick, lembra do Maverick da dupla Starck e Hutch? (Bahhh, mas eu estou ficando velho...). O sujeito chegou à porteira do tio porque havia furado um pneu e esquecera o macaco em Porto Alegre onde morava. Depois do pneu trocado, tio Dino o convidou para matear, aliás, quem vai a Morungava e chega numa casa, se for pela manhã não sai sem tomar um chimarrão, quando próximo ao meio dia fica para o almoço e a tarde é convidado para o café da tarde. Pressa? Pressa só os neuróticos da cidade tem. Detalhe: se convidado não diga não, porque para o morungavense isto é uma desfeita.  O almofadinha da capital tomou uma ou duas cuias e mostrando seu conhecimento , olhando para os boizinhos do tio no campo, afirmou: “Seu Dino, o que o senhor me dá se eu disser exatamente quantas cabeças de gado o senhor tem aqui nas suas terras?”. O velho Dino meio cabreiro, pensou, pensou e lascou: “Mas tá bueno se tu acertar na mosca te dou uma ovelha”  O rapaz do Maverick, pegou um papel, uma caneta e uma tal calculadora e poucos minutos depois afirmou: “O senhor tem 243 cabeças de gado”. Tio Dino pensou que o sujeito era vidente, pois não é que havia mesmo 243 cabeças de gado. Trato feito em Morungava é trato cumprido. O jovem da capital passou a mão na tal ovelha e foi colocando dentro do automóvel. Então tio Dino olhou bem nos grãos dos olhos do gaudério de Porto Alegre e propostiou: “ô guri se eu adivinhar tua profissão tu me devolve a ovelha?”. O rapaz já dentro do Mavericão com a chave na ignição desceu e disse: “Tudo bem, se senhor adivinhar lhe devolvo, mas se errar, pego mais uma ovelha, certo?”. Tio Dino fez um ar de pensativo, olhou lá para o horizonte, virou-se e contemplou o Itacolomi e observou: “Tu é técnico em estatisticas”.  O jovem estupefato perguntou: “Como é que o senhor descobriu?” Tio Dino  com sorriso maroto lascou: “ Foi fácil, muito fácil, mas vamos ao que interessa, aposta feita eu ganhei e agora devolve ai de dentro do carro o meu cachorro o Surtão que ele não é uma ovelha”. Tem que ter concurso – 100% Morungava!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

BRIZOLA E SEU LEGADO

O Brasil nos últimos anos avançou muito em muitas áreas, especialmente na esfera social com projetos que beneficiam os menos favorecidos, com ênfase aos programas  que possibilitam filhos de trabalhadores chegarem a faculdade. Mas vejo que a grande mazela que aflige a sociedade brasileira ainda é a corrupção que precisa ser combatida e os ladrões precisam ser punidos com cadeia e devolução do dinheiro usurpado do povo. Meditando no cenário político nacional vem em minha mente um nome, Leonel de Moura Brizola.  Gaúcho que contrariou as regras, menino pobre natural Cruzinha, nasceu em 1922. Órfão de pai que tombou na revolução de 1923, lutando ao lado dos Maragatos; lenço vermelho. Veio para Viamão aos 14 anos onde estudou com bolsa de estudo na Escola Técnica Agricola – ETA. Atuou como engraxate em Porto Alegre e continuou estudando vindo a se formar em engenharia. Foi prefeito de Porto Alegre, deputado estadual e governador do Rio Grande do Sul, deputado federal pelo Rio Grande do Sul e pelo extinto estado da Guanabara, e duas vezes governador do Rio de Janeiro. Por duas vezes foi candidato a presidente do Brasil pelo PDT, partido que fundou em 1980, não conseguindo se eleger. Morreu aos 82 anos de idade, vitimado por problemas cardíacos.[ Ingressou na política partidária no antigo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), tendo assumido sua primeira candidatura a cargo eletivo por recomendação pessoal de Getúlio Vargas – seu padrinho de casamento. Foi eleito deputado estadual às 38ª e 39ª Legislaturas da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, de 1947 a 1955. Casado com Neusa Goulart, irmã do ex-presidente João Goulart, com ela teve 3 filhos: Neusa, José Vicente e Otávio. Exerceu considerável influência política durante o mandato de seu cunhado. Alguns historiadores citam que Brizola, por muito tempo, pressionava Goulart para ser nomeado Ministro da Fazenda, e que suas pretensões eleitorais para com uma Reforma Agrária (bem como de outros líderes da esquerda, como Miguel Arraes) tenham sido um dos ignitores do Golpe de 1964, provocado pelos militares e setores conservadores da sociedade. Brizola não se fartava de usar a frase "Cunhado não é parente, Brizola pra presidente" como slogan pré-eleitoral (na época, havia lei que impedia que parentes do presidente concorressem à sua sucessão). Pesquisas eleitorais visando o não realizado pleito presidencial de 1965 apontavam Brizola como um dos 3 candidatos com reais chances de vitória, ao lado de Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda, os dois primeiros não agradando nem aos Estados Unidos da América nem às oligarquias brasileiras. Em meios as crise de valores e o mar de lama que o Brasil vive fico imaginando, as analises de conjuntura de Leonel Brizola na TV, com seu sotaque gaúcho falando dos “intérésses”. Você pode não concordar com a ideologia trabalhista de Brizola mas deve respeitá-lo. Nunca se levantou uma hipotese de Brizola fosse desonesto ou que estivesse envolvido em corrupção. Apaixonado pela educação criou os “Brizolões”  escolas integrais onde envolviam as crianças o dia inteiro. Era a escola de graça e as crianças com a barriguinha cheia no final do dia voltando para casa. Graças a Brizola milhões de crianças cariocas não seguiram para o crime e a marginalidade. Ao lado de Darcy Ribeiro, Brizola sabia que a educação seria e é o caminho para alavancar o Brasil. Depois de vários anos chegou-se a conclusão: Brizola tinha razão. Aprendi a admirar Brizola por sua ética, por sua convicção e por seu nacionalismo. Uma de suas últimas frases: “Cavalo de raça morre na pista” Quem esquece os debates em 1989 para presidente “Filhote da ditadura” ao se referir a Maluff.  Muitos até hoje (inclusive eu) põe em dúvida a não passagem de Brizola para o segundo turno, porque convenhamos, Brizola seria muito mais adversário a Collor do que foi o Lula naquela eleição. Em bruxas não acredito, mas pero que las hay, las hay.  Recordo com nitidez o tirocinio e visão aguçada de Brizola quando em 1986 em pleno Plano Cruzado do qual eu também acreditei, ele veio para a imprensa e denunciou que o Plano Cruzado era um engodo de Sarney e do PMDB para eleger a maioria dos deputados e governadores e que o Plano não daria certo e mais uma vez Brizola tinha razão. Sempre fui Brizolista e não abro mão de minhas convicções porque acredito nos ideais de Leonel Brizola. Campo Bom e a região do Vale do Sapato deve muito ao ex-governador Brizola, talvez  muitos não saibam, mas quando o Dr. Claudio Strassburger decidiu abrir caminho para exportações de calçados foi justamente Brizola, quem concedeu apoio e passagens aéreas para que o timoneiro do sapato de mala e cuia abrisse as portas para o mercado que alavancou o desenvolvimento de nossa região.  Leonel de Moura Brizola um político na essência da palavra e que faz uma falta enorme nos dias de hoje e assim como Getulio Vargas saiu da vida para entrar para a história, porque cavalo de raça morre na pista.  O legado de Brizola serve como bússola para as gerações futuras. Ele foi um politico honesto e que fazia da politica um sacerdócio. Uma pena que não deram a oportunidade deste gaúcho ter comandado a nação. Brizola ainda no futuro será estudado e redimido, porque foi um estadista, um homem a frente de seu tempo.  – Jair Wingert; jornalista e brizolista.