terça-feira, 31 de maio de 2011

O VARZEANO NOSSO DE CADA DOMINGO

O futebol varzeano de Campo Bom mesmo com as dificuldades inerentes que possui, sobrevive graças à luta, dedicação e abnegação de dirigentes que são apaixonados pelo esporte bretão. Fico a imaginar a magia que envolve o futebol e as nuances. Em 1993 lembro que enquanto articulista esportivo (Bola na Rede) de um jornal da cidade sugeri a criação do Fórum do Futebol Varzeano. Um encontro envolvendo, dirigentes, técnicos, árbitros e até atletas, onde num domingo pela manhã e tarde era discutido o nosso futebol. Méritos do Rivo Querino Berghann um dos maiores presidentes que a Liga de Futebol Varzeano já teve, porque além de ser competente, era democrático e possuía uma condição primordial: amava o futebol. O Rivo em sintonia com este escriba criou o Fórum do Futebol Varzeano; bons tempos aqueles!
O futebol varzeano ou “vargiano” como diria o filosofo Chutina possui muitas histórias, lendas e mitos. Um dos mitos é o Albeni pai do Saroba e ex-técnico de várias equipes inclusive a consagrada equipe do Saci com seu campo as margens do Rio dos Sinos, ali à direita antes de chegar à Prainha Chico Mendes. E quem não lembra dos incansáveis do Internacionalzinho – Gauchinho, tio Ari, Ireno da Banda e tantos outros guerreiros. O campo do Coloradinho ficava ali próximo da antiga sede da Kolartica na Avenida dos Municípios. E do outro lado da rua onde hoje é o Parque do Trabalhador (antigo CTG Campo Verde era o campo do Avenida time fundado pelo “Sponei” e outros apaixonados pela bola. Também é importante citar o saudoso Onze Garotos com Valeriano, Cau Fischborn, Ita, Pachequinho, Cambota, Zé do Lulu e do grande Decão. E o Gandense?  Time com a mais vibrante e apaixonada torcida da Várzea. O Riograndense também com seus guerreiros – Celso Fagundes, Iraldo dos Reis, Juarez Vargas, Tabajara, Nanico, Luia, Mangel, Tio Dalirio, Chuchu e outros tantos... Poderiamos citar ainda o Primavera do Jorginho, do Valdeci,  do seu Darci Lauck e o Greminho do Tio Lauro, Betão, Edegar e outros. E lá do outro lado da cidade o Independente do Zé Balão, do Rui, do Zezinho e do Oli Zacarias... Já na Metzler o grande Mengo e sua fanática torcida... Flamenguinho do Gilmar Benech, do Crioulo, do Waltair Drusian “Badanha” e o União do Nego, Candinho e tantos abnegados que não deixam o futebol morrer... Quem não recorda com saudades do Palmeirinha de Quatro Colônias, do União da Serra, do São Paulo, do Alto Paulista e do Santa Maria. Na Aurora tinha também o Bangú. E os lutadores lá do 25 de Julho e os guerreiros do Sempre Unidos, do Floresta e do BAE (Bar e Armazém Elemar) com aquele alemãozinho meia direita chamado Gilmar Ulrich que gastava a bola. 
Dentre as muitas histórias lembro que o Gandense foi o primeiro clube varzeano a ter veiculo próprio, quem não lembra da “Leleca” uma Kombi cor de café com leite que foi comprada sem entrada, sem entrada mesmo, durante muito tempo a gente entrava pela parte de trás porque a porta lateral não abria. Em dia de chuva a gente tinha que levar guarda-chuvas em função das goteiras da Leleca. Numa das muitas excursões internacionais, o Gandense se deslocou para Novo Hamburgo onde realizamos um amistoso lá na Boa Saúde (no Buraco do Raio). Numa subida muito forte a gente começou a sentir um cheiro forte de fumaça e então ouvimos o Capilé dizer para o Muçum que era o motorista, ou melhor, piloto, porque a Leleca  tinha piloto e co-piloto, neste caso o co-piloto era o Capilé que fez o alerta: “Compadre a Leleca tá pegando fogo”  Contrariado o Muçum estacionou e a gente desembarcou apavorados e tossindo, porque realmente havia pego fogo na instalação. Depois de alguns anos chegou-se a conclusão de vender a Leleca pois a gente mais empurrava a Kombi do que andava nela. Um dia atrasados para uma partida contra o Palmeirinha em Quatro Colônias, o Luis Paulo; o Purga grande atacante da Baixada estava na boléia numa velocidade de 35 por hora... Nas imediações da Madeireira Campo Bom, o Dica (Leonel Vargas) perguntou: “Ô Purga não dá para ir mais ligeiro?”. O Purga parou a Leleca e o pessoal reclamou: “Pô Purga aqui não é o campo do Palmeirinha” E o atacante motorista saiu com esta pérola: “Ué vocês não queriam ir mais ligeiro? Então estacionei para a gente ir a pé”... Outra vez a gente estava se deslocando para jogar em Lomba Grande e havia um pedágio de uma escola e um grupo de pais gritou: “25 cruzeiros... é para ajudar gente”. Na hora o Porcão (Leandro Lenhard) um baita  volante e quarto zagueiro, desceu e foi entregando a chave da Leleca para os realizadores do pedágio. Ele achou que era uma oferta de compra pela Kombi.  O Gandense vai jogar no Balalaica atrás do Cemitério, campo do São Paulo.... O grupo vai seguindo a pé por aquela trilha lembra? Uns carregando a sacola de fardamentos, outros a de massagem, chuteiras... E aí o Iraldo lembra e pergunta: “Mangel as carteirinhas dos jogadores estão contigo?” O Mangel já indignado saiu filosofando: “Puxa vida... Mas bah Iraldo sou eu pra tudo”. As carteirinhas haviam ficado na sede do Gandense lá na Presidente Vargas. Jogar no Gandense era garantia de não pagar ingresso na discoteca sábado à noite (Chama o Seninho....) Na época o Chutina que era colaborador do time residia no porão da sede e uma noite já etilicamente alterado recordo que ele estava dormindo com a cabeça dentro de uma caixa de som e com aquele barulhão todo eu, o Jorge Baleia (um dos grandes goleiros de Campo Bom) e o Dica (lateral esquerdo dos bons ou melhor dos “marvados” que carcava a muzanga e tirava o pó do osso), ficamos compadecidos e acordamos o Chutina e propomos: “Chutina a gente te leva para dormir lá embaixo no teu quatro” E veja a resposta do nosso herói ainda com cabeça dentro da caixa de som “Vocês são tudo uns abobados quem é que vai dormir lá embaixo? Não dá é muito barulho... Ninguém agüenta”  E para encerrar lembro que uma vez o tio Dalirio treinava o segundinho  do Gandense e jogávamos contra o time do Fridolino em Sapiranga e na segunda etapa tio Dalirio substitui o Purga e o Julinho (irmão do Tonho) que saíram bem indignados, mas no vestiário eles encontram a máquina fotográfica do tio Dalirio... Uma Kodak  daquelas com filme (24 fotos) e ainda faltavam umas oito ou nove fotos.... Adivinha... Purga e Julinho fizeram uma sessão de fotos pelados no vestiário e guardaram a máquina bem quietinhos... Um mês depois que as fotos foram reveladas, Purga e Julinho foram suspensos por um bom tempo... Toda nudez será castigada avisou tio Dalirio no vestiário. Estas são algumas das muitas reminiscências do nosso futebol varzeano de cada domingo.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O SANTO HOMEM E A LEI DA GRAVIDADE

Na  época da “rebordosa” ou dos anos de chumbo onde o lema era: direita volver e o verde oliva a cor oficial nos carros a gente podia ler – Brasil – Ame ou deixe-o e os Incríveis cantavam “Eu te amo meu Brasil eu te amo, meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil... eu tem amo!” E  num porto não muito alegre um certo sargento Raimundo apareceu boiando no Guaíba morto com as mãos amarradas... Depois se descobriu que o sargento por não delatar seus companheiros foi levado para a beira do rio e torturado, porém num descuido dos trogloditas covardes, o sargento escapou e entrou rio adentro onde se afogou. E nos festivais da Record, Geraldo Vandré falava das flores vencendo os canhões. Em Porto Alegre nos altos da Borges, Jairo de Andrade, um herói enlouquecido de esperanças encenava Mokimpot no seu Teatro de Arena berço da resistência e ainda na terra Brasil, o Chico Buarque cantava apesar de você e ainda avisava ao Augusto Boal que “a coisa aqui está preta” e o rei foi na Inglaterra onde visitou Caetano no exílio e depois enrolou a censura cantando “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos...” E nossa pimentinha, Elis Regina com o “Bêbado e o equilibrista”, cobrava a volta do irmão do Henfil (Betinho) e denunciava  que muita gente sumiu  num rabo de foguete. Na America Latina inteira o “Condor” mostrava suas garras, exemplo clássico: Lilian Celiberty e Universindo Dias.  No planeta bola, o Inter formava um dos melhores times da sua história e contratava junto ao Penharol do Uruguai, o melhor zagueiro do mundo, Elias Ricardo Figueroa Brander, ou simplesmente Figueroa. Quando chegou diziam que o gringo era baixinho... Foram ao Aeroporto e descobriram que tinha 1,88, portanto era alto. Alguns diziam era extremamente feio, porém não era verdade, pois logo caiu no agrado da mulherada... Os mais céticos afirmavam que Figueroa era um zagueiro tosco que chutava para onde apontava o nariz... ( tipo Felipão). No primeiro treino todos comprovaram que era técnico, dominava a bola no peito, mas se preciso fosse endurecia e seu cotovelo ficou conhecido por muitos (Palhinha, Tarcisio...) E por último diziam que ele era um ignorante; um alienado. Um dia num jantar na casa de Érico Veríssimo em Petrópolis, Figueroa após uns vinhos olhou o céu porto-alegrense e citou um poema de Pablo Neruda. Pronto... Era alto, bonito, sabia jogar com elegância e ainda era um erudito! E no Morungava tinha gente que esperava pela volta do Brizola... Lá por 1976 havia apenas a Arena (base do regime militar) e o MDB que abrigava a todos os segmentos ideológicos que se opunham ao golpe que muitos teimam ainda hoje em dizer que foi revolução (foi golpe, pois a Constituição foi rasgada num quartelaço golpista, alías, o Brasil deveria aprender um pouco com a Argentina com relação a este passado que a gente não pode e não deve esquecer). E na minha Morungava havia um vereador da Arena chamado João de Deus, político astuto, daqueles que trocava pneu de avião no ar ou se fazia de porco vesgo para comer em dois cochos.  O João era uma versão tupiniquim do Antônio Carlos Magalhães (Toninho Malvadeza), resguardado é óbvio as devidas proporções. Conta-se que um dia lá pelas bandas do Passo da Caveira, em busca de votos, João parou a Rural Willys e chegou numa casinha humilde beira de estrada, onde perguntou a uma velha senhora “Como vai o seu esposo?” E a velhinha sorvendo um chimarrão, meio contrariada, retrucou: “Meu marido seu João, morreu faz três anos”. Disfarçando e tentando remendar o furo, o velho João de Deus com ar professoral lascou: “Morreu para a senhora, mas para mim que era amigo dele... O coitado continua vivo aqui dentro”, observou quase em lágrimas. A velha senhora de cabelo branco com a neve dos Andes já irritada disse: “Ainda bem que morreu aquela praga seu João. Ele só bebia e xaropeava todo mundo”; admitiu a quase octogenária senhora. Para não perder o voto, ainda tentando remendar, o político de olhar aquilineo argumenta olhando para dentro da sala da casinha humilde com as paredes caiadas “Mas não parece senhora... Tudo indica que ele era um homem bom... Veja só a foto dele neste quadro aí na parede da sala... Até parece um santo!” destacou João de Deus. E aí perdendo a estribeira a velhinha contrariada com a vassoura na mão em atitude ameaçadora observa: “Seu João aquele ali no quadro não é o meu velho... Aquele ali é um quadro do Padre Reüs”. Depois da furada João se despediu e seguiu com sua Rural pelo Morungava a fora em busca de votos.  Outra feita ele prometeu para um colono lá do Pituva a construção de um açude. Passados dois anos do pleito, o velho João de Deus chegou no sítio do colono que mais bravo que nenê cagado reclamou da não construção do açude prometido em troca do voto. “O pessoal da Prefeitura veio aqui, mas disseram que não dá para fazer o açude por causa de uma tal lei da gravidade” Mas o vereador João de Deus para não perder o eleitor garantiu: “Olha este negócio eu não estava sabendo, mas é coisa da oposição... Fica tranqüilo que vou criar um projeto para acabar com esta tal lei da gravidade e teu açude vai sair”, afirmou todo cheio de razão o atilado vereador do Morungava.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

MENINA DO MÔNACO

Num ritual tétrico quase que todos os dias pela Rua Leão XIII vem ao centro empurrando um carrinho em busca de papel ou papelão. No peito o sonho como de qualquer outra menina de 8, 9 ou quem sabe 10 anos. Segue na sociedade globalizada e consumista a inversão de valores com a troca de papéis e hoje quem puxa carroça é o ser humano, numa mostra real da existência dos centauros dos pampas... Menina do Mônaco segue sua triste sina, todos os dias busca no centro da cidade papel, papelão e latas de refrigerante ou cerveja para vender por uns míseros centavos o quilo, para comprar pãezinhos a 1,99 o quilo.  Não raro recolhe dos lixos restos de alimentos, um dia excelente é a segunda-feira quando encontra as sobras das festas de domingo, com sorte até pedaços de carne de um churrasco. Menina do Mônaco que como as outras meninas sonha nas vitrines da cidade com aquela boneca... Já sabe ler, apesar das dificuldades junta as letras para ler um folheto encontrado no lixo da Avenida Brasil, onde diz em letras garrafais: Brasil um país de todos! Menina do Mônaco dói no peito o teu sofrer e dói mais ainda  saber que você não é a única... Vestidinho surrado, cabelo preso com borrachinha, segue empurrando a carrocinha em direção ao centro carregando muitas vezes os dois irmãozinhos – um de quatro e outro de seis anos que de forma lírica brincam com as revistas encontradas e se abrigam embaixo de uma lona amarela para fugir do chuvisqueiro da manhã cinzenta e fria de segunda-feira  23 de maio, onde os jornais anunciam que a Festa do Sapato será sucesso, que o Roma quer Damião, que Palocci segue solto e rico (e eu bobalhão continuo trabalhando e acreditando). No centro de Campo Bom os três guerreiros seguem a sua tétrica romaria e não raro disputam com os ratos, cães e gatos as sobras, alías, um dos grandes problemas do Brasil são os gatos.... Tem gato de mais... 
Junto ao lixo de um grande mercado e padaria, desta feita chegam primeiro que os cães e a festa está feita, os olhos brilham ao encontrar os restos de um bolo, retiram as formigas e num ritual poético cantam parabéns a você, numa febril algazarra. Quem estava de aniversário? Não se sabe,  talvez é o velho costume, onde tem bolo tem parabéns a você. Alheios a cena, alguns transeuntes que anestesiados a miséria humana continuam sua rotina, como se a menina do Mônaco e seus irmãos fossem invisíveis. E por falar em bolo, o último que a menina do Mônaco lembra foi feito de bolacha e ki-suco. O pai da menina do Mônaco só tem mais que seu pai, os filhos que tem. Ontem oleiro, depois sapateiro e hoje desempregado, vivendo a margem direita da Leão XIII e por ser direito não rouba, mas esconde as mágoas nos copos de algum boteco da vida. Menina do Mônaco chupa um gomo de cana para enganar a fome, enquanto o pai toma um gole de canha que é para dormir e não pensar. Menina do Mônaco se não tem boneca, sonhar nunca te foi negado... brinca com os raios de sol ou brinca com uma poça d´água... De que adianta sonhar ser um pássaro e acordar assoviando misérias... Menina do Mônaco  segue sua caminhada e eu contristado faço a minha prece de Jó.
*Esta é uma obra de ficção ( será mesmo?) e qualquer semelhança com a vida real terá sido mera coincidência. (Será?)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

EMÍLIO VETTER: 60 ANOS CONSTRUINDO CARÁTER!

No mês de junho de 2011 (18.06),  a Escola Municipal de Ensino Fundamental Emilio Vetter completará seis décadas de existência.... E aí paro e viajo no túnel do tempo retornando ao ano 1974 quando chegamos ao bairro Rio Branco. Minha família formada por colonos perdidos no asfalto veio para Campo Bom em 1969 em busca de dias melhores no Vale que emanava leite e mel. Como milhares de famílias ajudamos a construir a riqueza do Vale do Sapato. Primeiro residíamos na bucólica Rua dos Gringos e depois veio à casa própria na Rua Tapajós no Rio Branco.  Eu e meus sobrinhos crescemos no Morro e ali aprendemos muitas lições sobre a vida, principalmente a da solidariedade e do partir do pão entre amigos. Neste período a escola ficava na Tapajós onde hoje funciona a creche Sempre Viva e o Posto de Saúde. O prédio antigo de madeira durante o dia ficava repleto de crianças em suas algazarras primaveris. Naquele tempo a gente era feliz e não sabia, fora uma dor de dente, um dedão destroncado nos embates futebolístico, tudo era calmo, tranqüilo e límpido como as águas do arroio Quatro Colônias que permeia o bairro. Neste arroio além dos banhos escondidos dos pais, a  gente não raro pescava. E que delicia lambari fritinho ou muitas vezes até uma trairazinha caia no anzol. Tempo bom que se foi e não volta mais. Hoje quase cinquentão (4.7) me pego pensando no “Emilio” e estufo o peito dizendo: que escola! Recordo o primeiro dia de aula, o medo de ficar sem a mãe por algumas horas e aquela angustia do “abandono”, mas tudo compensado pelo sorriso e o carinho da professora Vanéa Algayer que fazia seu estágio. Ainda lembro como se fosse hoje a professora descia de um táxi dirigido pelo seu esposo. Eles moravam em Canudos, porém a professora Vanéa conhecia a realidade sócio econômica e educativa do Morro das Pulgas com maestria, pois era filha do Pacheco que outrora possuíra um salão de baile na Rua Tomé Paz ( bem na frente do Lanche do Claudinho e da Rosí). O salão anos antes de morarmos no Rio Branco havia sido destruído por um incêndio, restando no bairro ainda a Sociedade Esportiva Rio Branco na Andradas com sua cancha de bolão e os famosos carteados (canastra, pife ou pocker). Aos poucos fui me adaptando na escola e descobrindo outro mundo. Por volta das 9 horas da manhã o momento era solene, pois participávamos da hora da merenda... Verdadeiros manjares eram feitos pela dona Ernesta (mãe da Leontina) e depois pela dona Dorciria ali da Santa Lucia (Mãe do Claudinho, da Carmen e da Eliana). Dona Ernesta vinha com um papelzinho e um lápis onde havia a tabuada , batia a porta da sala e avisava: “Crianças hoje é massa com carne moída” ou “ Hoje é sopa de legumes”. Quem desejasse participar da merenda levantava o dedo e dona Ernesta anotava. Depois descobri que para muitos dos meus colegas aquele lanche representava o almoço. Era a merenda da esperança.  E os recreios e as lúdicas brincadeiras de “Lex”, “esconde, esconde”, alguém ainda brinca disso? Caçador? “Ovo Podre está passando ninguém está olhando” E os jogos de carteira? Eram confeccionados espécies de notas tipo dinheiro com carteira de cigarros vazias e com uma telha quebrada jogava-se bem ao estilo do jogo de pinica ou bulita. Mas o bom mesmo para os guris eram as partidas de futebol que não raro terminavam a exemplo dos confrontos entre Brasil e Argentina. Fechava o pau nos clássicos entre a quarta e a terceira série, mas tudo se acalmava quando chegava de forma providencial o árbitro, digo a professora Isolina ou a dona Dorinha que levava uns três de cada time para a secretaria. Aula terminada e os brigões retornavam todos juntos para seus lares, íamos à escola sem qualquer medo da vida! Não havia necessidade de brigar na rua, pois já brigávamos para sobreviver. No meio do ano terminado o estágio a professora Vanéa nos deixou e aí passamos a ter aula com a professora Sally Stoffel que no começo impôs aquele estilo duro para a turma não derrubar a sala, mas com o passar dos anos tivemos a alegria de conviver de forma fraterna com uma das maiores educadoras que Campo Bom já teve. Tive a honra e o privilégio de ter sido aluno da dona Sally durante quatro anos no Emilio Vetter. Dona Sally literalmente amava o magistério e mais do que isto amava as crianças. (Professor que não ama as crianças tem que estar em qualquer lugar menos em sala de aula) Quando este jornalista que sempre detestou matemática (desde pequeno sempre gostei de sopa de letrinhas) apresentou problemas com frações, lembro que numa tarde de inverno, fria e chuvosa de julho, dona Sally bateu a porta de minha casa e passou no turno oposto, sem ganhar hora extra, uma hora tirando minhas dúvidas e auxiliando-me a entender o conteúdo passado pela manhã. Após o café com bolinhos ela seguiu pela Tapajós e foi até outros alunos que também apresentavam problemas semelhantes. Onde será que estão às donas Sallys modernas? Ainda existem?  E os ensaios para o desfile de 7 de setembro? A gente ensaiava pelas ruas ainda de chão batido do bairro de forma garbosa e alegre para fazer bonito na Avenida Brasil. Na metade de 1976 senão me falha a memória deixamos o velho prédio de madeira e fomos para as belíssimas instalações onde ainda hoje funciona o Emilio Vetter.  A obra do prefeito Werner Ricardo Bohrer abrigou alunos e sonhos. Em 1977 conclui minha trajetória pelo glorioso Emilio Vetter. Como tantos outros amigos e amigas do Rio Branco segui meu caminho, mas hoje ainda paro, penso e concluo: muito daquilo que sou devo a Escola Emilio Vetter e a seus professores. Sou um pouquinho da  – Lenira Lessa – Dorinha – Isolina – Vania Blos – Sally Stoffel – Angelica – Carminha Cornelly – Leilane Strunck – Rejane Roth Eloy,  Gessy Blos e outras. Voltando a nossa realidade e a inversão de valores na qual estamos inseridos fico a pensar será que as coisas mudaram mesmo? Ou será que estou ficando velho e piegas?  Naquele tempo no Rio Branco todos se conheciam e havia uma cumplicidade entre as famílias, ou seja, todos se protegiam, se respeitavam ....  Nós éramos as crianças do bairro.  Aos domingos a tarde a gente assistia aos clássicos entre Oriente e 15, ou Oriente e Americano de Canudos ou até mesmo Oriente e 7 de Dois Irmãos... E por falar em craque naqueles tempos os craques do Rio Branco existiam, mas ou jogavam no Guarani ou na Padaria... Craque naquele tempo era sinônimo de futebol e a droga mais temida era a cachaça. Tempos bons.  Quem não recorda das festas promovidas pelo CPM do Emilio para angariar fundos, com meio frango, pescaria, tiro ao alvo e reunião dançante. Como sentenciei anteriormente a escola Emilio Vetter deveria ter a alcunha de “Oficina de Cidadãos”.  Neste educandário os jovens recebiam dos educadores as mais belas e importantes aulas de ética e cidadania; disciplina esta que não estava ainda na grade de matérias. As mestres do Emilio Vetter na minha modesta avaliação foram formadoras de caráter. E agora chegou o momento de assoprar as velinhas deste sexagenário  colégio que ao longo de cinco décadas não perdeu a ternura e continua investindo no maior patrimônio do bairro e porque não dizer de Campo Bom que é justamente as crianças, ou melhor as nossas crianças! E confesso que em muitas oportunidades nas minhas divagações nas quais viajo sem sair do lugar, me pego menino andando pelas ruas do Rio Branco (na época todas de chão batido), com uma  sacolinha de pano branco onde se lia Moinhos Rio- grandense S.A, feita  pela vó Guina na qual havia um lápis, dois ou três cadernos, borracha, apontador e não raro dentro de um saquinho de cristalçúcar uma fatia de pão de milho com chimia e nata e as vezes até uma banana ou um ovo cozido. E não raro esta merenda era repartida com os coleguinhas que como eu às vezes não tinha merenda. No Emilio aprendi a solidariedade. Nesta simples “sacolinha de saquinha” de trigo eu levava mais que cadernos e merenda; carregava um ingrediente fundamental: esperança. Pelas ruas do meu bairro seguia feliz em direção aos Emilio Vetter. Sim porque na minha época todos os caminhos levavam ao Emilio; a nossa “Padaria D’Alma”. Hoje de forma poética e lúdica vislumbro um pouco de mim nos meninos que seguem pela ciclovia em direção a escola que completa 60 anos de puro comprometimento com a educação libertária, contribuindo para a formação do novo homem, um ser protagonista e agente de transformação do meio em que vive! Parabéns  ao atual quadro de educadores, direção, servidores, CPM e alunos, bem como, a todos que estudaram ou trabalharam no Emilio e que hoje se juntam numa só voz a dizer: Parabéns a você!  

terça-feira, 17 de maio de 2011

O PAPA EM MORUNGAVA



E o pior é que tem gente que não acredita quando escrevo sobre Morungava... Estou quase desistindo... Já escrevi de uma festa que fizemos no Morungava?  Na verdade não foi uma festa grande, digamos que foi uma festinha, coisa pequena, para comemorar a vitória do Olívio Dutra (o galo Missioneiro), em 1998 a gente preparou algo bem simples. Foram mais ou menos 20 bois, 14 ovelhas e 350 galinhas.  A churrasqueira foi aberta de retro-escavadeira e tinha 540 metros de comprimento, dois e meio de altura por dois de largura. Como era uma quantidade razoável de carne tivemos dificuldades em espetos, aí surgiu à idéia: derrubamos um capãozinho de camboim, onde depois a Prefeitura construiu cerca de 180 casas populares, mas que fique claro reflorestamos em outra área depois.  Outro problema foi salgar esta quantidade de carne, mas como morungavense não se aperta, compramos todo sal de Gravataí, Cachoerinha, Alvorada, Glorinha e Taquara.  E salgar tudo isto? Foi ai que tio Dino teve a idéia, falou com o Loth que tinha um avião agrícola, colocaram a salmoura e os temperos no tanque e o avião sobrevoa a churrasqueira e em rasantes pulverizou tudo. A festa durou três dias, culminando com um baile no Salão do Anselmo que reuniu tanta gente que a orquestra teve que tocar pelo lado de fora do salão. Sabe aqueles janelões de madeira com tampões? Pois é os músicos abriram e colocaram os instrumentos por ali para animar o baile. O salão lotou tanto que um velho lá do Vira Machado dançando no meio do salão teve um piripaque e morreu, isto por volta das 4 horas da madrugada, mas o corpo só caiu por volta das 6 horas da manhã quando o salão esvaziou.  Ah é bom lembrar que em Morungava antigamente dava muitas brigas nos bailes, inclusive tinha uma placa bem no palco em letras garrafais onde se lia: “Proibido atirar nos músicos”  E para completar a introdução, o valo onde foi feita a churrasqueira encheu de sal e tempero, depois choveu se transformando num Pesque e Pague e por causa do sal tem até peixe do mar!
Pois lá em Morungava teve uma época que tio Dino atuou como taxista, sendo que o ponto ficava ali na faixa perto do Bar e Restaurante do “Antonio “Porão” (Pohren). O tÁxi era um Opalão quatro portas. Corria o ano de 1978 e descobriu-se que de forma secreta o Papa João Paulo II ou Karol Józef Wojtyła que estava no Estado viria a Morungava visitar um parente seu, o polaco Augusto como conhecíamos. Segundo falava-se o  polaco  era primo do Papa e vivia no sopé do Morro do Itacolomi onde plantava bananas, bergamotas, produzia mel e queijos finos que eram vendidos em um hotel famoso da capital.  O bispo articulou para que o Papa fosse levado escondido a Morungava e tio Dino teve a incumbência. Naquele dia  lavou o carro e até aquele cheirinho que comprava no Posto de Gasolina  do Almiro ele colocou.  O vigário de Roma chegou ao sitio de seu parente por volta das 10 da manhã, depois almoçou solicitou que tio Dino o levasse até Porto Alegre, mas alertou num português meio atrapalhado “Vaaaamossss paaara Pooorto Alegreee... Beeeemmmm raaaapiiiido, porqueee estooou atraaasadoooo. Deeixa que eu voou dirigiinnndoooo...”. Tio Dino relutou, mas uma ordem do Papa deve ser cumprida. O velho Dino passou para o banco de trás e o Papa assumiu a direção. Atrasado o vigário de Roma “carcou a muzanga”, “sentou o sarrafo” e o Opalão seguiu em direção a Porto Alegre bem ao estilo do Ayrton Senna, só que mais adiante próximo do Pampa Safari havia uma barreira da Policia Rodoviária que interceptou o táxi. O policial ao verificar o motorista ficou assustado e foi até o rádio e pediu orientação: “Atenção base, copiando QSV... Parei um Opala que estava a 150 por hora, o que faço?”. Do outro lado o superior disse: “Cumpre a lei soldado, multa por excesso de velocidade, entendido?”perguntou e do outro  lado do rádio o soldado afirmou: “Chefe é que é gente importante que vem dentro do carro... Para o senhor ter uma idéia, talvez possa pensar que estou louco ou que bebi, mas chefe é gente muito importante que vem dentro do tÁxi porque o motorista desta pessoa para ter uma idéia é o Papa”.

A SAGA DE UM GURI

Em 2014, às vésperas da Copa do Mundo no Brasil, o guri gremista de 9
anos chega todo eufórico para o jogo contra o São Luiz de Ijuí, pelo
Gauchão, única competição que ele viu seu time ganhar até então. Ao
entrar no estádio ele se dirige ao pai:

- Pai, porque nosso estádio não tem o distintivo do nosso time?
- É porque... bem... deve ser porque o estádio ainda não é nosso, meu
filho... só vai ser nosso quando tu tiveres uns trinta anos.

- Ah, que pena! Por isso que a Copa vai ser no Beira-Rio?
- Não sei direito, deve ser porque na época em que escolheram os
estádios a gente ainda não tinha um.
O menino resolveu então mudar de assunto, pois viu que o pai ficou um
pouco incomodado. Ainda mais entusiasmado, ele comenta:

- Pai... ontem o meu amigo falou sobre uma vitória heróica do nosso
time, uma tal de Batalha dos Aflitos. Como foi isso pai? Foi decisão
do Mundial, da Libertadores, Sulamericana, Brasileiro?
- É... hmm... foi final do Brasileiro, meu filho.

- Legal pai... e contra quem foi? Inter, São Paulo, Flamengo, Santos?
- Não filho... na verdade foi pelo Campeonato Brasileiro da 2ª
divisão, contra o Clube Náutico Capibaribe, de Pernambuco, estado com
grande tradição no futebol brasileiro naquela época. Com isso
conseguimos subir para a Série A pela segunda vez!!

- Segunda vez? Então teve outra Batalha dos Aflitos pai?
- Não filho... na outra vez acho que ficamos em nono ou décimo.

- Ué, mas não sobem só 4?
- É que naquele ano a CBF mudou o regulamento para nos dar uma forcinha.

- Ah tá... - sussurrou o guri, meio cabisbaixo.
Ficou calado por alguns segundos e voltou a questionar o pai:

- Mas o Inter já passou por algum fiasco parecido com esse pai?
Aí o pai se encheu de orgulho, estufou o peito e relatou:

- Filho, tu nem sabe... uma vez eles perderam de dois a zero para um
tal de Mazembe!
- É mesmo pai? Hahahaha. Que legal!!! Foi pela 2ª divisão do Brasileiro também?



- Não filho... foi pela semi-final do Mundial de Clubes da Fifa, em
2010. Era um time do Congo, campeão do continente africano. Naquele
ano o Inter acabou ficando em terceiro ou quarto, nem lembro.
- Bah... que vexame! Nós nunca ficamos em terceiro no Mundial de
Clubes da Fifa, né pai?

- Não filho... na última vez que a gente chegou lá, no século passado,
quando o pai ainda era guri, só jogavam dois times, um europeu e um
sul-americano.
- Mas pai... naquela época o mundo só tinha dois continentes?

- Claro que não meu filho... tinha cinco, como hoje!
- Mas então porque a Fifa não convidava os outros campeões continentais?

- Bem filho... na verdade naquela época não era a Fifa que organizava
o torneio... era uma montadora de carros.
- Ah... então nós fomos vice-campeões de um torneio mundial de dois
times organizado por uma fábrica de carros?

- É filho... na verdade era um torneio Intercontinental, mas a gente
chamava de Mundial... deixa isso prá lá... Olha lá nosso time entrando
em campo!!!
- Pai... eu queria um argumento para zoar os meus colegas colorados,
mas não consigo. Eles têm mais sócios, nos venceram mais vezes, têm
estádio próprio e já ganharam todos os títulos importantes que nós já
ganhamos. Como eu posso tirar sarro deles então?

- Ah... sei lá... diz que ganhamos o primeiro Gre-nal por 10 a 0.
- Isso... legal pai... pelo menos tenho uma coisa para falar!!! Tu
chegaste a ver esse jogo pai?

- Não filho... mas o pai do teu bisavô viu!
Depois dessa o guri resolveu ficar quieto, assistiu o jogo e no final
saiu vibrando com a conquista de uma vaga para a final do Gauchão,
pois desde pequeno se acostumou a ver o pai comemorando vagas ao invés
de títulos.

Provérbio Italiano: "O Rato do Rei de Roma, roeu a luva do rei do Rio"

PROFESSOR: O FAROL NA TRAVESSIA

Acredito naquilo que pregava Leonel Brizola, Darci Ribeiro que afirmavam que a educação é o caminho para nos tirar do atoleiro. Nosso país nos últimos anos apresentou avanços na educação. Os programas implantados pelo governo Lula oportunizaram acesso aos filhos dos trabalhadores a faculdade, ou seja, a formação acadêmica se tornou possível aos pobres e com isto avançamos, mas ainda é pouco. A gente quer mais e que mais! Mas se a educação avançou porque o ser humano se encontra tão violento? Nunca a sociedade viveu uma crise de valores tão grande. O mundo em que vivemos oportuniza distorções absurdas como, por exemplo: o planeta parar para assistir um “casamento” de um pseudo príncipe da Inglaterra. Tem lógica?  A luta desenfreada para conquistar bens materiais faz a gente esquecer que é humano. A sociedade vem gerando doentes terríveis e muitos não agüentam o rojão e acabam pegando uma arma e muitas vezes cometendo atrocidades terríveis. Regras são ditadas pelo consumismo e estão levando pessoas a loucura. Por falar em loucura o que é loucura? Quem determinou os parâmetros da loucura? Num hospital psiquiátrico da capital havia uma frase no muro: “Aqui nem todos que estão são e nem todos os são estão” O consumismo gera pessoas tensas, doentes ao ponto de um pai quem sabe viciado em trabalho esquecer o seu bem mais precioso (uma filhinha de sete meses), dentro de um carro no estacionamento. Particularmente tenho uma opinião sobre esta crise de valores. Primeiro: tudo começa na família, mas passa pela escola, pois estas instituições tem falhado. As famílias passam lutas para sobreviver e aos poucos deixaram os filhos aos cuidados da escola, quando a primeira escola inicia no lar. Hoje os pais chegam até a escola e dizem: “Cuidem de meu filho. Façam dele um vencedor”. A estrutura educacional está errada, pois premia os melhores alunos e senão vejamos: para ter um vencedor é preciso que exista um perdedor. O sucesso pelo sucesso está asfixiando o prazer e a singeleza de viver. A loucura de ser sempre o número um, criada pelo sistema e desenvolvida nas escolas, para servir as empresas ali adiante é insana. È possível sim ser digno, sendo o quinto, sexto ou décimo. Tudo vale à pena se a alma não é pequena, sentenciou Fernando Pessoa, poeta português. Vivemos um período de avanços tecnológicos fenomenais, mas por outro lado nunca se gerou tantos distúrbios emocionais.  Veja bem, o pedido dos pais deveria ser: “Faça do meu filho, um homem de bem”. A bem da verdade as duas instituições não recebem dos governos a atenção necessária. (Formar pensadores é perigoso para o sistema, pensar é perigoso já se dizia isto em 1964 - cruz credo, bate na madeira!) Sempre defendi a criação de secretarias da Família (município e estado) e um Ministério da Família para desenvolver políticas especificas. Outro ponto importante para exacerbar a crise que vivemos: quando a escola tirou a Bíblia, ou melhor expulsou Deus  de dentro da sala de aula pagamos um preço altíssimo. A escola atual segue um modelo ultrapassado, onde forma repetidores de informação e não livres pensadores capazes de mudar o meio em que vive pelo questionamento. A sociedade é hipócrita e vem pagando um preço alto demais por formar seres agressivos que depois os exclui do seu interior como lixo como se jamais tivessem pertencido a ela. O educador tem papel importante na formação de seres humanos na essência da palavra. Quem apenas investe nos jovens que lhe dão retorno não é digno de ser chamado de professor. Um excelente professor abraça os alienados, atrai os que o decepcionam, cativa os rebeldes e aposta nos fracos que erram com freqüência. O verdadeiro professor aposta naqueles em quem ninguém mais acredita. O modelo de educação vigente é o modelo americanizado que está a serviço da indústria de consumo e do domínio. Hoje as crianças não querem mais brincar de bulita, carrinho de lomba, boneca de  sabugo de milho ( tá louco o negócio é a Barbie do Tio San, ah e não pode ser de camelô, tem que ser aquela que é igual, mas é bem cara, porque a amiguinha também tem), bilboquê, jogar taco, fazer carrinho com carretel de linha, nem mesmo fazer rolos com latas de leite e arame, lembra? Não, tem que ser o brinquedo eletrônico e o mais caro. As meninas e meninos não vestem mais roupas simples, a novela é quem dita o que vão usar como roupas e calçados, mas e na cabeça?  O modelo educacional está falido, pois paga mal os professores é ditatorial em certos níveis, porque ainda hoje não existe eleição direta para diretores de escolas municipais. Os prédios das escolas lembram presídios ou hospitais. Os alunos não sentem prazer de estar na escola. A escola deveria ser um espaço tão agradável que os alunos e pais exigiram que a mesma estivesse aberta nos finais de semana para uma grande integração, com oficinas, com a troca de experiências e vivencias lúdicas. No entanto os pais nem nas reuniões vão, por quê? O modelo é equivocado e não é atraente.  Você ainda acredita num modelo de escola onde os alunos sentam um atrás do outro? A nova escola precisa surgir a partir da indignação e do sentimento de romper paradigmas. O professor precisa ter em mente que o cérebro não tem por objetivo funcionar como um deposito de informações, mas como suporte para a criatividade, um canteiro de idéias. É possível dar nota máxima para quem errou todos os dados, mas infelizmente o atual modelo faz com que as provas não possam medir estas qualidades. Hoje mais de 90% do que é ensinado em sala de aula não tem utilidade alguma. A ditadura da resposta pronta na educação assassinou a arte da pergunta; do questionamento.  A escola vem estressando alunos e professores com excesso de dados e informações. Os grandes gênios da humanidade – Sócrates, Platão, Einstein,  tinham bem menos informações  que a maioria dos profissionais que hoje os idolatram. Por que tiveram sucesso? Não porque tiraram as melhores notas, nem porque a memória era superavantajada, mas sim porque foram insurgentes, indignados, intuitivos, não tinham medo de correr riscos e não eram mentes engessadas.  Caro professor humanize a sala de aula. Façam de suas aulas uma festa; uma sinfonia de amor e culto a vida! Subvertam um pouco o conteúdo programático (assista com seus alunos: Patch Adams – O amor é contagioso) Feche um pouco o livro didático e abra o livro de suas próprias histórias, fale de si mesmo para seus alunos e aí você estará contribuindo para formar pensadores humanistas e não repetidores de informações. Não esqueça meu caríssimo professor que a travessia é mais importante que a chegada e lembre-se sempre: o que mata a sede não é o copo e sim a água! Não sei se disse, mas tentei!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

FIGUEIREDO ERA UM BURRO!

Através do nosso Blog (http://cronicasdojair.blogspot.com/), espaço organizado de forma hábil, profissional e talentosa pelo Mago da editoração eletrônica Claudio Cunha, um leitor, aliás, convido você a visitar este Blog e verificar os conteúdos e opinar, interagir junto ao mesmo. Pois um leitor perguntou se Morungava existia, se era Vila e onde ficava. Por favor, quem não conhece Morungava não conhece o Rio Grande. Tenho saudades deste recanto bucólico a paradisíaco. Não vou a Morungava como deveria e como gostaria, mas meu projeto é retornar em definitivo ao solo morungavense para o descanso final, ou seja, no dia em que “bater a caçuleta”, “bater as botas”, “morar na cidade dos pés juntos”, mas isto acredito que deva ser daqui uns 65 anos, mais ou menos. Pretendo ficar ali na cerca do cemitério, na beira da estrada, próximo daquela frondosa figueira. No meu túmulo não quero flores de plástico. Por favor, exagerem nas flores naturais até para atrair os passarinhos e o fundamental, na lápide a seguinte inscrição: “Aqui neste local muito contra vontade, um jornalista e contador de causos". Mas vamos ao que interessa, lá pelos anos 70 visitávamos muito o sitio do tio Dino, onde nos deliciávamos com as broas de milho quente com nata feitas pela tia Miúda, além das carnes de panela, pirão com farinha de mandioca com pedaços de costelas bovinas. Outra especialidade da tia Miúda eram os apetitosos “bijus”, que delícia. Muitas vezes ficávamos as férias inteiras no sitio. Tomávamos banho pelados na lagoa, a noite ficávamos pescando contemplando as estrelas, bem como descíamos de carro de lomba colina abaixo, e muitas vezes derrubávamos as lixiguanas dos canto da casa, ou como dizia Rubão do Rio Branco “as bichiguanas”, com uma taquara com um pano na ponta ensopado de querosene e que o negro Jesuino ajudante do meu tio teimava em dizer “Corosena”. Tio Dino tinha um burro chamado “Figueiredo”, nada a ver com o “ex-presidente ditador”, que por sinal afirmou que gostava mais de cavalos do que de gente! Ninguém sabe a origem do nome do burro, pois meu tio comprou o mesmo de um colono lá do “Cantão dos Guilhermes” em Santo Antônio da Patrulha e o bicho já tinha sido batizado de Figueiredo. Só que com o passar dos tempos o burro foi ficando velho, cansado e doente. Para trazer o Figueiredo até o pátio do sítio precisava de três pessoas, um para puxar e dois para empurrar. Naquela época aparecia muito por aquelas paragens os carreteiros vindos de Santo Antônio da Patrulha trazendo ovos, melado, rapaduras, galinhas, porcos, milho, feijão, tamancos e outros produtos. Não raro pernoitavam no sítio do tio Dino, onde se instalavam no galpão e seguiam para Taquara ou Gravataí na manhã seguinte. Também andavam por Morungava os “mascates” que vendiam espelhos, perfumes, loção de Lancaster, brilhantina, xampu (aqueles em pequenos saquinhos tipo mel, lembra?), sombrinhas, roupas, cuecas, calcinhas, fontol, lacto purga, olina (e até pôster do colorado) e outras muambas. Quem também aparecia por lá eram os ciganos vendendo panelas que não podiam ser ariadas com esfregão de aço, pois furavam, cobertores e não obstante tentavam ler a “suerte” de algum incauto de mão aberta. Um dia estávamos sentados na frente da casa e avistamos um grupo de ciganos lá na estrada do Passo da Caveira, isto distante uns dois quilômetros e aí tio Dino observou: “Hoje nós vamos vender o burro Figueiredo para os ciganos, mas preciso da ajuda de vocês gurizada” afirmou olhando para mim e para os primos. “Quando eu falar em vender o burro vocês começam a chorar”. A ciganada chegou numa caminhonete veraneio cinza escoltada pelo Peri e a guaipecada toda. O cigano velho sorriu mostrando quatro dentes de ouro e tentou fazer negócio. Depois de comprar um cobertor e duas panelas, tio Dino propôs a venda do Figueiredo.  Ofereceu o burro Figueiredo por  mil e duzentos cruzeiros (no dinheiro de hoje como diz o Paulo Pança, equivaleria a uns R$ 800,00). O cigano ofereceu 600 mil cruzeiros em dinheiro e o restante em panelas, cobertores, chaleiras, fronhas e lençóis. Tio Dino valorizou o negócio e afirmou: “Olha vou me desfazer do Figueiredo pela necessidade, porque o bicho além de bom no serviço é como se fosse da família”, falou com a voz embargada. E nisto chamou a gente: “Gurizada vão até o galpão e tragam o Figueiredo”  Trouxemos o burro e aí começamos o teatro. A gente desandou a chorar e este escriba disse: “Tio não venda o Figueiredo, onde é que vamos arrumar um animal que trabalhe tanto como ele e seja tão bonzinho?”. Meus primos chegaram exagerar e rolavam no chão de tanto chorar. Duas horas depois os ciganos seguiram estrada a fora levando o Figueiredo na veraneio. Duas semanas depois a gente estava carregando uma carreta de pasto e avistamos o grupo de ciganos vindo em direção ao sitio. Corremos para avisar tio Dino que já esperou os ciganos com a “Isolina” na mão. A Isolina era uma espingarda herdada do pai da tia Miúda e havia participado da revolução de 23 e segundo tio Dino, a Isolina tinha arriado muitos gaudérios de lenço branco nesta escaramuça. Quando o cigano dos dentes de ouro chegou à frente da porta da casa, tio Dino saltou para fora com cara mais brava que nenê cagado e foi logo dizendo: “Olha cigano aqui no Morungava  não se desfaz negócio. Não devolvo o dinheiro nem a mercadoria”. O cigano de forma calma e com medo logo observou: “Olha eu não vim desfazer o negócio com o senhor, só queria que me alugasse as crianças por uma tarde, para chorarem lá na cidade, para ver se eu encontrou um bobalhão que nem eu para comprar este burro”. É claro que tio Dino não permitiu e botou os ciganos a correr campo fora.  No centro de Morungava os ciganos num ato de protesto abandonaram o Figueiredo na frente da Prefeitura. O bicho chorava dia e noite próximo ao centro administrativo. Cansado o prefeito mandou colocar o burro dentro de um caminhão e pessoalmente se deslocou junto com o motorista e devolveu o Figueiredo ao tio Dino, destacando: “Trouxe o burro de volta para o senhor seu Dino porque o burro grita tanto na frente da Prefeitura que está atrapalhando os lá de dentro de trabalhar”.
Um forte abraço aos amigos da Loja 15 da Ortobom que são assíduos leitores de nossas crônicas. Sucesso para vocês e muitas vendas.

terça-feira, 10 de maio de 2011

100% MORUNGAVA

Nas bucólicas paragens de Morungava você sente o convívio fraterno entre homem e natureza. Já escrevi que em Morungava dificilmente alguém morre de problemas cardíacos, de derrame ou tão pouco alguém sofre de depressão. Morungava é lugar para ser feliz e viver. Sítios lindíssimos, cachoeiras, estradas vicinais com as laterais ornamentadas por flores do campo, tudo tendo como pano de fundo o morro do Itacolomi. Em Morungava ninguém tem pressa e após o almoço a “ciesta” até as 15 horas é certa. Êta  lugarzinho bom de se viver! E lá nesta terra encantada é que vivia o tio Dino com suas histórias fantásticas e todas verdadeiras. No sítio do tio Dino havia um açude pequeno que para atravessar de caico levava mais ou menos umas duas horas. Nesta região viveram num passado distante os índios que eram denominados de “bugres” e por lá muitas lendas são contadas. A cultura popular definiu muitas crendices que fazem parte do folclore. Inclusive este açude nas terras de tio Dino afirmavam os antigos que a noite se via uma embarcação fantasma. Como todos sabem meu tio era exímio pescador e numa de suas pescarias as margens do açude do tio Gomerço como é conhecido até hoje, o velho Dino todo apetrechado, mais faceiro que ganso novo na beira de taipa de açude, preparou a pescaria juntamente com seu amigo de pescaria, o velho Ancelmo. Depois de muitas horas ali naquele ritual de pesca, sentados a beira do barranco, tio Dino juntava estrume de vaca para manter acesa a fogueirinha espantando assim os pernilongos. Ancelmo sentiu que o peixe fisgou o anzol quase com chumbada e tudo e prendeu o grito “Dino corre cá... Home vem ver o que eu pesquei”. Para surpresa do seu Ancelmo havia uma traira com dois dentes de ouro. Metódico e sem ser assustado, tio Dino sentenciou: “Solta ela Ancelmo” O que foi repudiado pelo amigo “Tu tá louco são dois dentes de ouro”. Olhar atento, tio Dino pigarreou e lascou: “Outro dia eu pesquei esta traíra e ela tinha só um dente de ouro. Solta a bichinha que daqui um tempo todos os dentes serão de ouro e aí a gente tá rico Ancelmo”.  Em Morungava ninguém rasga dinheiro e pensando um pouco seu Ancelmo resolveu soltar a traíra nas águas do açude. Após o jantar, a base de carne de panela, feijão mexido, salada de tomate e cebola, os amigos sentaram novamente na barranca, degustando um café de cambona, enquanto preparavam as iscas.  Foi aí que tio Dino sentiu um puxão na linha e pela força o bicho era grande. Depois de na “manha do ganso”, cansar o peixe, tio Dino foi puxando lentamente e aí é que consiste o prazer da pescaria. Para surpresa da dupla, pescaram outra traíra. Imediatamente foram até a boca do peixe e verificaram que não havia nenhum dente de ouro neste peixe. Retirado o anzol ao colocarem a traíra no balaio o inusitado aconteceu, para surpresa dos dois, a traira falou: “Não me mata não, pois eu sou o dentista deste açude” Imediatamente tio Dino e seu Ancelmo devolveram o peixe odontólogo ao seu habitat natural.  Certa feita numa pescaria no banhado do Chico Lumã, tio Dino e seus dois parceiros enfrentaram um temporal e acabaram perdendo as iscas. Como todo morungavense não se aperta, tio Dino pediu uma caneta para o Ismael e de posse de um papel escreveu: Isca. Todos ali boquiabertos não acreditando aguardavam o desfecho. Anzol com o papel escrito isca é jogado na água e poucos minutos um puxão assinalava que um peixe  havia fisgado a isca virtual do tio Dino. Depois de mais três tentativas exitosas, novamente um puxão na linha e para surpresa de tio Dino havia um bilhete no anzol escrito: peixe!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

FIAT 147 ANDANDO A 240 POR HORA



Sabe a filosofia de pára-choque de caminhão? Tem muita bobagem, mas têm algumas muito interessantes....Outro dia na fatídica BR 116 e seu caos contundente,  contemplei em um caminhão a seguinte frase: “Ter ciúme mulher feia é o mesmo que colocar alarme em Fiat 147”, pois  este veículo fazia um grande sucesso e lá pelos anos 80 na bucólica Morungava , tio Dino comprou um destes bólidos de segunda mão. Na transação entrou três ovelhas, uma novilha e um saco de feijão preto! De posse do Fiat vermelho, o qual foi apelidado de “vermelhão”, tio Dino aos domingos pela manhã se deslocava para a missa com a tia Miúda e a tarde assistia as partidas do Morungava conduzido pelo “vermelhão”.  Aliás, quero deixar claro para os meus amigos que ficam tirando sarro que não sabem onde fica Morungava, faço minhas as palavras do poeta João Chagas Leite (é claro que é uma adaptação a minha realidade). “Quem segue o rastro do sol sempre chega a Morungava....Pois não conhece o Rio Grande quem não foi a  Morungava”. Hoje o nosso território não é grande, mas já foi grande por demais... Vocês conhecem Gravataí? Cachoerinha? Alvorada? Glorinha? Tudo faz parte da grande Morungava. Na verdade Morungava iniciava  próximo ao Chuí e seu limite final era na Praia dos Ingleses, depois começaram as emancipações...   Mas voltando ao tio Dino, os anos passaram e o Fiat foi ficando velho, faltava manutenção, sabe como é carro velho, sempre é sinônimo de problema, como todo morungavense, “invocado”, não enfesado, porque enfesado é alguém cheio de fezes (empatado, constipado), tio Dino tomou uma resolução drástica, colocou um cartaz no Fiat onde dizia “Doa-se este carro”. O vermelhão ficou ali seis meses na frente da porteira do sítio e ninguém se habilitava. Numa noite de inverno, tia Miúda ouviu o Peri latindo e imediatamente acordou o tio Dino e avisou: “Olha Arcedino tem ladrão querendo roubar o vermelhão”. Cauteloso tio Dino em voz baixa disse: “Miúda não faz barulho para não atrapalhar o trabalho dos guris, vai que eles se assustam e desistem... Deixa” O velho Dino foi dormir tranqüilo, mas às 5 horas tia Miúda o acorda e grita: “Dino vem ver o que aconteceu” Para surpresa do tio havia outro Fiat 147, só que preto na frente de casa e com um cartaz  “Quem doa um, doa dois”. Um determinado dia tio Dino precisava ir a Taquara fazer um negócio, pegou o amarelão que saiu tossindo e dando tiros estrada a fora, assustando os lagartos e cobras. Ao adentrar na faixa  o amarelão parou e tio Dino ficou ali a espera de ajuda e não demorou muito , um jovem pilotando uma Ferrari parou e ofereceu ajuda. Tio Dino agradeceu e pediu ao jovem se seria possível rebocá-lo até uma oficina que ficava distante uns 22 quilômetros. O rapaz gentilmente atendeu ao pedido.  Munidos de corda, tio Dino amarrou o amarelão na traseira da Ferrari, mas alertou: “Olha tu não anda muito ligeiro senão o carro se desmancha”. O jovem combinou que quando estivesse andando ligeiro demais, meu tio acionaria os faróis dando sinal (os faróis não, só o direito, pois o esquerdo estava queimado). Estrada a fora andando a 40 por horas seguia a Ferrari e o vermelhão, mas o motorista apertou um pouco e andou a 70 e imediatamente tio Dino começou a acionar o farol, apontando o perigo. Velocidade reduzida tudo seguia bem até que um Porche de luxo encostou ao lado da Ferrari e o motorista desafiou o jovem piloto da Ferrari para um pega e não deu outra, o guri atolou o pé, 70, 80, 100, 150, 200 e 240 quilômetros por hora. Escondido atrás de uma árvore um azulzinho com um “secador de cabelos” ou caça níqueis da indústria de multas, detectou na batata 240 quilômetros horários. Imediatamente o guardinha de posse do rádio fez contato com a barreira disposta a cerca de cinco quilômetros a frente “Atenção base chamando... Copiando.... QSV,  Chefe  tem uma Ferrari e um Porche lado a lado fazendo pega se deslocando para ai, os dois passaram aqui a 240 quilômetros por hora e o senhor não vai acreditar, mas eu juro pela minha mãe, tinha um Fiat 147 vermelho grudado nos dois e dando sinal de luz para ultrapassar...”

quarta-feira, 4 de maio de 2011

NÃO FAÇA CHECK UP

Ouvi certa feita de um amigo que é médico a seguinte frase: “Um paciente depois dos 45 anos que examinado e o médico não encontra nada é porque não foi bem examinado”. Claro que se tratava de uma gozação para cima de mim que estou com 47 anos.  Na verdade cheguei à conclusão e divido com os amigos: não façam check up, este negócio causa doenças.  Ao consultar em função de uma bursite de quadril, o médico muito interessado prescreveu uma bateria de exames e aí começaram meus problemas. Até os exames minha vida transcorria de maneira tranqüila; sem contratempos. De posse dos exames fiquei assustado.  O PSA apontou que a próstata está bem, função renal beleza pura. A glicose está uma jóia, sem problemas, porém o colesterol apresentou um aumento acima da média, mas o principal problema segundo o doutor é o famigerado triglicerídeos que está muito alto. O meu mundo caiu quando o médico começou a lista de alimentos que não posso comer... Não ao cacetinho (comia uns cinco numa sentada com maionese, mortadela, queijo, mostarda e outros ingredientes). Não as massas, não as carnes vermelhas, não aos refrigerantes, não aos doces (adeus ao leite moça, chocolates, balas, tortas, quindins, bolachas). O médico ainda afirmou que eu preciso perder no mínimo 6 quilos até aí tudo bem. Já contratei um sujeito para caminhar por mim na ciclovia, mas não tenho notado diferença no peso (meu), aliás, caminhar ou correr na ciclovia é gol contra. Pode observar: a ciclovia engorda as pessoas, senão pare e analise, tu só vê gordo caminhando na ciclovia. Moral – a ciclovia engorda! Larguei! Não obstante fiz uma descoberta tremenda, a causa das pessoas engordarem pode estar no banheiro. O xampu é um inimigo implacável, ainda bem que li o rótulo do xampu usado lá em casa que dizia: para encorpar e dar volume. Agora só estou lavando a cabeça com sabão gaúcho, porque limpa profundamente a gordura localizada. Depois dos exames e da conversa com o médico comecei a me sentir mal. Em aniversários só poderei ir para levar presente e cantar parabéns a você. Nunca mais pasteizinhos, refrigerante, negrinho, branquinho e as demais iguarias...  O médico disse que daqui a noventa dias devo voltar ao consultório para novos exames. Não tenho outra alternativa, porque já estou engatado, mas você que ainda não fez estes exames, não faça, eles vão achar algum problema em você. Mas seguindo os preceitos médicos passei a ingerir a noite após a janta um comprimido chamado “sinvastatina”, depois de usar este comprimido passei a sentir cansaço, dor de cabeça, no estômago (mas segundo o médico não é do comprimido), e para completar o quadro fiquei com o dedão do pé como uma batata. Sabe quando tu, jogando bola destronca o dedão? É a mesma dor. Voltei ao médico devido a terrível dor que na verdade é uma mistura de dor de dente com dor de ouvido, uma dor “latejante”; para não dizer lancinante que só com diclofenaco 75 mg ( injeção) passava. Para minha surpresa o médico disse que se tratava de uma crise de “Gota”.... Receitou “Aropurinol”, não é urinol, se bem que a dor era tanta que eu quase me... (sic) e um anti-inflamatório; “Ibuprufeno” e para completar o médico deu a estocada final neste réles mortal: não posso comer feijão e mais uma série de alimentos. Só posso comer alface e tomar água, mas não é recomendado usar os dois ao mesmo tempo! Decidi: não vou mais aparecer neste médico, pois daqui a pouco ele vai proibir a alface... Socorro...eu quero a minha mãe! O bom quando tu está doente são os amigos que dão apoio e te motivam... O Henrique do Studio André, afirmou: “Que bom que é gota, pior se fosse um balde cheio”, já um amigo lá das bandas de Morungava me animou: “Olha nem adianta remédio, esta doença não tem cura. È uma doença conhecida como “caruncho” nos ossos e dá muito nas vacas e bois em Morungava” Tu vê o que faz o estudo ( e a mãe vai bem?) Um conhecido me disse de forma animadora: “Não adianta eu tive uma crise e senti dores por três meses”. E pensar que em meados de abril eu era um ser humano saudável, feliz que jogava com a 10 no Guarani e até uns golzinhos metia de vez em quando! Tudo por causa do tal check up que inventei de fazer! Nestes últimos dias me senti literalmente como o personagem da música do Xirú Missioneiro “Corpo Esgualepado”.  Mas quero dizer para vocês: vai passar e não “podemos se entregar pros home”, mas já decidi, não vou tentar emagrecer, porque pegue o exemplo da baleia, passa o dia inteiro nadando, só come peixes e é uma baleia! Outro ponto, todo avião tem pneuzinhos, não tem?  Nos próximos dias darei noticias, mas volto a dizer, não faça como eu evite este tal check up, isto é um perigo e que nem manotaço de égua redomona!

*Brincadeiras a parte, os exames são importantes, pois detectam problemas precoces. No meu caso mesmo cuidando da alimentação e não sentindo absolutamente nada, estava com problemas de colesterol e triglicerídeos. Você que tem mais de 40 anos deve fazer um check Up, procure um posto de saúde e peça o encaminhamento pelos SUS (é tudo gratuito). O Dr. Luchese costuma dizer: “As mulheres são tão doentinhas, mas os homens são mais morredores”, tudo porque o homem não cuida da saúde, o contrário das mulheres. Pense nisso.