terça-feira, 21 de junho de 2011

TIO CANDÓCA

As legendárias carretas tinham em Morungava
Sai de Morungava, mas Morungava não saiu de mim. Sou um homem urbano, mas que sonha um dia quem sabe poder viver junto a um sitiozinho em Morungava sem as preocupações do cotidiano das cidades grandes, estas máquinas de produzir loucos em série.  A correria do dia-a-dia, a luta desenfreada da sociedade competitiva e o consumismo exacerbado, além do medo e da violência vem gerando sérios distúrbios no campo psicossocial.  Eu fico às vezes a me perguntar a quanto tempo a gente não anda mais de pés descalços? Não andamos pelos campos de pés no chão, não obstante tendo os pés roseteados. E quando me pego nestas divagações tenho certeza que Morungava é um SPA ainda muito pouco explorado.  Precisamos urgentemente reaprender o sentido da vida. Nós urbanos somos seres apressados, que realizamos dezenas de atividades ao mesmo tempo e aos poucos esquecemos que o essencial não é isto. Após vir para o Vale do Sinos sempre que possível passava férias ou temporadas junto ao sítio do tio Dino e até hoje recordo os momentos magnífico que passei neste local bucólico e repleto de histórias. Como esquecer a porteira do velho sitio. As estradinhas de chão batido repletas de Maria mole ao redor dos barrancos. Como esquecer a carreta carregada de pasto, meu tio gritando com os bois: Minuano e Bacamarte e meu primo e eu abrindo as porteiras. Nos finais de tarde de inverno quando o sol se punha no horizonte, nós ficávamos observando as nuvens vermelhas que formavam desenhos, ursos, elefantes e até algodão doce. Esta paisagem era um cartão postal que ainda hoje está incrustada em minha retina. Como esquecer do cheiro gostoso das broas de milho ou dos bijus feitos pela tia Miúda.  E a noite ao redor do fogo de chão nós ficávamos ao lado do tio Dino ouvindo as histórias contadas pelos carreteiros vindos de Santo Antônio. Eles vinham em comboio, de três, quatro e até cinco carretas e pernoitavam no sitio de meu tio, pois ali eram sempre bem vindos. Os carreteiros traziam melado, rapadura, açúcar, ovos, porcos, galinhas e outros produtos e animais que eram vendidos na região. O cheiro do galpão e o vozerio dos centauros do Rio Grande não me saem da mente. Dos vários personagens quase mitológicos do Morungava jamais esquecerei do tio Candóca.  Sempre de bombacha preta, chapéu quebrado na testa, daqueles de beijar santo em parede, tio Candóca era o Rio Grande em carne e osso. O velho taura morava sozinho num sitio beira de estrada próximo das terras de tio Dino, depois que sua esposa morrera. Dizem os mais chegados que tio Candóca após a morte da companheira de mais de 60 anos de casamento se tornou ainda mais quieto. Olhar contemplativo, por vezes perdido no horizonte, tio Candóca parecia rebuscar no passado a felicidade de outrora. Quando passávamos em cima da carreta, tio Dino o cumprimentava e jamais esqueço a cena. Meu tio tirava o chapéu e saudava “Buenas Che Candóca... Como estamos?”  Sorvendo o mate sentadito na varanda da casinha branca, tio Candóca também retribuía tirando o chapéu e por um momento seus olhos brilhavam tal como sol do meio dia e a resposta com sorriso largo saia assim ao natural “Buenas Arcedino... Estamos indo bem com a graça do Pai Velho lá de riba”.  Um dia dentre as minhas muitas peripécias em Morungava, além de tomar banho pelado na Lagoa dos Schreiber, apanhar bergamota na beira da estrada, subindo lá nas grimpas, estucar cachópa de marimbondo com taquara, amarrar uma estopa ensopada de querosene no pé de um urubu que pegamos após um período de tratamento, soltamos o bicho num final de tarde, coisa mais linda de se ver, parecia um míssil daqueles dos americanos. O bicho velho subiu incendiando a estopa e cruzou a tarde noite naquele lusco fusco de aurora. Dias depois soubesse que  queimará uma roça de milho à  dois quilômetros do sítio do meu tio. Por que será que queimou? O culpado por certo foi um urubu. Certa feita tomei coragem e fui visitar tio Candóca que me falou da vida e assim como meu tio Dino também me passou os primeiros ensinamentos de amor por este chão e de respeito a natureza. Já com quase 90 anos nas costas, tio Candóca era uma lenda na região. Conhecia as ervas do campo e sabia a utilidade de cada uma delas. Sua esposa sinhá Firmina era eximia parteira, aprendera o oficio na campanha lá pras bandas de São Sepé de onde vieram para o Morungava no final dos anos 40. Tio Candóca não bebia, não gostava de carteado nem andava em bailanta, mas não abria mão de assistir as carreiradas de cancha reta nos domingos à tarde. Como num ritual mágico, tio Candóca encilhava seu zaino, um cavalo crioulo flor de especial, colocava sua melhor roupa, casaco estilo os revolucionários farroupilhas, boina preta ao invés do chapéu, bombacha preta e botas impecáveis e o lenço? Nem se fala vermelho, maragato puro. Dizem os antigos que tio Candóca participou da Revolução de 1923 e era amigo pessoal de Assis Brasil, bem como, de Zeca Neto e Honório Lemes, porém ele mesmo nunca confirmara, pelo contrário mudava de assunto sempre que inquirido. Na beirada do para-peito da cancha, tio Candóca passava horas assistindo os páreos. A tardezita, tio Candóca seguia estrada a fora montado em seu cavalo e eu no auge dos meus 10 anos sem saber vislumbrava o Rio Grande montado a cavalo. Anos mais tarde soube que tio Candóca morrera sentado na varanda de sua casa, ali naquele lugar onde ele ficava vendo a carretas em suas nostálgicas romarias, bem como, os tropeiros que por ali passavam levando gado para Taquara. Tio Candóca faz parte da minha história e como diria Liev Tolstói “Se queres ser universal, escreva sobre tua aldeia”

PRAS BOAS VOCÊS NÃO ME CONVIDAM

Biriba era do tipo bonachão, daqueles que todos gostavam de estar perto. Sempre pronto para contar uma piada, alguém que nunca se estressava, mas como nem tudo é perfeito Biribinha velho de guerra chegou no Morungava  cerca de dez anos atrás, separado e em busca de um recomeço. Não casou, preferindo ficar sozinho e sua grande paixão consistia nos jogos de carta no “Antonio Porão” e na bebida, não que bebesse, mas quando bebia se transformava em outro homem e este homem no qual se transformava bebia todas! Na verdade Biriba já tinha uns 40 anos e todos afirmavam que ele estava procurando quem inventou o serviço. Vivia de pequenos biscates, descarregando caminhões com farinha, ou capinando algum quintal na Vila. Não era muito chegado ao “basquete”. Mas nos sábados a noite nos bailes do Anselmo lá estava o Biriba de terno cinza, cabelo cheio de glostora, sapato lustrado daqueles de observar tudo; tipo espelho... Outro grave problema do Biriba, nos últimos anos era a bebida especialmente no inverno quando não podia efetuar as capinas e outras lides, ele se aconchegava junto ao balcão do bolicho e ali entornava  e entortava,  não raro teve que ser levado para casa, tal qual a música “É de braço dado com dois sordados.... uai uai...” Uns diziam na barbearia, sim porque em Morungava homem corta cabelo é na barbearia e não no tal de cabeleireiro,  que Biriba bebia de saudades da ex-esposa que havia fugido com um turco mascate das bandas de Santo Angelo. Não obstante alguns juravam de pé junto que Biriba veio de São Borja onde tinha pintado como craque de bola, porém o pai não deixou que o mesmo viesse para Porto Alegre treinar nos juvenis do Colorado, treinado pelo Abilio dos Reis. Havia um período em que jogar futebol, tocar violão e cantar era algo pior do que facada na bunda... O jovem que tentasse a vida desta forma era tido por vagabundo. E por falar em Morungava lá é terra de macho, mas também tem fêmeas que é para equilibrar. Não é como Livramento que o Keny Braga se ufana em dizer: “Na minha terra Lauro só tem macho!”  O Biriba mesmo com mais de 40 anos era um exímio volante e era titular do Morungava. Ele cadenciava o jogo, segurava a bola para a gurizada respirar. Fazia lançamentos milimétricos. Era a anti-tese do volante brucutu que vigora no Brasil. Quando o jogador não dá certo como meia, nem como atacante, muito menos como zagueiro, parece que o técnico diz assim: “Você joga de volante”. Os volantes brasileiros, a maioria são brucutus que quebram a bola. Que saudades do Falcão, do Zé Carlos, do Clodoaldo... Neste ponto os argentinos dão um banho em nós, já reparou nos volantes hermanos? Sabem sair jogando, dão tapas para os lados, desarmam com classe ao estilo de um tango de Gardel. Dá gosto ver um volante argentino em ação. Já prestou atenção em Veron “La Bruxa” do Estudiantes já veterano faz seus shows nos gramados. Para o bem estética do futebol Veron deveria jogar de terno e gravata! Biriba o nosso craque chegou atrasado para a excursão que o Morungava faria para disputar um torneio na Glorinha. Ainda embriagado do baile, Biriba seguiu pela estrada a pé afinal perderia quem sabe o primeiro confronto, mas chegaria a tempo do almoço, o famoso churrasco assado em espetos de taquara, a maionese com ovos da colônia e o aipim com farinha, além é obvio das cucas.  Só que no campo do Glorinha, o primeiro confronto da manhã entre Morungava e Figueirão terminou numa batalha campal. Brigou todo mundo. A pauleira foi tão grande que chamaram reforço de Gravatai. Vieram os brigadianos que naquele tempo usavam aqueles capacetes tipo de louça, não é pinico!  Os “homens” trouxeram um caminhão para levar os brigões presos.  Mais de 20 pessoas, entre jogadores, dirigentes e torcedores das duas agremiações dentro do caminhão seguiam em direção a DP de Gravatai. Numa das curvas, o caminhão lotado de presos passa pelo Biriba já ofegante que rumava para o torneio “apezito no mas”. Ao conhecer alguns integrantes, Biriba não se conteve e gritou para o pessoal do caminhão: “Pras boas vocês não me convidam né”. Imediatamente o caminhão freou e mandaram Biriba entrar dentro do “trucão”. Ao andar uns 200 metros Biriba pergunta: “Ué o torneio não era na Glorinha?” A resposta de um dos jogadores foi afirmativa. Biriba não entendendo nada pergunta: “Mas então para onde a gente está indo?” Foi aí que soube que estavam todos presos e que mesmo não tendo participando da briga acabou em cana.... “Pras boas vocês não me convidam né”!!!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

GIZ DE CERA: A PADARIA D'ALMA DO VALE

Um empreendimento cultural que supre uma lacuna na região
A proposta é ousada, mas segundo o poeta português Fernando Pessoa: -“Tudo vale a pena se a alma não é pequena”, já o poetinha Mário Quintana disse: - “A vida deve ser vivida, mas, sobretudo sonhada”... E de certa forma a Livraria Giz de Cera chegou de maneira inusitada, ocupando espaços e apresentando uma proposta capaz de quebrar paradigmas. Campo Bom merecia um lugar assim e o Vale da mesma forma. Finalmente na cidade um lugar onde você encontra os melhores livros, porque a cidade carece a muitos anos de uma livraria, ou seja, um local com livros.  Aliás, penso que os livros deveriam constar no item da Cesta Básica e barateados pelo governo e até subsidiados... Já pensou livros nas mãos das crianças do Mônaco, Barrinha, Vila Nova, Aurora, Morada do Sol, Vila Britto? Mas pensando um pouco o “status quo” não permitira, pois é perigoso formar gerações de pensadores. Já pensou um gurizinho da periferia lendo Platão? Sócrates? Santo Agostinho? São Tomas de Aquino? Ellen G. White?  Como campo-bonense dentre as muitas invejas santas que tenho com relação à Sapiranga (que já trouxe via Prefeitura – Ziraldo, Rubem Alves, Gabriel Chalita, Mauricio de Souza, Augusto Cury, Leonardo Boff e tantos outros...) é a Livraria Presencial conduzida pelo seu Arti Hugentobler e sua filha Luciana. Além de ser um berço da resistência cultural a Presencial é uma livraria na essência da palavra. Pois agora Campo Bom através da Patrícia Jahnke jovem empreendedora de visão abre as portas da Livraria Giz de Cera neste local a comunidade vai encontrar além de papelaria, presentes, CDs, DVDs, material de informática, serviços e é claro livros de todo tipo e gênero. Na última quinta-feira (09.06), a Giz de Cera foi inaugurada oficialmente, com um detalhe sem precedente, foi entregue a comunidade e aos amantes da cultura um seleto espaço onde as pessoas que amam podem adquirir seus livros e ainda saborear um dos melhores cafés da região. O Espaço Cultural junto a Giz de Cera é um lugar bonito, aconchegante. E vibro ao saber que neste Espaço poderá ser realizadas palestras, saraus literários, sessão de autógrafos entre outros. Inclusive tomei liberdade e sugeri aos proprietários da livraria a organização de um Sarau Literário com música (quem sabe clássica) num final de tarde, regado a café, doces e salgados (taí a sugestão:  Café, doces, salgados & Cultura). A sugestão para o primeiro laboratório seria com Henrique Schneider, aliás, abro um parêntese: é um dos melhores senão o melhor escritor jovem do Rio Grande do Sul. O Henrique é filho do ex-prefeito Fips Schneider e possui renome internacional. É um erudito de fácil acesso e que escreve de forma lúdica, intimista, visceral  e prazerosa. O Henrique na época da faculdade, publicou seu primeiro livro: Pedro Bruxo (Editora Metrópole). Publicado em 1984, o livro ganhou ainda outras duas edições pela Editora Caetés. Em 1989, com O Grito dos Mudos, venceu o Prêmio Maurício Rosemblatt de Romance. O livro e o prêmio lhe abriram as portas para a literatura. Foram cinco edições pela Editora L&PM. Agora, publicado pela Bertrand Brasil (2006), está na segunda edição. Após uma pausa, em 1999, publicou A Segunda Pessoa (Editora Mercado Aberto). O livro deve ser reeditado pela Bertrand Brasil em 2010. Em 2003, passou a escrever a coluna semanal de contos Vida Breve, no jornal ABC Domingo. Em 2007, em parceria com a Universidade Feevale, passou a fazer leituras públicas e gratuitas dos contos da Vida Breve. As leituras já o levaram a diversas cidades gaúchas, além de Florianópolis, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Montevidéu e Buenos Aires. Também em 2007, pela Bertrand Brasil, publicou Contramão, finalista da 50ª edição do Prêmio Jabuti e vencedor do Prêmio Livro do Ano – categoria Narrativa Longa -, promovido pela Associação Gaúcha de Escritores - Ages. Seus trabalhos mais recentes são Avenida de Histórias (Um Cultural, 2009) e os textos de Novo Hamburgo – a cidade se revela (Um Cultural, 2009), obra compartilhada com os fotógrafos hamburguenses Joel e Isa Reichert. Ambos foram publicados através da Lei de Incentivo à Cultura. No ano de 2009, por voto direto (pela Internet), foi eleito patrono da Feira Regional do Livro de Novo Hamburgo. Além dos livros individuais, Henrique participou de diversas antologias. Possui textos publicados na Espanha, México e Argentina. Pois bem, mais uma vez destaco de maneira entusiástica e efusiva a abertura deste mega empreendimento que a Livraria Giz de Cera – o local bem que poderia ser definido como – Padaria D’Alma. Vale à pena conferir! Vida longa a Giz de Cera. (Jair Wingert – ; jornalista para serviços leves; porque fazer força é para guindaste)
Henrique Schneider poderá  fazer um Sarau Literário, batendo um papo descontraído com os leitores abordando sua obra. (A sugestão é deste modesto escriba)

*A Livraria Giz de Cera está localizada na Rua dos Andradas, 130, próximo ao Supermercado Central e a Imobiliária  Walric. Telefone. 51.3038.2016 ou e-mail: atendimento@livrariagizdecera.com.br

terça-feira, 14 de junho de 2011

100% MORUNGAVA - "SE MIORÁ ESCANGÁIA"

GAUDÉRIO DE MORUNGAVA
Rir ainda é o melhor remédio já dizia a Revista Seleções (esta parte até paga uns pilas para as melhores histórias) A proposta de humor do jornalista Jair Wingert que encarna o Gaudério de Morungava é fazer o público tomar uma” pançada de riso”. É um show alegre, intimista que empolga pela magia da realidade do interior.  A peça aborda o cotidiano da bucólica Morungava, cidadezinha incrustada junto ao belíssimo Morro do Itacolomi, que segundo o Gaudério é muito mais bonito que o Pão de Açúcar. Tudo começou com uma brincadeira e apresentações em acampamento de jovens, Janpar e agora virou sucesso total.     O show tem uma hora de duração (e a gente não devolve o dinheiro, tanto que só começa quando o pessoal da bilheteria foi embora). O humor escrachado relata as aventuras do tio Dino personagem quase que mitológico de Morungava, mas não prima por uma seqüência temporal, pelo contrário é tudo muito desorganizado.  Para o jornalista e humorista Jair Wingert, o show é um antídoto contra estresse, prisão de ventre, impotência, dores de barriga e flatulência. “É um show que não cura diarréia, mas a pessoa depois de assistir ao espetáculo se suja toda, mas de forma feliz”, assegura o Gaudério que filosofa ainda sobre sua terra natal. “E tem gente que não conhece Morungava tchê, antigamente Morungava ia desde o Chuí até mais ou menos ali na Praia dos Ingleses, porém muitos municípios foram se emancipando e aí fomos perdendo espaço, mas tudo bem. E tem mais tu conhece Taquara? Gravataí? Glorinha? Alvorada? Cachoerinha? Viamão? Conhece? Pois estes municípios integram a grande Morungava”, finaliza o Gaudério de Morungava.

Shows: contrate a gente que a coisa tá feia

Para contratar o show – 100% Morungava – “Se miorá escangaiá” basta fazer contato pelo e-mail: jwingert@ig.com.br ou pelos telefones: 51.9856.9252 ou 51.9195.1268 com Claudio Cunha; empresário do artista (que homem de coragem... Tem que ter concurso). O Gaudério de Morungava faz shows para empresas, Prefeituras, Feiras do Livro, Sindicatos, Câmara de Vereadores, escolas, festivais, Clubes de Serviço entre outros....  Para conhecer mais do artista você poderá acessar http:/cronicasdojair.blogspot.com/

             Contrate se você tiver coragem!
             TEM QUE TER CONCURSO....

terça-feira, 7 de junho de 2011

O TIO SOU EU!

A gente vai ficando velho e nem sente, porém o tempo deixa marcas indeléveis na tua caminhada. Sabe quando tu percebes que está ficando velho? Quando os jovens te chamam de tio. Outro dia numa partida defendendo o glorioso Guarani, jogávamos contra uma gurizada lá do 25 de Julho e num determinado momento um dos guris disse: “ Vocês cuidem do tio, ele está entrando livre sempre”. Olhei para todos os lados procurando o tio e não encontrei, pensei: estes guris estão equivocados... Passados uns 15 minutos, outro guri, já mais atrevido disse: “ Puxa vida o tio ali com a 10 é muito chorão” Aí caiu a ficha que o tio era eu, até porque a 10 do Guarani não sei porque cargas d’água está comigo, na verdade estamos contrariando as regras, pois a 10 é sempre a do melhor e não sei  porque acabou ficando comigo. Será que não é por que eu sou o tio? (oh dúvida cruel!!!) Mas ser um quarentão no meu caso um 4.7 não chega ser uma tragédia, porque como diria Pablo Neruda, o maior poeta da America Latina “ Confesso que vivi”... E justamente se hoje parasse e analisasse minha existência que neste planeta foi marcada por contradições, desatinos, derrotas, vitórias, a firmações, mas em resumo seria de fato um “confesso que vivi” Tenho em mente o seguinte caso, se um dia a morte me chegar (meu projeto é viver até os 153 anos), ela não vai me pegar de pijamas sentado lendo jornais ou revistas... Não senhor! Vai me pegar na linha de frente, até porque cavalo de raça morre na cancha como dizia o finado Leonel de Moura Brizola um dos maiores estadistas do mundo político contemporâneo... Esta crônica é soneto de amor a vida e uma reverência a quem como este escriba é um quarentão. Os quarentões sabem do que vou relembrá-los agora... Você já tomou Q-suco? ... E a Grapette, quem toma repete! Já comeu goiabada cascão? Você já tomou leite que vinha numa garrafa de vidro e com tampinha de alumínio? E tomou cibalena? Tomou Biotônico Fontoura? Você já cuidou de suas espinhas quando adolescente com pomada Minancora?  E a Violeta Genciana para os machucados? Seu pai usava aparelho de barbear com lâminas removíveis? Sua mãe tinha secador de cabelos com touca? E sua irmã usava leite de colônia... E lembra do Mário?  É aquele.... Primo do Loxa lembra?  Você jogava bilboquê? Usava tampinha de refrigerante para fazer distintivo de xerife e brincar de mocinho (eu sempre torcia pelos índios nos filmes). Andou de carrinho de lomba na decida da São Cristóvão ou na Andradas no Rio Branco? Assistiu final do Sesi no campo do Oriente e torceu para a FCC do Rivo, Túlio, Ronaldão, Zé Carlos, Rubens... Você lembra quando o Ronie Von canta a  Praça?  E quem da nossa geração não assistia aos Perdidos no Espaço com o Dr. Smith, ou o Túnel do Tempo e o Terra de Gigantes? Quem foi Ted Boy Marino? E os Astros do Ringue da Bandeirantes com narração do Alexandre Santos que também fazia Gol o grande momento do esporte. Você assistia ao Repórter Esso? E nas manhãs olhava a Vila Sésamo?  E você que tem menos de 30 e que está lendo esta crônica sabe quem foi Odorico Paraguaçu? Lembra o que era um compact simples ou um long play?  Você já teve um bamba? Ou um kichute?  Você chamava a revista em quadrinhos de gibi? Colecionava a Revista Placar? Lembra da Bola de Ouro? Comprou o Pasquim ou a Hora do Povo meio mocosiado em Porto Alegre para que os “abacates do governo” não te pegassem? Sua mãe tinha caderneta no armazém? Tu nunca atacou a santinha, tirando as moedas com uma faca para comprar chicle? Teve aula com o professor Orth? Lembra das festas populares no Oriente, sonorizadas pelo Jorge da Continental? Você assistia ao Clube dos Artistas com Ayrton e Lolita Rodrigues pela TV Tupi canal 5?  Colecionava figurinhas do campeonato brasileiro? Assistia ao programa Porto Visão na TV Difusora pela cores vivas do 10? E o Jogo Aberto com Geraldo José de Almeida maior narrador da TV brasileira, além do Lauro Quadros, Larry e Aparício Viana e Silva?  Já tomou fontol? Assistiu ao Teléco na Avenida Brasil onde hoje é o Unidão? Você tomou banha pelado na Ponte Branca, local próximo da Metalgrin? Já atirou ovo podre nos transeuntes de dentro das taquareiras na Tapajós (ali onde hoje é o Viadei)? Já colocou sabão nos trilhos para que o trem patinasse?  Você correu do Eloí Louco depois de chamá-lo de “Tomé” ou Cafuncho? Jogou no Guarani ou na Padaria?  Tua mãe usava bomba de flit?  Comprou revistas no quiosque antigo que existia na Praça João Blos de frente para a Voluntários? Tomou vitamina nas bancas em Novo Hamburgo? Chegou alguma vez ir de Campo Bom a Novo Hamburgo em comboio de bicicletas para assistir às matinês no Cine Avenida na Pedro Adams Filho? Já assistiu a Oriente e XV no caldeirão do Morro? Você vendeu osso, vidro, garrafa ou ferro velho ao Rubão? Por acaso conheceu o caminhão do Persinica? Chegou a jogar futebol de salão na Capela? No Tiradentes, Reny, Cristo Rei ou Castelo Branco? Ouviu a Rádio Cinderela e os programas Bandas de Todas as Bandas com Darcy Schmidt? Você lembra do programa do Cabo Adilson e o galo Badéco? Chegou assistir os filmes no Cine Rio? Uma vez quando passou na matinê o “Coração de Luto” do Teixeirinha a gente chorou tanto, mas tanto que inundou as lojas ali debaixo, especialmente a Feira Marisa do Tauffic. E o programa Canal 100 que dava antes dos filmes e mostrava os gols do campeonato brasileiro. Uma vez o Daniel da dona Elza sacaneou o Mucila que nunca tinha assistido a um filme... Num momento em que o Juliano Gemma no Dólar Furado se virou para a tela e sacou à arma, o Daniel gritou: “Se abaixa que vem chumbo”, o Mucila quase se matou se atirando para baixo dos bancos. E o lanterninha Dourado? Quem nunca tomou Café no Bar do Cinema na época de ouro com o João Capeletti? (este local jamais poderia ter fechado, deveria ter sido desapropriado como patrimônio histórico da cidade). Você esteve no Comicio das Diretas Já em 1984 em Porto Alegre e viu o Luis Carlos Prestes, Brizola, Lula, Tancredo, Montoro, Covas, Ulysses? Eu fui junto com o Chico Gomes da Rosa, Luis César e o Jorge Augusto do Domivio. Sua mãe não usava cera parquetina? Lembra do Aero Willys, do Kharmann Guia, DKW, Sinca Chambord? Lembra do sabão em pó Rinso? Lembra do Mário que é primo do Guido? Você lembra do Sílvio Carneiro e da gurizada do 8? E do filme do Batmann? Na mesma bat hora, no mesmo bat canal? Se lembra então me responda por e-mail qual era o nome da tia do Batmann? E o nome do chefe de policia do filme? E você lembra do programa Boa Noite Cinderela apresentado pelo maior de todos apresentadores da América Latina; Sílvio Santos? E da TV com seletor de canais rotativos? Se você respondeu SIM para pelo menos 30% das questões está confirmado seu DNA – Data de Nascimento Antiga. Não jogue sujo, você deve ter respondido a pelo menos 99% das perguntas. Então você não tem problemas de DNA...pois teve o privilégio de ter vivido tempos maravilhosos.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O TEMPO E OS PORCOS

Seu eu contar ninguém acredita... Mas ali no Morungava este lugar belíssimo, cercado por uma natureza exuberante e de um povo hospitaleiro foi palco de inúmeras histórias, dentre as quais meu finado tio Dino protagonizou. Teve uma época que tio Dino para ampliar a renda  vendia porcos para um  comprador de Taquara. Como meu tio não tinha um documento da “Higiene” nem pagava impostos e na vida duas coisas são certas: a morte e os impostos e já dizia o Barão Otto Von Bismarck: “Ah! Se o povo soubesse como são feitas as leis e as salsichas”.  Tio Dino criava aqueles porcões brancos, mas só para venda, na verdade ele não consumia carne suína. Nós  adorávamos  subir  nas madeiras do chiqueiro e enquanto os porcos comiam, a gente dava um tapão na traseira de um dos  porcos e ele "embrabecia" e creio acreditava ter sido vítima de um ataque do outro porco que estava se alimentando ao seu lado... Virava uma guerra, eram mordidas e grunhidos para todos os lados... Literalmente fechava o tempo no chiqueirão!  O jeito para driblar a fiscalização era justamente transportar os porcos vivos até o Passo do Mundo Novo em Taquara.  Metódico como sempre, tio Dino muitas vezes chegava a transportar apenas um porco, mas nos últimos tempos a turma da fiscalização estava implacável. Toda semana tinha barreira na faixa. Uma bela manhã inverno, após um café regado a ovo frito ou estrelado como dizem os paulistas, acompanhado de broa, pão de milho com chimia e nata, além é obvio de ambrosia, tio Dino e seu ajudante o Dóca se preparam para levar uma dúzia de porcos a Taquara, porém tio Dino “encafifou” que era melhor levar apenas um porco, porque se tivesse barreira  teria como “trovar” os guardas e convencer que era apenas um simples colono que havia comprado um porco para  seu sítio.  Colocaram um “brancão” de quase 200 quilos dentro da Veraneio e vinham pela faixa a fora escutando o programa do Teixeirinha e da Mary Teresinha, patrocinado pela Infalivina e pelo vermífugo Totalex (remédio para bichas se dizia em Morungava). A dupla passou ainda pelo centro de Morungava onde no bolicho da dona Nóquinha, tio Dino comprou um pinico branco esmaltado, um dedal e dois pares de tamancos  de madeira, um 43 para ele e outro 36 para a tia Miúda. Novamente na estrada ao som do rei do disco “Agora o caneco é nosso campeão do mundo gritar eu posso”, canção de Teixeirinha em homenagem ao Tri Mundial conquistado pela seleção canarinho no México em 1970. Numa curva, tio Dino foi logo dizendo ao Dóca. “Lá está o pessoal da fiscalização e vamos ter problemas”.  Dois guardas estavam parando os veículos e um deles era o Fonsecão que tinha fama de durão, mas estava nos últimos anos sofrendo de um sério problema de miopia e astigmatismo, ou seja, Fonsecão enxergava menos que o Mister Magoo. Ele não aceitava usar óculos de jeito nenhum.  Foi aí que tio Dino teve a idéia e avisou ao Dóca: Vamos colocar o porco aqui na frente sentado junto com nós, bem no meio. Eu vou colocar um chapéu nele e um óculos escuro e a gente vai tentar passar numa boa”, afirmou tio Dino.  A veraneio parou, apetrecharam o brancão e colocaram o mesmo “entremeio” dos dois.  O carro andou uns duzentos metros e na curva, dito e feito, Fonsecão parou a veraneio. Tio Dino desceu e disse para o Dóca não descer. O guarda olhou os documentos e deu uma vasculhada na parte de traz da caminhonete. Constatou que não havia até o momento nada irregular. Mas quando passou pelo lado do caroneiro, o Fonsecão deu uma olhada daquelas que os míopes dão, assim apertando os olhos para melhor visualizar e aí tio Dino ficou preocupado, tudo porque Fonsecão desandou a rir de tal maneira que não tinha jeito de parar. Tio Dino já bravo como marimbondo, pensou, ele descobriu a fraude e foi logo avisando: “Olha seu Fonseca se o senhor quer multar a gente, pode tirar a multa, mas não precisa ficar rindo e caçoando de nós”. O Fonsecão ainda rindo disse: “Eu não vou multar vocês. Não tem porque multar, mas só uma coisinha, não me leve a mal pode ser que seja parente de vocês, eu já vi gente feia na vida, mas aquele cara de óculos escuros na carona ali dentro do carro é o homem mais feio que já vi. Nossa ele é tão feio que parece um porco”, afirmou Fonsecão que liberou tio Dino, Dóca e o brancão.
Certa feita cansado de tanto o pessoal da meteorologia errar as previsões, tio Dino desenvolveu um aparato que virou referência não só em Morungava, mas na região. Nunca errava e ainda alertava quando uma tormenta “braba” cruzava do Passo da Caveira em direção ao Fialho e Santa Cruz do Paredão. E mais uma vez me socorri das fotos da tia Miúda que comprovam como funcionava a Estação Climatológica do tio Dino. A invenção virou noticia até fora do país. Veja a foto, inclusive sugiro que você amplie a fotografia e leia as orientações.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A LAMBRETA DO DAMIÃO

O grande Rui Biriva certa feita num Acampamento da Canção defendeu a música mais popular do festival  “ O centroavante do Clo-Cló” que contava uma história de Schutz um atacante matador que vestia a 9 deste time campo-bonense. Por falar em futebol lembrei que em Morungava  as competições eram de lascar e não raro terminavam em pancadaria. Em 1978 decisão do regional, na segunda partida o Morungava decidia o título em casa contra a equipe do Mato Fino. No primeiro jogo na casa do adversário o Morungava do Sula, Alceu, Loth, Duarte, Orlando (irmãos da Iolanda) arrancou um empate em 1 a 1. Não havia gol qualificado e só uma vitória daria o título a qualquer uma das equipes.  Não havia Liga de Árbitros (nem a gente conhecia o Delar Jost e o Carlos Schuck) e aí era feito um sorteio entre quatro pessoas indicadas, duas de cada time.  Para a partida final o tio Dino ganhou o sorteio para dirigir a decisão e os bandeirinhas ficaram com o pessoal do Mato Fino e o quarto homem, de Morungava ficou como árbitro reserva.  Campo sem alambrado, só para-peito e o contato com a torcida era imediato e perigoso muitas vezes. Tio Dino que dava nó em pingo d’água e não cozinhava na primeira fervura montou uma estratégia para garantir o comando da partida, apitou o clássico com dois revolveres ”três oitão”. A tia Miúda fez um calção preto com dois bolsos enormes nos quais tio Dino transformou num deposito de balas para garantir a munição. A cada falta apitada ou cartão amarelo dado, o velho Dino de guerra dava um tiro para o alto. Tomou conta da partida. Resumindo o Morungava ganhou por 3 a 1 com dois golaços do Sula e um do meu Dindo o Alceu (irmão do Alcides). O problema é que de tanto tiro que o tio Dino deu na decisão, inchou os dedos indicadores das mãos e os revolveres não saíram mais. Somente segunda-feira perto do meio dia os dedos desincharam e aí ele pode retirar os instrumentos bélicos das mãos. Dentro do campo tudo tranqüilo, ninguém expulso, nem mesmo peitaram o juiz ou reclamaram da sua atuação. Mas as torcidas no final se atracaram numa peleia das feias. Olha foi tanto tiro que furaram o açude dos Schreiber à bala e deu enchente no Morungava e arredores...
     A verdade é  que não sei se estou ficando velho e mais exigente, mas me desculpe, mas eu ví Flávio Bicudo jogar e fazer gols de três dedos sem tomar muita distância. Os gols de falta de Flávio eram tão bonitos que os adversários que ficavam na barreira se pudessem ficariam de costas para ver o gol de forma privilegiada.  Ví Dário parar no ar e Roberto Dinamite explodir a rede do goleiro adversário. Não me leve a mal, mas ví Reinaldo, Nunes, André Catimba. Ví o maior de todos os jogadores, o Rei Pelé. Ví Claudiomiro... Ví Geraldão que conhecia o cego dormindo e o rengo sentado! E mais recente ví Nilmar e Fernandão... Aquí ví o Elucio Schmidt no final de carreira no XV de Novembro, mas ainda era genial.  Tive a grata satisfação ver jogar o Claudelir Diogo João, ou simplesmente Diogo. Para os mais próximos o “Negro Di” ou “O Pérola Negra”.  Diogo chutava com os dois pés (um de cada vez) e também era exímio cabeceador. O negro Di não tinha pena dos goleiros, aliás, o atacante que tem pena de goleiro está fadado ao fracasso. Em 1º de maio de 1994 no Santa Rosa contra o Nóia (no mesmo domingo em que Senna morreu), a tarde Diogo fez um gol antológico no clássico vencido pelo tricolor campo-bonense por 2 a 1. A cada gol Diogo corria de braços abertos e com sorriso de orelha a orelha. Diogo em campo era certeza de gols. O Negro Di fazia prosa e verso com a bola. Também ví Ronaldo Nazário que não era deste planeta, mas o maior de todos na minha avaliação se chamou Romário. Este conhecia o caminho do gol e não raro perdia, creio que propositalmente o ângulo para tornar mais difícil a sua obra de arte. No final de carreira o baixinho ficava alí “amurcegando” como quem não quer nada. Sabe quando tu entra num pátio da casa e tem um cachorro gordo dormindo no portão. Tu passa e não dá nem a mínima para o guaipeca, mas antes de tu chegar na porta da casa, ele já furou teu sapato, a meia e o pé. Romário se fazia de morto. Quando falava era incontrolável, mas muito mais quando jogava. Seus malabarismos inflamam o campo. Ele decidia um jogo num derradeiro minuto. Assim foi Romário integrante de um grupo seleto de mágicos que atuam com a número 9.  Os centroavantes ao contrário dos goleiros que são a antítese do futebol, pois impedem o que de mais bonito existe que é gol, são a plasticidade, a beleza e o encanto magistral. Um bom centroavante é certeza de finais de domingos alegres. Por isso quando surge um menino como Damião ou “Damigol” é que volta o encantamento e de forma epidérmica escrevo: nem tudo está perdido. Damião mesmo sozinho, isolado pelo esquema burro de Celso Roth e pelo equivocado de Falcão, mesmo assim o menino pobre de Santa Catarina de cada dez bolas que chegam na área, ele faz oito (porque tem os enganadores – vide Alecsandro que graças a Deus está no Vasco. Este se escondia e de cada dez, fazia um). Damião é uma voz que clama no deserto e num lance que só um centroavante genial é capaz de executar, na linha de fundo, quando o perna de pau tentaria cavar um escanteio ou se atirar para tentar um pênalti, Damigol faz o inusitado e ao estilo moleque de Charles Chaplin, Damigol mete uma lambreta no truculento beque do Juventude, cruzando para Tinga fazer o gol da classificação. Não tenho dúvidas que Damião será o 9 da seleção em 2014, mas o que me deixa triste é acordar e saber que no máximo até o final do ano não mais veremos Damião com a 9 do colorado, pois será vendido para a Europa. Encerro minha crônica primeiro parafraseando Vinicius de Moraes: “Me perdoem as feias, mas beleza é fundamental, ou seja, ”Me perdoem os pernas de paus, mas genialidade é fundamental”. Segundo Eduardo Galeano no livro Futebol ao sol e a sombra (editora L&PM):
“Não passo de um mendigo do bom futebol. Ando pelo mundo de chapéu na mão e nos estádios suplico: uma linda jogada pelo amor de Deus! E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre – sem me importar com o clube ou país que o oferece”

AH! EU SOU GAÚCHO!

- O sol é um fogo de chão que se alastrou,
-O Atlântico é salgado porque a indiada daqui batia os espeto perto dos rios,
-O Saara é assim porque tinha que tirar os espeto de algum lugar,
-A maior churrascada que se fez, resultou no fim dos dinossauros,
-A 2ª Guerra se deu por causa que o Turco Salim de Bagé queria tomar conta dos bolicho em Uruguaiana,
-Esses terremotos que andam ocorrendo por aí são decorrência de uns concurso de xula na fronteira... E por aí se vai essa porção de terras ao redor do Rio Grande, chamada MUNDO!
Mas bah, tchê! Nem te conto...!!! SER GAÚCHO ÉÉÉ . . .

... é morar em Florianópolis e dizer que Caxias do Sul é melhor;
... é assinar Zero Hora em Nova York;
... é estar no Maracanã escutando a Rádio  Gaúcha;
... é bater no filho ao descobrir que ele é Flamengo;
... é chamar jacaré de lagartixa;
... é achar que a FREE WAY é a nona maravilha do mundo;
... é ter confiança em bancos gaúchos;
... é comemorar uma revolução que não deu certo;
... é chamar a mulher de prenda;
... é dizer que é fácil fazer churrasco;
... é comer a costela antes da picanha;
... é dizer que vaso de banheiro é PATENTE;
... é falar TCHÊ ao telefone só pra ver se  descobre outro gaúcho;
... é falar TU em vez de VOCÊ;
... é enviar cartão postal de TORRES;
... é fazer compras no SÚPER;
... é dizer que tem um FRIGIDAIRE em vez de  geladeira;
... é achar que o LAÇADOR é maior e mais bonito que o Cristo Redentor;
... é achar que o GUAÍBA é rio;
... é dizer que tomar água à 100º C com gosto de mato é coisa de macho;
... é chamar geléia de CHIMIA;
... é chamar doce de leite de MU-MU;
... é falar classe em vez de carteira;
... é falar roleta em vez de catraca;
... é falar lomba em vez de morro;
... é poder falar tri legal ou muito tri;
... é chamar quarteirão de quadra...
... é chamar semáforo de sinaleira (ninguém entende)...
... é falar "capaz" (ninguém entende também)...
... é torcer pra qualquer time que esteja  jogando contra o time adversário (grêmio ou inter)...
... é gostar de passar frio (5 graus e o índio velho vai colocar um moletom)
... É falar "pechada" quando se refere a uma batida de carros... ninguém entende...
... Chegar no mercado e pedir : me dá 5 pila de cacetinho e 1 kilo de guisado ....
 Ser gaúcho é:
- Saber que a nossa pátria é o Pampa e não a
praia com coqueiros;
- saber que nossa característica é a bravura e não o jeitinho;
- saber que nosso valor é a lisura e não a  malandragem;
- é ser simples de modos, mas reto de caráter;
- é ser franco e direto, nem que isso cause inimizades;
- é ser humilde em ambições, mas exagerado em ideais e paixões;
- é ser um respeitador fiel da hierarquia funcional e o primeiro a proclamar a igualdade;
- é um ser batalhador, que não desiste nunca;
- é um rebelde, que nunca aceita ser dominado;
- é um bravo, que não foge de uma luta por ser difícil;
Por isso eu tenho orgulho de ser chamado de "GAÚCHO".

E encerro com a frase do poema de Marco Aurélio Vasconcelos “Eis o homem”:
“Sou maior que a história grega. Eu sou Gaúcho, e me chega p'rá ser feliz no universo”