segunda-feira, 29 de agosto de 2011

IEES – “ESTADUAL”: MAIS DE MEIO SÉCULO APOSTANDO NA EDUCAÇÃO PÚBLICA DE QUALIDADE.

A escola começa no lar e os princípios cristãos, a família e ética são ingredientes decisivos para a formação de seres humanos equilibrados e comprometidos com a paz.
A educação é uma ferramenta fantástica de transformação da sociedade e nos últimos anos muito se tem feito em termos de projetos educacionais especialmente no que se refere a programas de incentivos a alunos de classe pobres, porém a burocracia e os ditos trâmites legais ainda são impeditivos para que tais alunos obtenham a “bolsa”. Ainda estamos longe do modelo de escola ideal, mas já avançamos e isto é salutar e elogiável. Em termos de municípios existe dezenas de projetos vencedores como são os casos de Campo Bom e Sapiranga onde as cidades independente de governos e ai leia sigla partidária, investem pesado em educação e isto já está refletindo na formação de novos cidadãos. A escola pública é muito criticada em função do modelo, do projeto pedagógico, mas também é imperioso evidenciar os projetos vitoriosos e tomo a liberdade de destacar o Instituto Estadual de Educação Sapiranga – IEES educandário este que cumpre um notável papel no cenário educacional da região do Vale do Sinos.  Do “Estadual” como é carinhosamente chamado anualmente foram dezenas de jovens, na sua maioria meninas que cursaram a Magistério e terão a sublime missão de ajudar na construção do novo homem; um ser questionador, responsável, participativo, equilibrado e antes de tudo, um homem de bem! Acredito que Deus (religião) + Família onde exista amor, diálogo e comprometimento + Escola é = País desenvolvido e sociedade sem distúrbios.  Como cidadão não poderia deixar de agradecer ao Estadual e quando falo em escola refiro-me aos educadores, auxiliares, equipe técnica, servidores, direção e a todos que atuam no educandário. Ao longo de quatro anos minha filha Vitória estudou no “Estadual”, e confirmando ao longo dos anos sua paixão epidérmica pela área educacional, sim porque para ser um professor, um educador na essência da palavra é estar apaixonado epidérmica e visceralmente pela educação e, sobretudo pelas crianças, porque não se faz educação sem crianças. Eles são a razão sagrada do educador existir. Ser um educador é saber ser um lapidador de talentos. O educador deve estar para o aluno como a bússola para o norte.  O verdadeiro educador não é aquele que ensina, mas sim o que mostra o caminho e forma livres pensadores.  Depois da bonita cerimônia de formatura realizada no Centro de Cultura Lúcio Fleck faço meu reconhecimento ao Estadual, uma escola pública comprometida com a qualidade do ensino. Parabenizo a direção  do IEES na figura da educadora Saionara dos Reis Saldanha, bem como, agradeço a educadora Edy Auler apaixonada, empolgada e emtusiasmada pela educação. Sua motivação e paixão pelo que faz contagia todos a sua volta e nos dá a certeza de que sonhar é preciso. Parabenizo também  a educadora  Marli Villas Boas pela dedicação e amor a arte de construir caráter e formar pensadores. Da mesma forma agradeço a colhida que a Vitória teve quando do estagio na Escola Municipal de Ensino Fundamental Lúcia Mossmann, aliás, o criador tem seus meios e propósitos e nada acontece em vão ou por acaso, pois o estágio foi feito na mesma escola onde estudou desde o antigo “prézinho” até a 8ª serie. Publicamente agradecemos a Smec de Campo Bom, bem como, a abnegada e incansável professora Cleusa (do Lúcia), que supervisionou o estágio da Vitória, além é óbvio do apoio e incentivo por parte dos demais educadores e servidores do Lúcia Mossmann em especial a diretora a educadora Jane Maria Golfetto.  Parafraseando Fernando Pessoa “tudo vale a pena se a alma não é pequena” e concluo agradecendo a escola pública por ter oportunizado minha filha abrir caminhos, graças ao empenho de professores que transcendem e que amam a educação e sabem que somente a educação libertária pode lapidar e encontrar diamantes entre as pedras.  A Vitória começa uma nova caminhada e terá a missão de mostrar caminhos, romper paradigmas e contribuir para construção de um novo homem, um ser capaz de amar a vida, ao seu próximo, a natureza e que acima de tudo seja um cidadão de paz, que construa e promova a mesma, tendo em mente que o sucesso da escola começa em casa com famílias participativas, que dialogam e que ouvem as angustias de seus filhos. A escola é uma ferramenta de parceria e inclusão social. Não sei se disse, mas tentei... Muito obrigado!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

TIO DINO E GETÚLIO VARGAS

Meu torrão querido, o velho Morungava de guerra sempre foi uma tronqueira em defesa das causas do Rio Grande. Em 1961 já tinha terminado a legalidade e ainda estava chegando morungavense na frente do Piratini para defender a posse do Jango Goulart. Tio Dino neste período montou uma milícia que a noite patrulhava os campos do Morungava, pois havia uma temeridade de que os americanos contrários a posse de Jango viriam por Tramandaí com os porta aviões e além dos fuzileiros por terra, a informação da Agência de Inteligência do Morungava é que os aviões sobrevoariam Morungava e os pára-quedistas saltariam nos campos da região.  Tio Dino reuniu a tropa formada por 17 milicianos, sendo que três não passariam no bafômetro, pois estavam etilicamente alterados. No dia anterior fizeram um churrasco no salão do Ancelmo e participaram 176 milicianos, mas quando preteou os olhos da gateada, apareceu só os peleadores, os frouxos ficaram em casa ouvindo as noticias pela rádio Guaíba; a rádio da Legalidade e na vida é assim muitos preferem ouvir, ler, assistir a história, enquanto outros preferem ser protagonistas, ou seja, não se acovardam e escrevem a história, porque como dizia Vandré aquele herói enlouquecido de esperança – Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. A tropa de elite de Morungava, a NCIS salvo as devidas proporções se reuniu e Tio Dino parecia o Jethro Gibbs dando ordens. Plano feito para vigiar os campos à noite, o grupo possuía revolveres, espingardas e facões. Tudo planejado, inclusive a logística, pois construíram uma patente no meio do campo para uma eventual necessidade. Alguém alertou: “Não vamos caiar a patente para que num possível bombardeio não seja um alvo fácil dos aviões”. No final do discurso de Tio Dino para elevar o moral da tropa, ele perguntou se havia alguma dúvida foi aí que tio Gomerço questionou: “Comandante Dino só uma pergunta, eu li na revista Seleções que um pára-quedista não pode ser alvejado no ar, isto faz parte do tal tratado de Genebra. Como vamos proceder quando eles pularem?” Tio Dino estrategista, pensou e como chefe do Estado Maior da Forças Armadas  Morungavenses avisou: “Não conheço esta revista  e também nunca ouvi falar deste troço de tratado de Genebra, isto para mim é papo dos gringos, o detalhe é o seguinte, quando os aviões dos Americanos ou da Base Aérea de Canoas se vierem, a gente espera, quando branquear os panos brancos no céu, a gente caga eles a tiro no ar e o que sobrar, matamos a facão no chão” Assim era o velho Dino de guerra, que não tinha nenhuma patente, melhor tinha uma nos fundos do sitio e que foi isolada em 1973 depois que ele fez um banheiro dentro de casa.
Se quisesse ver Tio Dino bravo e tirá-lo do sério era falar mal do Colorado, de Morungava e do Getulio Vargas. Trabalhista de quatro costados, sempre votou no Brizola, no Jango e no Vargas. Em 1954 quando do suicídio do presidente Vargas, Tio Dino tinha uma barbearia no centro de Morungava,  com todo aquele alvoroço, quebradeira no centro de Porto Alegre, a população estava em comoção. Lá no Morungava havia um cidadão de nome Maneca Gomes, diziam as más línguas não era boa gente, sempre armado e de bombacha, Maneca Gomes era um prospero plantador de arroz perto do banhado do Chico Lumã. Eleitor da UDN, ferrenho adversário de Getulio Vargas dizem que quando soube da morte do presidente soltou uma caixa de foguetes e o pior dizia de boca cheia: “Quem se suicida não vai para o céu. O Getulio já está no inferno”. Tio Dino sabedor deste comentário aguardou o momento certo para contra atacar. Duas semanas depois da morte do velho Gêgê, sexta-feira à tarde, barbearia cheia, Maneca Gomes adentra com toda sua empáfia e arrogância na barbearia e com sorriso debochado. Quando chegou sua vez, Tio Dino perguntou: “E para o senhor tchê Maneca?”. “Vim aqui fazer a barba... capricha na aquaverva”, avisou o fazendeiro udenista.  Depois de passar o creme de barbear nas fuças do fazendeiro, Tio Dino pegou a navalha mais afiada impossível e quando chegou bem pertinho da veia jugular (aquela morredeira), o velho Dino deu uma apertadinha na dita veia matadeira e disse: “Soube que aqui em Morungava tem um orelha seca, um boca de fronha que ainda não descobri quem é, que anda falando que o finado Getulio; pai dos pobres não vai para o céu porque se matou” observou Tio Dino que finalizou num rompante que mais parecia um estouro da eguada “Se eu souber quem disse este crime, juro que vou cortar a veia aorta deste infame com minha  navalha”, e nisto fez mais uma pressão no pescoço do taura da UDN que se contorcia na cadeira. Maneca ficou branco como bunda de nenê novo, até parecia que tinha perdido todo o sangue. Todos se olharam dentro da barbearia porque sabiam quem havia dito e para surpresa,  Maneca Gomes se mijou que escorreu bombacha abaixo, mas agüentou no osso do peito, até porque com uma navalha no pescoço não tem valente e como dizia Jayme Caetano Braun “Até touro se ajoelha, cortado do beiço a orelha”. Tio Dino terminou a barba, cobrou como se nada tivesse acontecido e o velho Maneca Gomes  pagou quieto e foi embora sem ao menos se despedir. Todo mijado e talvez (C.....), montou seu flete e se foi estrada a fora. Tio Dino foi aplaudido pelos presentes, perdeu o freguês que passou a cortar cabelo e a fazer a barba em Gravataí, mas nunca mais falou mal de Getulio Vargas.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O MAESTRO ISMAR REICHERT

O futebol é algo mágico que transcende e une pessoas, sendo capaz até de parar conflitos e guerras. Aquela senhora gorduchinha denominada por bola tem um poder extremo e faz como que 22 homens e agora mulheres também corram atrás dela. A arte modernizada pelos ingleses, mas mistificada pelos brasileiros é uma referência em termos culturais e sociais.  Não sei se estou velho, mas o fato é que sou do tempo em que futebol era sinônimo de arte e gol. Vejo atônito um técnico como Osmar Loss que será sempre interino, caso não mude sua postura, escalar uma equipe com apenas Leandro Damião na frente contra a frágil e inexpressiva equipe do Atlético Goianense. Convenhamos dentro do Beira Rio jogar retrancado contra o Atlético? Era partida para como dizia o Abelão “entrar para dentro do adversário”. O meu medo é que esta escola brucutu de volantes e mais volantes tome conta do futebol e em breve teremos apenas o goleiro, mais nove volantes e mais um atacante isolado a espera de um milagre.  Penso como Jorge Fossatti (a história ainda vai redimir Fossatti. Ele foi o grande responsável pela conquista da Libertadores 2010). O Uruguaio diz que as equipes devem ser como gaitas, quando de posse de bola, estica o fole e ataca, quando o adversário recupera a posse, o fole se fecha e todos defendem. Não sou um apoiador do ofensivismo inconseqüente, mas deploro a retranca. Me perdoe  os retranqueiros de plantão, mas sou do tempo em que assistia ataques com: Valdomiro, Flávio e Lula, ou Valdomiro, Dário e Lula. Vi jogar, Valdomiro, Bira e Mário Sérgio e ainda de traz vinha Jair e Falcão ... Ou pela equipe da Azenha:  Tarcisio, André e Eder e se juntava ao ataque- Yura, Tadeu Ricci e Alexandre “Tubarão”. Sou do tempo de Jairzinho, Tostão, Gerson, Rivelino, Pelé e Paulo Cesar Cajú.  Havia mais beleza e plasticidade naquelas tardes de domingo. Não tem nada pior que assistir a um zero a zero num estádio de futebol. Em Campo Bom também fui um privilegiado pois assisti inúmeras apresentações da Orquestra “de chuteiras” do 15 de Novembro, os chamados “Professores de Futebol”. Orquestra habilmente regida pela batuta do maestro Ismar Reichert. Era uma das mais belas equipes de futebol que presenciei jogar. Bilú ou Raul Blos dois grandes goleiros que defendiam até a sombra. Naldo um lateral moderno que fazia sem saber o que anos depois o capitão Claudio Coutinho classificou de “overlaping”, ou seja, o Naldo descia para o apoio, encostava no ponteiro do 15, recebia a bola do mesmo e seguia, cruzando dentro da área. O Naldo era polivalente sem ao menos saber da existência do termo.  Havia tantos belos jogadores – o saudoso Luia, o Helinho, irmão do Mauro que jogava demais. Deoclécio Schuetz; disciplinado, leal e habilidoso, além é óbvio dos craques – Celso Bock, abro um parêntese: o Celso Bock era uma meia na essência da palavra, cadenciava o jogo, segurava a bola para a equipe respirar, tocava com a fineza dos gênios dos gramados, bem como, cobrava faltas de forma magistral. Depois como técnico também continuo sua caminhada vitoriosa.  Depois nas novas safras vieram: Renatinho “O Cri”, Claunir, Ivã, goleador nato que dificilmente perdia um gol. Prego, Rogério, Kiko, Ronaldão Timm, Luis Fernando Gaúcho, Gerson Machado e tantos outros. Posteriormente, a oficina de craques surgida a partir da aposta na base  onde talentos foram garimpados e lapidados por Gilberto Wingert; treinador vitorioso e o que mais título obteve no RS em termos de juniores trabalhando no 15, Cairú, Oriente, Lombagrandense e na várzea. A nova fase da mesma forma vitoriosa tinha: Dé, Polenta, Ivã, Airton, Trott, Pedrinho, Popa, Silvio, Rene, Pedrinho, Caruso, Elton, Miguelito, Crioulo, Valdeci, Ita, João Carlos e o genial Luisinho Rangel, abro novo parêntese: O Luisinho conhecia o cego dormindo e o rengo sentado, seus dribles desconcertantes e seus gols magistrais faziam a diferença. Mas volto a Ismar Reichert e confesso que tive o privilégio de vê-lo em ação com elegância sutil que marca os gênios da bola. Já escrevi e volto a sentenciar, pelo bem da estética seria fundamental que o Dr. Ismar jogasse de terno e gravata, mas não com qualquer terno, o ideal seria uma Armani. Passes milimétricos, lançamentos de 30, 40 metros no pé do companheiro, além de ser um excelente marcador, Ismar não dava pontapé, nunca foi expulso ao longo de quase 20 anos de futebol amador. Jogava de cabeça erguida procurando os espaços. Só vi três volantes com tamanha elegância  - Ismar, Paulo Roberto Falcão e Franz Beckembauer.  Dentro das quatro linhas, Ismar se assemelhava muito ao estilo do “Kayser” Beckembauer, mas fico na dúvida, quem se assemelhava a quem? Oh dúvida cruel... Ismar era cerebral e tratava a bola de tu, e é justamente aí que se diferencia o perna de pau do craque, o primeiro chama a bola de senhora, vossa excelência, ilustríssima, sabe por que? Porque não tem intimidade com ela, já o segundo a trata como esmero dos ourives. O Dr. Ismar fazia sonetos com a bola nas tardes de domingo nos campos por onde os professores de futebol se apresentavam em grandiosos concertos. Encerro afirmando: que me perdoe os “retranqueiros volanteiros”, mas vocês estão matando a arte sublime e moleca. A ditadura da retranca está assassinando a arte do futebol. E por fim, muitos técnicos pretendem transformar cabeças de bagre em craque e não dá. Em Morungava no sitio do Tio Dino havia uma ovelha, eu e me primo sentamos ao redor dela próximo à um barranco a avisamos: “Ovelha, você pode voar... Você vai voar”. Resultado empurramos o pobre animal que caiu e quebrou o pescoço. Em síntese, ovelha não voa, porque não é de sua natureza... Ovelha só voa em história em quadrinhos e perna de pau; cabeça de bagre é sempre perna de pau; cabeça de bagre. Me desculpem os ruins, mas talento é fundamental. 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

HOLOCAUSTO: ESQUECER JAMAIS

A Assembleia Geral da ONU instituiu o dia 27 de janeiro de 2005 como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Esta data marca o dia em que as tropas soviéticas libertaram, em 1945, o campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, na Polônia. A decisão da ONU “condena sem reservas todas as manifestações de intolerância religiosa, de incentivo ao ódio, de perseguição ou de violência contra pessoas e comunidades por causas étnicas ou religiosas e rejeita qualquer tentativa de negação do Holocausto como acontecimento histórico, quer seja total ou parcial”. Historiadores se referem a Auschwitz-Biekenau como Fábrica da Morte. Embora seja impossível definir o número exato de pessoas assassinadas ali, calcula-se em cerca de 1 milhão as que foram mandadas para as câmaras de gás, a maioria judeus. Em 1944, auge da macabra linha de produção, cerca de 6 mil pessoas eram liquidadas diariamente. Ao libertar o campo, o Exército Vermelho encontrou 8 mil sobreviventes em estado deplorável,  verdadeiros  mortos-vivos, seres que se assemelhavam a zumbis. O Império de Mil  Anos imaginado pela mente doentia de Adolph Hitler previa a eliminação de alguns grupos, como judeus, ciganos, eslavos e certos doentes (cerca de 100 mil alemães, classificados como “doentes mentais incuráveis”, foram mortos num hospital psiquiátrico), além do banimento/liquidação física da esquerda revolucionária. Unidades especiais do exército alemão, os Einzatzgruppen, foram formadas com essa finalidade. Não obstante quando a Wehrmacht começou a sofrer as primeiras derrotas na URSS, com tremendas perdas humanas e materiais, os nazistas não só não abandonaram como intensificaram a política de genocídio contra os grupos que consideravam “inferiores”. Militares foram deslocados de frentes críticas de batalha para continuar a matança. O Holocausto foi um evento tão traumático, tão avassalador, que acabou colocando em segundo plano acontecimentos fundamentais para se ter uma visão mais abrangente do nazismo.  Diferentemente da estratégia militar colocada em ação contra países não eslavos, a invasão da Polônia, por exemplo, inaugurando a carnificina na Europa, incluiu a liquidação sistemática de lideranças civis e intelectuais. Havia planos, jamais executados, de castração em massa das populações do Leste Europeu. Os eslavos eram considerados “impuros” e, por isso, não teriam lugar num mundo arianizado. As chamadas “democracias” da Europa Ocidental foram coniventes na ascensão do nazismo e, mesmo sabendo o que acontecia com as populações judaicas pelo menos desde 1942, nada fizeram para deter o massacre. A política de “apaziguamento” dos anos 1930, a passividade frente ao rearmamento alemão e o cinismo da “neutralidade” durante a Guerra Civil na Espanha deram vitalidade ao expansionismo nazista e abriram a porteira para a barbárie. Os pseudos democratas apostaram em Hitler como barreira de contenção contra o inimigo comum: o comunismo. Para vencer a guerra ideológica, alimentaram um velho conhecido: o imperialismo alemão. O namoro com o nazismo deu bons frutos depois do fim das hostilidades. A desnazificação da Alemanha foi feita de forma muito seletiva e, em linguagem de hoje, midiática. Alguns figurões foram julgados e condenados a longas penas de prisão ou à morte. No entanto, a grande maioria de funcionários do regime nazista e criminosos provados ficou livre. Passados 66 anos da libertação de Auschwitz-Birkenau, assistimos com apreensão o retorno de algumas bandeiras caras ao nazismo (embora ele, enquanto movimento de massas marcado pelas tensões sócio-políticas das três primeiras décadas do século passado, esteja morto). É imperioso aos setores democráticos resistir. Não basta apenas a memória. É importante articular frentes de luta contra todas as tentativas de legitimar o racismo, o antissemitismo e outras formas de preconceito. Construir um mundo mais justo e fraterno será a melhor forma de homenagear os que foram massacrados nos campos de concentração e extermínio, os que são diariamente humilhados pela fome, os que são agredidos por sonharem com o fim de todos os tipos de exploração, os que são desterrados por governos brutais, os que sofrem discriminação de classe, os que padecem com o flagelo das guerras. Ah se os governos ao invés de investir milhões e milhões em armas  investissem em cadernos, livros para as crianças... Se os homens que comandam o mundo investissem na paz! Holocausto: uma triste página da história humana que não pode ser esquecida. O Holocausto deveria constar no currículo escolar das crianças do mundo para não repetirmos os mesmos erros do passado, uma vez que em muitos momentos a história se repete.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

MOHAMED - O DONO DA LOJA

Um dos folclóricos personagens do Morungava se chamava Mohamed Mustaph todos o conheciam por turco, o que  no começo o deixava bravo, pois na verdade ele era libanês. O que se sabe é que os passaportes eram tirados na Turquia e deste país os libaneses e tantos outros filhos de Abraão vinham para o Brasil em busca de dias melhores. Trabalho, seriedade e honestidade foram marcas deste povo que ajudou a construir a história do Rio Grande do Sul, bem como, aqui puderam escrever sua própria história. Homem de bem, zeloso pai de família e extremamente religioso, seu Mohamed chegou a Morungava como mascate nos anos 40 em plena guerra mundial.  A pé ou no lombo de duas mulas carregava suas mercadorias que eram comercializadas em toda região, incluindo – Glorinha, Maracanã, Mato Fino, Concórdia, Paredão, Santa Cruz, São João do Deserto, Passo da caveira, Passo do Hilário, Vira machado, Figueirão, Pega Fogo e outros. Nas malas perfumes, pasta de dente, colônia Lancaster, remédio para vermes, espelhos, pentes, sombrinhas, guarda-chuvas, sandálias e chinelos.  Econômico e organizado Mohamed logo juntou dinheiro e abriu loja no Morungava e deixou de mascatear. Casado e com família constituída, seu Mohamed se tornou uma figura respeitada na região. Mas dele conta-se histórias que não sabemos ao certo até que ponto são verídicas, mas como dizia Jayme Caetano Braun, o pajador dos pajadores “Em bruxas não acredito, mas que elas existem, existem”. Uma vez conta-se que numa reunião do Rotary Club todos saiam para pegar seus carros no estacionamento e deixavam uma gorjeta no bolso do guardador de veículos. Uns davam 2 reais, outros 5 reais e alguns até deixavam uma nota de 10 reais sem exigir troco. Como de costume ao colocarem a “gorjeta” no bolso do velho Aparício, o guardador de carros, as pessoas diziam: “Ó Aparício isto é para você tomar um uisquinho” E assim passavam um por um: “Isto é para você  tomar um uisquinho”. Chegada à vez de seu Mohamed este com sorriso de orelha a orelha com a mão fechada vai em direção ao bolso do Aparício sentencia: “Ó Abaricia esta é pra du domar um visquinhooo” e segue seu caminho. Minutos depois seu Aparício sente algo estranho no bolso e leva a mão e constata uma pedra de gelo deixada pelo seu Mohamed que se preocupava com os detalhes, afinal todos deram dinheiro, mas e o gelo? Como diria o Nelson Weiss (e o gelo é bom?). Outra que entrou para história, Mohamed chega ao banco em Morungava, aliás, quando abriu uma agência do Banco de Boston em Morungava, tio Dino tentou depositar três quilos (não aceitaram) e fala para o gerente: “Eu quer faze uma embréstimo!!! Surpreso, o gerente pergunta para Mohamed: “O senhor seu Mohamed  querendo um empréstimo? De quanto?”“, questiona. “Uma real”, responde Mohamed. “Um real? Ah, isso eu mesmo te dou”, diz o gerente sorrindo. “Não, não! Eu querer embrestado da banco mesmo! Uma real!”, observa Mohamed. O gerente então afirma: “Bem são 12% de juros, para 30 dias...” Mohamed pensa, coça a cabeça e destaca: “Zem broblema! Vai dar uma real e doze zentavos. Onde eu assina?”, pergunta
O gerente interrompe e alerta: “Um momento, seu Mohamed, o banco precisa de uma garantia. Sabe como é, são as normas”. O velho Mohamed negociante como poucos diz: “Bode begar meu Mercedes zerinha, que tá aí fora e deixai guardado no garagem da banco, até eu bagar a embréstimo. Tá bom azim?”, questiona. O gerente todo feliz e contente como excelente negócio observa: “Feito!!!”
Chegando em casa, Mohamed diz para Jamile sua esposa: “Bronto, nóis já bode viajar bra Balestina zem breogubazon. Conzegui dexar a Mercedes num garagem do Banco do Brasil bor 30 dias, e eu só vai bagar doze zentavos de estacionamento” comenta seu Mohamed. E por falar em gerente de banco, Tio Dino quando vai ao banco em Morungava jamais chama a tia Miúda de bem, com medo que o gerente tome ela por conta das dividas. Tem que ter concurso! 100% Morungava

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

O POVO DA CIDADE É GROSSO BARBARIDADE!

Na minha infância passei momentos de rara beleza junto aos sítios de Morungava. Lá foi o meu reino encantado, a escola ao ar livre. Jamais esquecerei a casa branca de alvenaria do tio Dino, com área ao redor estilo casa de praia. Havia várias redes dependuradas para as “ciestas” ao meio dia. Depois do almoço a soneca até às 15 horas é sagrada em Morungava e pelo que consta as pesquisa, o índice de doenças cardíacas, estresse e depressão é quase zero. Suicidio também quase inexiste, aliás, o ultimo que se suicidou foi o motorista do caminhão do leite que era de Gravatai e se matou perto do salão do Ancelmo,  após saber que Celso Roth assumiu o Grêmio. Em Morungava não há pressa nem atropelos. Na casa de meus tios havia muita alegria. Eu e meu primo abríamos as porteiras para a carreta conduzida por tio Dino levar o pasto para o gado ou então quando íamos na cidade levar milho, feijão e batata para trocar por outros mantimentos. As comidas da tia Miúda eram verdadeiros manjares – polenta com molho e carne moída, biju, cuscuz com leite, carne de panela, polenta frita,  cabo de relho, ovo frito ( só no girassol magrão), sagu, pão de milho quentinho com chimia e nata. E a ambrosia mais deliciosa que comi na vida. Não esquecerei jamais os doces de natal, os quais depois de saírem do forno de barro eram pintados com uma cobertura de merengue e depois ainda recebiam uma decoração com chumbinhos coloridos (confeitos). E nos dias de marcação do gado, após todo ritual campeiro, os homens se reuniam no galpão e saboreavam um churrasco. Eu ficava  atento e ouvia todos os causos de galpão contados pela gauderiada. Uma vez organizaram no Morungava uma exposição de pássaros.. A tradicional exposição de canários representaria, inclusive, uma das melhores fontes de renda ao município. Atrairia grande número de criadores que vinham de diversas cidades, inclusive de Porto Alegre. Havia naquela época também as chamadas rinhas de pássaros que não eram proibidas.
Exposição pronta no salão da Igreja lá estavam todos, gaiolas na mão, conduzindo os seus “atletas” para mais uma competição.  As lutas preliminares eram realizadas em um pequeno ringue, em forma de gaiola, montado no centro do terreno.
Tio Dino apareceu por lá na sexta-feira a tarde carregando sua gaiola, que trazia coberta, assistindo ao espetáculo. Entretanto, nunca colocava seu “bichinho”, como costumava dizer, para brigar.  Questionado ele sempre respondia: “Meu bichinho só veio na pecuária e estou agora passeando!...” sentenciava.  Naquele final de semana, aconteceria uma programação diferente: um famoso criador de canários de briga da capital mais precisamente do bairro Chácara das Pedras havia feito um desafio:  Seu canário campeão, conhecido como “Hercules”, enfrentaria, no mesmo dia, todos os melhores canários da redondeza. E a rinha nunca esteve tão cheia. Tio Dino curioso como sempre foi um dos primeiros a chegar, para garantir um bom lugar. As lutas eram realizadas ao ar livre, para delírio dos atentos espectadores. Iniciada a competição, “Hercules” ia destruindo, ou depenando, um a um, todos que cruzavam seu caminho. Sem contar aqueles que intimidados iam desistindo de expor seus pássaros lutadores e saiam de fininho. “Tem mais alguém para enfrentar o meu campeão? questiona o orgulhoso criador, depois de mais uma vitória.  Vendo Tio Dino, na primeira fila, de tamanco de madeira, calça velha surrada e um chapéu de beijar santo em parede com a gaiola coberta, o almofadinha de Porto Alegre provoca: E aí  tchê? Não vai colocar esse bicho covarde para brigar?  A risadaiada foi geral e Tio Dino  se fazendo de morto tira o chapéu, coça a cabeça e como educado que era responde:”Meu bichinho não é frouxo não, doutoriznho! Só que ele só veio na cidade consultar o veterinário... Não veio brigar”  afirmou Tio Dino. “ É covarde e medroso sim!” Continua a provocar.. Está  tremendo de medo!  E tem mais: se resistir mais de dois minutos você ganha todo o dinheiro das lutas.  “Não provoca não, doutorzinho!... Meu bichinho só veio na pecuária!..”, avisou Tio Dino já ficando bravo. “Você ta é se borrando de medo, sim! provoca o criador, para delírio das pessoas que gritavam: Luta! Luta! Luta!
“Ta bem, doutor, eu topo a luta.. Mas tem que ser no viveiro coberto, pois meu bichinho num gosta de multidão!... E tem mais, quero o pagamento adiantado... Se eu perder devolvo tudo” alertou Tio Dino. Trato feito, assim que o campeão de Porto Alegre foi solto no compartimento escuro, o velho Arcedino Nunes caminha vagarosamente como se estivesse conversando com seu bichinho.  Então solta o bicho, e fecha a porta. Imediatamente um alvoroço é ouvido vindo de dentro do viveiro e todos correm para acudir. Arrombam a porta e...  Enquanto o desesperado criador recolhe as últimas penas que sobraram de “Hercules”, Tio Dino vai saindo de mansinho, contando o dinheiro:
 Bem que eu avisei... Meu gatinho Sarney só tinha vindo no veterinário e não queria lutar, mas o doutorzinho insistiu tanto!...”